A ministra da saúde, Marta Temido, admitiu esta segunda-feira todas as hipóteses para controlar a Covid-19, incluindo um possível confinamento, sublinhando que “as medidas não farmacológicas (onde se pode incluir a restrição de circulação) ainda podem ser necessárias nesta fase de transição”.

“Sempre dissemos que as linhas dos nosso mapas de referência são indicadores que nos levam a tratar ou acelerar e a tomar medidas em função daquilo que é a concreta situação”, explicou em declarações aos jornalistas.

A responsável falou sobre a situação epidemiológica do país, dizendo que atualmente existe uma “prevalência elevada da variante Delta (indiana), cuja transmissibilidade mais elevada é também conhecida e que é já dominante  em Lisboa e Vale do Tejo”.

Marta Temido disse que “o risco de transmissão efetivo da Covid-19 é agora de 1.19, um risco elevado, e com um número de novos casos por dia, também elevado”, motivo pelo qual, antes de avançar para um novo confinamento, é necessário “fazer três coisas em paralelo”.

A primeira passa por “continuar a acelerar a vacinação”, depois “garantir acesso a testes e que sejam efetivamente utilizados pelas pessoas” e, por último, utilizar ”algumas medidas de contenção do risco de transmissão”. Uma dessas medidas de contenção esteve em vigor este fim de semana, na área metropolitana de Lisboa.

“Vamos naturalmente continuar a acompanhar a situação e a avaliar o que é necessários fazer em função destes três instrumentos”, garantiu voltando a sublinhar que “as  medidas não farmacológicas, podem ser necessárias, temos de ir avaliando”.

Sobre a variante Delta a governante estima que esta seja predominante não só na generalidade do território português mas também noutros países.

“Neste momento assistimos a uma predominância da variante (delta) na região de Lisboa e Vale do Tejo que estamos a tentar que entre nas outras regiões do país numa fase em que as pessoas estejam mais protegidas, pela vacinação“, explicou.

Marta Temido referiu ainda que neste momento, o objetivo “é ganhar tempo para mais pessoas estarem vacinadas” e também para que seja possível controlar essas mesmas variantes.

A ministra recordou que não basta que a vacina seja administrada para garantir proteção. É precisa a segunda dose (nos casos das vacinas de toma dupla) e, mesmo após a segunda, são ao fim de alguns dias a proteção ficará completa.

Situação pandémica volta a agravar-se. Especialista prevê 10 mil casos diários em breve

Numa altura em que Portugal tem ultrapassado os mil casos diários, Pedro Esteves, professor de Biologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, e investigador do CIBIO, acredita que não vai demorar muito até que se registem cerca de 10 mil casos diários por Covid-19.

“Com a falta de confinamento que há neste momento, não tenho dúvidas de que a situação vai piorar muito e se não tivermos cuidado, se não confinarmos, nem houver distanciamento social, os números estarão muito próximos daqueles que tivemos em janeiro”, disse, contactado pela Multinews.

Segundo o especialista, “em termos de capacidade de infeção, isto é, número de novos casos, acredito que é possível que cheguemos perto dos números de janeiro. Estamos a falar de cerca de nove, 10 mil novos casos” por dia, detalha.

Sobre o tempo que poderá demorar até Portugal até atingir esses números, apesar de ressalvar que depende de vários fatores, nomeadamente o comportamento da população e novas medidas que possam ser adotadas, Pedro Esteves fala em cerca de “um mês, um mês e meio”, ainda que seja “difícil de prever”.

“A razão principal (para este aumento de casos) é a variante Delta (indiana), que tem uma capacidade de infeção maior, a que se junta também um facilitismo das pessoas, que faz com que a probabilidade de ficarem contaminadas seja maior”, esclarece o investigador.