Portugal pode voltar a ter restrições mais apertadas e quem sabe até um novo confinamento, se a curva da pandemia continua a subir e não se verificarem melhorias. Esta é a opinião de alguns especialistas citados pelo ‘Público’, que consideram que o alívio no Natal pode estar relacionado com o aumento recorde dos números.

Ontem registaram-se mais de 10 mil novos casos, o maior número de infeções diárias de sempre, que pode abrir caminho a um regime mais restrito, como o que se verificou em Março e Abril, segundo Filipe Froes, pneumologista e coordenador do gabinete de crise covid-19 da Ordem dos Médicos (OM).

“Infelizmente estamos a começar o ano com um recorde de novos casos, numa altura em que sabemos mais. Nunca soubemos tanto sobre o vírus, sobre como se transmite, temos mais meios de diagnóstico e novas abordagens terapêuticas, estamos a vacinar e temos mais novos casos”, acrescenta.

Ao ‘Público’, o responsável defende a realização de uma «análise mais fina da situação, através dos resultados dos inquéritos epidemiológicos, de maneira a caracterizar o impacto das festividades, das viagens entre concelhos e da nova variante [do SARS-CoV-2] na demografia dos novos acasos e internamentos”.

“Já conhecemos todas as medidas, o segredo é saber aplicar cada uma delas, na altura certa, e esclarecer as pessoas com transparência, sobre a necessidade de compreenderem o que está a ser feito, porquê e que resultados podemos esperar”, afirma.

Sobre a relação entre o alívio das medidas na altura do Natal e este aumento de casos, o médico infeciologista António Silva Graça, não tem dúvidas de que ela existe. “A ligação ao Natal pode ser feita e infelizmente tem que ser feita”, reitera citado pelo ‘Público’.

“E não é só por este valor: percebemos, mesmo naqueles dias em que havia menos notificação e se faziam menos testes, que o número [de casos] praticamente duplicou. Passou de 11 mil infeções para 21 mil. Nesta altura – e eu tinha sido cauteloso com o valor na passada semana – percebi que já tínhamos tempo para ver as consequências do que se passou no Natal. Este valor traduz tudo isso”, acrescenta o responsável.

Para António Silva Graça esta é também a altura de implementar novas restrições, no sentido de travar a evolução da curva da epidemia. “Estes números traduzem um agravamento da situação sanitária. Para a controlar são precisas medidas de restrição da mobilidade que possam reduzir a transmissão do vírus. Sabemos que isso tem de ser feito, vão ter de existir medidas”, defende.

“Mas que medidas são essas? Serão as mesmas? Não estou totalmente de acordo com as que foram implementadas. Considero que o recolher obrigatório diário às 23h parece-me adequado. A medida de permitir a circulação e o funcionamento de estabelecimentos comerciais até às 13h não me parece adequada, pois leva a que as pessoas se juntem muito num período horário mais limitado”, considera.

Para o especialista. “tem de ser dada prioridade ao teletrabalho – menos gente a circular – e, por outro lado, garantir um número suficiente de transportes públicos, para garantir que as pessoas não se juntam demasiado quando as utilizam”, conclui.