Amizade (do latim amicus; amigo, que possivelmente derivou de amore; amar, ainda que se diga também que a palavra provém do grego) é uma relação afetiva, a princípio, sem características romântico-sexuais, entre duas pessoas. Pois bem, vamos acrescentar-lhe um bocadinho de cor.
Certamente já olhou para uma amiga sua e pensou que talvez se pudessem dar bem sexualmente; ou quiçá quisesse explorar melhor a parte mais carnal da vossa amizade. Sem expectativas nem compromisso, a única coisa que prevalece acima do sexo é a amizade. Será que funciona? Será que ninguém se magoa? O que será que os outros amigos pensam? Vamos saber…
Amigos com direitos
A 19 de julho comemora-se o “Dia do Amigo com Direitos”. De acordo com uma iniciativa das redes sociais, este é o dia em que se comemora uma relação a dois que simula os vínculos afetivos, os comportamentos e atitudes típicas de uma amizade, com a possibilidade de manter relações íntimas ou sexuais. Ou seja, há um casal de amigos que age como se fosse um casal verdadeiro, mesmo sem o ser. Beijam-se, abraçam-se, aconselham-se e podem ou não ter relações sexuais. É um conceito antagónico aos paradigmas tradicionais e às relações com compromissos. Ocorre fundamentalmente entre grupos de adolescentes. E a predominância está grandes metrópoles, onde a própria dinâmica social tem vindo a mudar a conceção de alguns valores.
Existe amizade entre homens e mulheres?
“Entre um homem e uma mulher não é possível haver amizade. É possível haver paixão, hostilidade, veneração, amor, mas amizade, não”. A frase, proferida pelo escritor irlandês Oscar Wilde (1854 – 1900), parece datada, mas não podia estar mais em sintonia com as atuais discussões sobre as relações entre os sexos. A amizade entre homens e mulheres foi sempre impensável até à entrada do sexo feminino no mercado de trabalho já no século XX. Mães de família ou filhas, qualquer relacionamento fora da família com um membro do sexo masculino era encarado com comportamento leviano e podia inclusivamente afastar possíveis pretendentes da futura noiva. Embora nos dias de hoje esta ideia esteja já completamente obsoleta, esta é uma realidade a ter em conta também para perceber os novos contornos da amizade entre sexos nas novas gerações.
As vantagens
Segundo o sexólogo e psicólogo clínico Fernando Mesquita, a maior vantagem é mesmo “ter alguém para fazer sexo quando quer. Sem compromisso, o peso da ‘fidelidade’, nem a vertente da pressão do compromisso”. Estar com alguém que já conhecemos permite-nos inexoravelmente uma outra exploração da sexualidade e sensualidade com alguém em quem se confia. Por outro lado, evita que os jovens tenham, desde cedo, um sentimento de pertença e muitas vezes de posse um sobre o outro, o que muitas vezes leva a episódios graves de ciúmes e violência.
Ser “amigonamorado”, como lhe chamam, não implica forçosamente que haja um contacto sexual ou físico, o que permite aos envolvidos aprofundar o conhecimento e melhorar os vínculos interpessoais, assim como os hábitos de convivência a dois. Para muitos jovens, esta fase pode representar uma etapa de transição, que os pode ajudar a discernir com quem, como e quando se querem comprometer efetivamente.
O lado negativo
Mesmo que o objetivo seja não fomentar um vínculo emocional, existe sempre o risco de que uma das partes se deixe afetar sentimentalmente. Este é possivelmente o maior risco a ter em atenção e a principal condição para ninguém sair magoado: não se apaixone! Por outro lado, ao não ser um casal formal, há maior liberdade e risco de contrair doenças sexualmente transmissíveis, pois não se pode exigir fidelidade um ao outro.
Fernando Mesquita explica: “Quando estes encontros se tornam constantes pode surgir alguma confusão e querer-se mais do que sexo. Muitas vezes, uma das duas partes, ou mesmo as duas, apaixonam-se. Aí, o vínculo de ‘amizade’ transforma-se numa relação séria, ou estremece e cada um segue para seu lado. Se isso acontecer é muito importante que ambos reavaliem o que se está a passar. Seja para uni-los ou separá-los, visto que as ‘regras do jogo’ mudaram. No fundo, devem conversar sobre a vossa ‘amizade’ e no que se transformou”.
Os efeitos sociais
Embora a sociedade esteja aberta a estas novas não-relações, pode haver uma discriminação social. Tal acontece principalmente com as mulheres, devido aos paradigmas atuais do namoro e casamento. Ainda assim, a maior parte dos “amigos com direitos” preferem que isso seja algo privado e íntimo, salvaguardando o segredo.
Um estudo realizado nos Estados Unidos pela investigadora Heidi Reeder, da Universidade Boise State, apurou que 20% dos homens e mulheres afirmou já ter tido relações sexuais com pelo menos um amigo em algum momento da sua vida e a maior parte deles (76%) disse que a amizade saiu fortalecida. A própria responsável pelo estudo ficou surpresa com os resultados, pois vêm desafiar a ideia de que o sexo fora de um relacionamento romântico leva ao prejuízo emocional e à destruição da amizade. ‘O objetivo da discussão lançada pelos resultados do estudo não é promover a relação sexual entre amigos. O que é interessante é que entre alguns amigos, a relação sexual não fere a amizade’, afirma a dra. Heidi Reeder. Os dados da pesquisa mostraram também que 50% começou um namoro com o até então amigo(a). E você, já teve uma amiga colorida?