Um golo solitário de Andrés Iniesta selou há 10 anos uma conquista inédita do Mundial de futebol pela Espanha, intercalada com dois títulos continentais, num palmarés que notabilizou a imponente ‘geração de ouro’ do país vizinho.

No estádio Soccer City, em Joanesburgo, o maior núcleo urbano da África do Sul, o então jogador do FC Barcelona tornou-se herói nacional em 11 de julho de 2010, ao isolar-se graças à visão periférica de Cesc Fàbregas para bater o guarda-redes Maarten Stekelenburg a quatro minutos do fim do prolongamento da final sobre os Países Baixos.

O triunfo na nação de Nelson Mandela fixou a ‘roja’ como a oitava e última seleção a arrecadar um Campeonato do Mundo e confirmou o talento de uma geração que tinha conquistado o Europeu dois anos antes, na Áustria e na Suíça, com o avançado Fernando Torres a decidir o encontro decisivo frente à Alemanha (1-0).

Apesar da mudança técnica de Luis Aragonés por Vicente del Bosque logo após a final de Viena, no núcleo duro permaneceram o guarda-redes Iker Casillas, os defesas Carles Puyol, Sergio Ramos e Joan Capdevila, os médios Xabi Alonso, Xavi Hernández, Andrés Iniesta, David Silva e Cesc Fàbregas ou os avançados Fernando Torres e David Villa.

De 2008 para 2010, a experiência de Carlos Marchena e Marcos Senna e Daniel Güiza deu lugar à juventude de Gerard Piqué, Sergio Busquets e Pedro Rodríguez, sem abalar as rotinas do ‘tiki taka’, estilo decalcado do FC Barcelona de Pep Guardiola e celebrizado por trocas posicionais e amplo domínio da posse de bola para transpor os adversários.

A filosofia de toque curto ajudou a Espanha a dominar o futebol à escala europeia e planetária, como atestaram as conquistas de seis Ligas dos Campeões, seis Ligas Europa, oito Supertaças Europeias e seis Campeonatos do Mundo de clubes, além dos Europeus de seleções de 2008 e 2012 e do Mundial2010, cuja estreia foi periclitante.

Inserida no lote de favoritos, a ‘roja’ foi surpreendida em Durban pela frieza suíça e sucumbiu ao tento de Gelson Fernandes (0-1), em 16 de junho, recuperando cinco dias mais tarde, com um ‘bis’ de David Villa sobre as Honduras (2-0), em Joanesburgo, que deixou contas por acertar na derradeira jornada do grupo H frente ao Chile.

Em Pretória, Villa e Iniesta festejaram antes do intervalo e Rodrigo Millar ‘descontou’ no início do segundo tempo, sem beliscar novo triunfo dos pupilos de Vicente del Bosque, que passaram aos oitavos de final na liderança da série, com os mesmos seis pontos dos chilenos e um golo à maior, evitando o cruzamento imediato com o pentacampeão Brasil.

Era a hora do desafio ibérico na Cidade do Cabo, resolvido com um golo polémico de David Villa (1-0), em alegado fora de jogo, para desalento de Portugal, numa receita replicada quatro dias depois frente ao Paraguai, em Joanesburgo, onde Casillas travou um penálti do avançado benfiquista Óscar Cardozo e ‘El Guaje’ faturou aos 83 minutos.

De regresso a Durban, em 07 de julho, a Espanha repetiu a proeza de 2008 com uma cabeçada de Carles Puyol (1-0), desenhando uma final totalmente europeia com os Países Baixos, que obtiveram um pleno de vitórias no grupo E sobre Dinamarca (2-0), Japão (1-0) e Camarões (2-1) e afastaram Eslováquia (2-1), Brasil (2-1) e Uruguai (3-2).

Imunes ao desconcertante ruído das vuvuzelas, corneta de som intenso frequente em recintos sul-africanos, os holandeses responderam com dureza à iniciativa da ‘roja’, resvalando para a final mais acidentada da história dos Mundiais, assente nos 14 cartões amarelos e um vermelho exibidos pelo árbitro inglês Howard Webb durante 120 minutos.

Arjen Robben falhou na cara de Iker Casillas à hora de jogo e John Heitinga foi expulso em tempo extra, impelindo um final enérgico do país vizinho, coroado com o pontapé de Andrés Iniesta, que afugentou 80 anos de frustrações e ficou perpetuado pela dedicatória ao amigo Dani Jarque, ex-jogador do Espanyol, falecido em agosto de 2009.