“Gerir a escassez da vacina” será um dos primeiros desafios das autoridades de saúde, admite Temido. A taxa de incidência da doença a 14 dias está a diminuir, mas continua preocupante.

No dia em que Portugal regista o número mais alto de mortes por covid-19 desde o início da pandemia (95), a ministra da Saúde admitiu que o primeiro desafio da vacinação será “gerir alguma escassez”. “Sabemos há longos meses que, mesmo que tivéssemos uma vacina disponível, ela seria sempre, num primeiro momento, escassa”, disse Marta Temido, acrescentando que o o início da distribuição da vacina em Portugal está previsto para os primeiros dias de janeiro, embora não tenha precisado o número exato de doses que o país vai receber numa primeira fase.

“Temos de ser pacientes e perceber que há passos que não podemos subestimar nem desvalorizar”, nomeadamente as reuniões técnicas associadas ao processo de vacinação. “Não nos interessa sermos os primeiros a ter vacinas. Interessa ter vacinas de qualidade, seguras e efetivas”, notou a governante, esclarecendo ainda que as autoridades de saúde estão a acompanhar “com muita prudência” as reações alérgicas que possam surgir. “Sabemos que são aspetos que se podem verificar e é importante que sejam tratados com transparência.”

Taxa de “Incidência aproxima-se de valores controláveis, mas ainda preocupantes”

Comentando os dados do boletim desta sexta-feira, Marta Temido afirmou que já  a taxa de incidência de Covid-19 a 14 dias por 100 mil habitantes se situa agora em 529,3 novos casos. “Uma taxa de incidência que está a aproximar-se de valores mais controláveis, mas que são, ainda assim, bastante preocupantes”, sublinhou.

“Uma preocupação que acontece sobretudo nalguns concelhos do país, designadamente em municípios da Administração Regional de Saúde do Norte”, acrescentou, notando que a taxa de incidência nesta região, a 14 dias, de 802 casos por 100 mil habitantes”. Marta Temido comparou este valor com a taxa de 202 novos casos por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias na região do Algarve, para enfatizar as “assimetrias do país”. 

A governante deu conta que o risco de transmissão (RT) se situa agora em 0,97, ligeiramente abaixo de 1, “um valor que precisamos fazer ainda descer e, sobretudo, de manter de uma forma sustentada”. 

Adicionalmente, Marta Temido disse que se é certo que o pico da pandemia na primeira onda terá sido no dia 23 março, “estima-se agora que o pico de incidência nesta segunda fase possa ter sido na semana de 20 de novembro”. “Estamos ainda a assistir àquilo que é a dilação conhecida entre o número máximo de infeções, o número máximo de utilização da capacidade instalada nas unidades hospitalares e o máximo de óbitos”, frisou. 

A ministra quis salientar as sequelas tardias da infeção pelo novo coronavírus são algo que “vale a pena sublinhar”, assinalando que estas “não atingem só os mais velhos”. “São ainda um tema em avaliação e estudo e temos que ter presente quando procuramos controlar a infeção”, disse. 

Referindo-se à quadra festiva que se avizinha, Marta Temido afirmou ainda que os desafios próximos se prendem com “a organização das nossas vidas quotidianas num período em que todos gostaríamos de viver com relativa normalidade”, mas lembrou que “não podemos prescindir do cumprimento das regras necessárias”.

Outro dos desafios próximos, sublinhou, relaciona-se com a administração das vacinas contra a Covid-19, “um trabalho que continua a ser garantido e acompanhado em termos daquilo que são as avaliações ainda em curso pela Agência Europeia do Medicamento (EMA) e quanto à vacinação no Serviço Nacional de Saúde”.

Aqui, a ministra voltou a lembrar que, até que tenhamos as vacinas, e mesmo depois de termos as vacinas no nosso país, “enquanto não atingirmos a imunidade, precisamos de continuar a responder em termos de testes e de rastreio e em termos de cumprimento das decisões das autoridades de saúde, mas precisamos também da colaboração de todos”, apelando a que não esqueçamos as regras básicas de distanciamento físico, a boa utilização da máscara, a boa higiene das mãos, etiqueta respiratória, o arejamento de espaços e a menor frequência possível de espaços frequentados por muitas pessoas ao mesmo tempo”.

“O vírus é invisível, mas está lá e não nos podemos esquecer disso porque de facto podemos assim evitar sofrimento e consequências indesejáveis”, insistiu.