Arranca hoje a 1.ª fase de exames nacionais, com alterações face ao ano letivo anterior: mais perguntas obrigatórias e as opcionais têm peso menor na nota. Professores criticam situação de desigualdade.

ais perguntas obrigatórias e com cotação mais elevada na nota final da prova são as grandes alterações na estrutura dos exames nacionais 2020-2021. Uma mudança que muitos professores consideram injusta e que pode beneficiar os alunos sujeitos a exame no ano letivo passado.

“Aumentar o grau de dificuldade dos exames nacionais num ano que também foi toldado pelo ensino à distância é, no mínimo, injusto, para não qualificar com um adjetivo um pouco mais pesado. É bom lembrar que os alunos que vão fazer exames neste ano letivo não tiveram aulas em ensino remoto num confinamento apenas, mas sim em dois (e alguns em condições profundamente precárias). Aumentar o grau de dificuldade dos exames não só é injusto para os atuais alunos de 12.º ano, pois dificulta uma eventual melhoria, como também é ainda mais injusto para os alunos de 11.º ano que farão os exames das disciplinas bienais e terão de competir com resultados absolutamente avassaladores das provas de ingresso das disciplinas bienais do ano passado”, explica ao DN Daniel Ribeiro, professor de Física e Química.

Neste ano volta a ser possível usar a nota do exame para melhoria da classificação interna, o que, para o docente, é um “fator adicional de injustiça”. “A hipótese de melhorar classificações internas através do exame surge tarde, pois esta devia ter sido implementada no ano passado, como sempre aconteceu. Este impedimento teimoso do ano anterior serviu apenas para tentar barrar um disparo ainda maior das médias de acesso, que já estaria previsto por causa da tipologia de exame implementada no ano passado. Contudo, o facto de neste ano alterarem novamente as regras do jogo impõe sempre mais um fator adicional de injustiça e de não conformidade nos acessos ao ensino superior”, sublinha.

Dois anos letivos marcados pela pandemia

Sandra Paulo, docente de Matemática, também prevê dificuldades acrescidas à disciplina. “O número de questões obrigatórias aumentou pelo que se prevê que as dificuldades aumentem a Matemática, em relação ao ano anterior. No entanto, será uma situação ainda favorável face aos exames até 2019, onde todas as questões eram obrigatórias”, ressalva. A professora tem verificado “menos ansiedade” por parte dos seus alunos “porque é o segundo ano em que vão a exame em tempo de pandemia”, mas com um problema acrescido de “perda de ritmo de trabalho” provocado pelos confinamentos.

Vítor Pinto, professor de Biologia e Geologia também teme que os alunos sejam prejudicados, face aos estudantes que foram sujeitos a exame no ano passado. “Poder transitar os resultados do ano anterior, onde já foi assumido que os resultados foram excecionalmente bons, pode, eventualmente, prejudicar os alunos que vão realizar os exames neste ano, caso se venha a verificar uma maior complexidade e grau de abstração nos exames propostos pelo IAVE para este ano letivo”, explica. A dificuldade, diz, poderá ser ampliada não só pelo aumento de questões obrigatórias, mas também pelo facto de uma parte do ano ter sido lecionada em ensino a distância”, quando “o contexto pandémico de ambos os anos letivos é o mesmo, mas as regras são diferentes”.

Emília Nogueira, professora de Português, relembra que os estudantes de 12.º ano sujeitos a exame “já viveram o confinamento do ano passado” e “são alunos com défice de aprendizagem””. “Penso que haverá maiores dificuldades neste ano, não tanto pela possível dificuldade das provas, mas devido ao longo confinamento do 2.º período. Por um lado, foi muito mais difícil abordar os conteúdos planificados quer pelos professores quer pelos autores dos manuais para serem dados presencialmente. Por outro lado, o número de aulas também diminuiu consideravelmente”, adianta.

Sónia Junqueira, docente e autora de manuais de Português, partilha da mesma opinião, embora sinta “um nervosismo menor neste ano”. “A experiência do ano passado permitiu que os alunos estivessem mais serenos e para isso muito contribui a possibilidade de realizarem apenas os exames que serão usados como prova de ingresso. Esta alteração – que, a meu ver, faz todo o sentido – atenuou a ansiedade dos alunos. Penso que esta informação só pecou por tardia, pois, durante a maior parte do ano letivo, os alunos mantiveram-se com dúvidas quanto a esta nova modalidade”, conta. Contudo, para a docente “o encerramento das escolas pode comprometer o desempenho dos alunos”, uma vez que “é inegável que o ensino remoto destaca, ainda mais, as desigualdades existentes”. “Tudo isto é relevante num período de preparação para uma avaliação de cariz global”, conclui.

150 mil inscritos nos exames

Para António Augusto Fontainhas, presidente da Comissão Nacional do Ensino Superior, o facto de estarmos perante dois anos letivos marcados pela pandemia leva a uma maior necessidade de estabilidade. “Mantivemos o cálculo da média de entrada no ensino superior. A ideia foi dar estabilidade. Já não basta esta crise social… Nestas faixas etárias deve haver estabilidade e previsibilidade”, refere.

Para o responsável, “neste segundo ano de pandemia, os alunos terão alguma calma”. “O sistema presencial foi interrompido e pode causar efeitos no abandono escolar, algo que é preciso evitar. No primeiro ano de pandemia, os estudantes adaptaram-se. Neste segundo ano já não é novidade, mas há algum desgaste”, confessa. O objetivo da Comissão Nacional do Ensino Superior, conta, é “manter a trajetória de Portugal, que tem vindo a aumentar, todos os anos, o número de alunos no superior”. “Nos próximos anos queremos ter 60% da população jovem no ensino superior”, conclui. E neste ano letivo há mais de 150 mil inscritos nos exames nacionais, sendo quase 60% para acesso ao ensino superior.

Do universo de 66 977 rapazes e 84 886 raparigas inscritos, mais de 90 mil prestam provas para se candidatarem ao superior. Matemática, Português, Biologia e Geologia e Física e Química são os exames com maior número de inscrições.

Calendário da 1.ª fase

2 de julho – Português, Português Língua não-materna e Português Língua segunda
5 de julho – Espanhol e Geometria Descritiva A
6 de julho – Filosofia e Francês
7 de julho – História A, História B e História da Cultura e das Artes
8 de julho – Física e Química e Latim A
9 de julho – Economia A e Alemão
12 de julho – Inglês
13 de julho – Matemática A, Matemática B e Matemática Aplicada às Ciências Sociais
14 de julho – Desenho A e Mandarim
15 de julho – Biologia e Geologia e Literatura Portuguesa
16 de julho – Geografia A

In “DN”