Governo rejeita voltar a parar o país mas admite confinamentos locais

O Governo descarta o regresso ao passado, em que o país parou. O conhecimento, quase porta-a-porta, da situação epidemiológica atual pode levar as autoridades de saúde a optarem por confinamentos locais, como sucede, por exemplo, em alguns bairros da capital espanhola.

Em março, o país fechou-se com medo da covid-19, vergado ao desconhecido. “Estávamos numa fase em que, de alguma forma, podíamos suportar, até sob o ponto de vista social e psicológico, medidas mais restritivas”, recordou a ministra da Saúde, Marta Temido, descartando voltar atrás, a esse tempo de portas fechadas e ruas vazias.

“Já percebemos que o confinamento tem uma eficácia menos importante do que no passado”, acrescentou a ministra, em entrevista ao “Telejornal” da RTP, na segunda-feira à noite. “Hoje todos os países estão a tentar afastar-se dessa linha, independentemente de localmente poder haver medias cirúrgicas”, como as adotadas em Espanha.

A região de Madrid decidiu restringiu, desde segunda-feira, a liberdade de movimentos a mais de 850 mil pessoas, 13% do total de habitantes, de zonas da cidade onde houve um grande aumento dos contágios de covid-19. A população afetada poderá sair do bairro para ir trabalhar, ao médico ou levar os seus filhos à escola, e o número de pessoas que se podem reunir é reduzido de 10 para 6.

No dia em que foi apresentado o Plano da Saúde para o outono-inverno de 2020-21, a ministra da Saúde destacou a pertinência do mapa de risco epidemiológico, que consta no documento elaborado pela DGS. “Isso é muito importante. Em algumas regiões do país, já conseguimos dizer qual é o risco quase porta-a-porta. Isso permite uma atuação mais incisiva e mais eficaz da saúde pública, da segurança social, das forças de segurança”, explicou.

Uma razão mais para o otimismo da ministra. “Enfrentamos esta fase com confiança. Temos mais meios, mais recursos humanos e técnicos, mais organização e mais conhecimento”, disse Marta Temida.

“Temos neste momento mais 700 ventiladores do que tínhamos em março”, revelou a ministra, reportando, ainda, o aumento na capacidade de testagem, defendida como um dos vetores importantes do Plano de Saúde para o outono-inverno de 2020-21. “Em termos de capacidade laboratorial fazíamos cerca de três mil testes por dia em março e agora temos feito 23 mil testes por dia”, disse.

O SNS tem 21 mil camas de internamento, sete mil na Região de Lisboa e Vale do Tejo “Das 500 camas que a Região de Lisboa e Vale do Tejo tem guardadas – entre aspas – nesta fase para resposta à covid, neste momento estão ocupadas 300”, referiu a ministra. “São 300 das 500 que fazem parte das sete mil”, sublinhou, referindo que a vantagem do SNS “é trabalhar em rede” e que se for preciso consegue mobilizar mais camas, até do privado.

Ainda nesta entrevista, Marta Temido reconheceu que a Linha de Saúde SNS 24 nem sempre atende o telefone, e admitiu que isso se deve em grande parte a um problema com as redes telefónicas. “Estamos a tentar resolver, a investir na modernização tecnológica”, afirmou, destacando que está a ser feito “o reforço das linhas telefónicas e da capacidade de atendimento”.