O Fundo Monetário Internacional (FMI) considera que a pandemia de covid-19 “reverterá os progressos feitos desde os anos 1990” em termos de redução de pobreza, e aumentará a “desigualdade”, segundo as Previsões Económicas Mundiais hoje divulgadas.
“A pandemia vai reverter o progresso feito desde os anos 1990 em termos de redução da pobreza mundial e vai aumentar a desigualdade”, pode ler-se no documento hoje divulgado pela instituição financeira internacional.
Segundo o FMI, depois de uma recuperação dos efeitos da pandemia em 2021, “o crescimento mundial deverá abrandar gradualmente para cerca de 3,5% no médio prazo”, numa assunção que compara com o crescimento projetado antes da pandemia para o período 2020-2025.
A pandemia foi “um revés significativo para a melhoria esperada no nível médio de vida em todos os grupos de países”, tanto economias desenvolvidas como em desenvolvimento, afirma o FMI.
A instituição assinala que “as pessoas que dependem do seu salário diário e estão fora das redes de apoio formais enfrentaram perdas de rendimento súbitas quando foram impostas restrições à mobilidade”, incluindo os trabalhadores migrantes.
O FMI lembra que o ‘stock’ das dívidas públicas mundiais vai aumentar de forma “significativa”, e que as menores contribuições fiscais irão dificultar o serviço de dívida dos soberanos.
Os riscos para as previsões do FMI, que espera uma queda da economia mundial de 4,4% em 2020, são “anormalmente grandes” em ano de pandemia, segundo o documento.
“Uma primeira camada [dos riscos] relaciona-se com o caminho da pandemia, a necessária resposta da saúde pública, e as disrupções à atividade doméstica associadas, nomeadamente em setores de contacto intensivo”, sinaliza o FMI.
Uma outra fonte de incerteza “é a extensão dos alastramentos mundiais provenientes da baixa procura, turismo mais fraco e menos remessas”, assinala a instituição liderada por Kristalina Georgieva.
O fundo aponta ainda para o sentimento dos mercados financeiros e as suas implicações para os fluxos de capitais mundiais, e ainda para a incerteza ao potencial da oferta, “que vai depender da persistência do choque pandémico, o tamanho e a eficácia das respostas políticas e a extensão das falhas nos recursos”.
No lado positivo, o FMI refere que “progressos com vacinas e tratamentos, bem como mudanças nos locais de trabalho e por parte dos consumidores para reduzir a transmissão [do vírus] podem permitir um regresso da atividade mais rápido para níveis pré-pandemia sem acionar ondas repetidas de infeções”.
Além disso, “uma extensão das medidas orçamentais para 2021 podem também elevar o crescimento acima das previsões” contabilizadas até agora.
“No entanto, o risco de piores resultados que o projetado permanece considerável. Se o vírus ressurgir, se o progresso nos tratamentos e vacinas for mais lento que o antecipado, ou o acesso dos países a eles permanecer desigual, a atividade económica poderá ser menor que o esperado”, alerta a instituição sediada em Washington.
Para o FMI, “considerando a severidade da recessão e a possível retirada de apoios de emergência em alguns países, o aumento das falências poderia combinar perdas de rendimentos e emprego”.
“A deterioração do sentimento financeiro poderia acionar uma paragem súbita nos novos empréstimos (ou falhas em renovar a dívida existente) às economias vulneráveis”, pode ler-se no documento.
A instituição financeira internacional alerta ainda para “eventuais alastramentos transfronteiriços provenientes de uma procura externa mais fraca”, que podem “amplificar o impacto de choques específicos para alguns países”.