O sexo está, desde sempre, envolto em vários tabus, mas mais ainda depois dos 50. Para saber como manter a “chama acesa” independentemente da passagem do tempo, fomos conhecer a opinião dos especialistas.
O sexo pode não ter idade, mas muda ao longo da vida. Pensar que o sexo num casal de 50 anos é igual ao de um nos seus 25 é errado, do mesmo modo que não é verdade que a partir de uma determinada idade as pessoas percam o interesse sexual. Há mudanças hormonais, nas mulheres e nos homens, que alteram a predisposição e a resposta ao sexo. Mas mudar não significa necessariamente piorar, e há de facto casais que consideram o sexo mais satisfatório em fases avançadas da vida, quando comparado com o que tiveram quando mais jovens.
Nem tudo o que muda com a idade é necessariamente negativo. No caso da mulher que passou pela experiência da menopausa, por exemplo, deixa de existir a preocupação de uma gravidez não planeada e muitos casais encontram maior relaxamento na prática sexual. Por outro lado, alguns casais na reforma têm mais tempo e energia para dedicar ao outro, partilhando mais atividades, reforçando a relação e, assim, aumentando a qualidade do sexo.
É ainda importante o facto dos casais com mais tempo de relação conhecerem o corpo do outro mais intimamente, o que faz com que comuniquem melhor e proporcionem maior prazer. É provável que nesta idade muitas, se não todas as inibições já tenham caído por terra, resultando numa experiência e confiança a nível sexual que tornam o sexo melhor para ambos. A partir de determinada idade, o sexo é menos conduzido pelas hormonas e mais pelo desejo de partilha da intimidade com quem se ama.
É por isso que existem muitos casos de pessoas com mais de 65 anos que referem ter sexo com menos frequência, mas com uma maior gratificação do que quando eram mais jovens. Por fim, e não menos importante, a geração dos maiores de 50 é hoje muito diferente do que foi em décadas passadas. Maria do Céu Santo, ginecologista e obstreta, explica que «existe hoje uma postura de vida completamente diferente da que tínhamos antigamente.
Hoje em dia, uma mulher de 50 anos equivale a uma de 40 de há uns anos. Esta nova mulher investe muito mais na sua imagem, está mais preocupada com a sua alimentação, pratica exercício físico e tem outra qualidade de vida. Isto não significa, no entanto, que uma parte destas mulheres não tenha uma disfunção de vida. Os 50 anos são uma fase em que a mulher ainda está muito ativa na sua vida profissional, mas o tempo não chega para tudo, pelo que sofre de stress e insegurança.
A solução está nas terapêuticas de substituição ou compensação para os sintomas da menopausa e num investimento que as mulheres têm de fazer nelas próprias». Apesar deste aparente «rejuvenescimento» que o século XXI trouxe para esta geração, nem todos os tabus em torno da prática sexual, nomeadamente a partir dos 50 anos, foram quebrados. Virgínia Rodrigues, psicóloga do Hospital da Cruz Vermelha em Lisboa, refere que «há casais desta idade que se preocupam mais com o bem-estar psicológico do outro e se predispõem mais a conversar sobre a sexualidade do que em gerações anteriores.
Ainda assim, ainda há silêncio, preconceito e vergonha». Além disso, o impacto da idade, a nível psicológico, não é igual em ambos os sexos. «Embora haja pontos em comum, genericamente esse impacto é diferente. Isto tem a ver com fatores físicos, psicológicos e expetativas do próprio e dos outros sobre o papel que cada um adquire nesta fase da vida. Mas é importante referir que a sexualidade é um conceito multifatorial e uma experiência mais particular do que genérica em qualquer idade».
Intimidade e experiência
A questão da intimidade é considerada fundamental no sexo quando se chega a uma idade em que já não se trata tanto de hormonas, mas de cumplicidade e partilha. «Se o casal for vivenciando a sua vida fomentando os momentos a dois», explica Virgínia Rodrigues, «a intimidade vai-se transformando de forma natural como um processo que acompanha a maturação de vida. Se isso não acontecer, o casal sentirá necessidade de reaprender a viver os seus momentos de intimidade.
Porque nesta idade as pessoas dificilmente se despem para o seu par, física e psicologicamente, só porque é suposto ou só pelo prazer sexual (mas também!). Despem-se porque há um entusiasmo para essa partilha e essa vivência, por ser um prolongamento da relação e não um requisito a cumprir. Neste sentido, há que alimentar a relação e criar uma cumplicidade especial para que ressurja a intimidade. A relação sexual é parte integrante da relação afetiva». Muitas vezes coincide com esta faixa etária a saída dos filhos de casa, o que também tem influência na vida do casal, visto que depois de vários anos dá-se um reencontro do casal, novamente sozinho, mas com toda uma outra “bagagem”.
Virgínia Rodrigues explica que «por vezes, o casal perde-se no papel da parentalidade, e quando os filhos se tornam adultos e independentes, o casal confronta-se com uma ausência de identidade. Nestes casos, não sabem estar e viver enquanto casal, e há uma estranheza na relação de intimidade. É importante reaprenderem a viver momentos a dois, voltarem a estar um com o outro, sempre com respeito, afeto e curiosidade de se conhecerem (ao outro e a si próprios).
Os maiores riscos para o casal são não se desprenderem da monotonia, não se reencontrarem através da cumplicidade e intimidade, e procurarem a sedução fora do casamento». Este reencontro pode ser um choque fatal para o casamento, bem como o desgaste já existente na relação ou que surgir a seguir. «Se o casal não for permanentemente curioso e não apenas no que diz respeito às relações sexuais, mas na vivência do dia a dia, através de situações que preocupam o outro, nos acontecimentos que o alegram, na partilha de momentos especiais, mas também das fragilidades, a cumplicidade e a intimidade do casal acabam por esmorecer e inevitavelmente afetará a sexualidade. Recuperar tudo isto, se tiver havido uma “pausa” de mais de uma década no desenvolvimento da relação, requer muita vontade e dedicação de ambos».
Sexo e desejo
Apesar de todas as dificuldades já referidas, Virgínia Rodrigues considera que «atualmente os 50 também trazem uma tranquilidade contrária aos 30 e aos 40. A entrada na idade adulta está a ser vivida com muito mais stress e cansaço físico e psicológico, reduzindo o desejo e prejudicando o desempenho sexual. Aos 50 encontra-se outra serenidade e olha-se para a vida de uma forma mais presente.
Se o casal for cúmplice e companheiro, e ambos cuidarem das dificuldades que podem advir de questões de saúde, conseguem ter um desempenho sexual muito satisfatório». Neste sentido, Maria do Céu Santo lembra a importância, no caso da mulher, de atravessar a menopausa de forma tranquila e saudável: «Todos os dias, quando se levanta, a mulher deve olhar-se ao espelho, sorrir e dizer “bom dia”! Durante o dia, deve garantir pelo menos três momentos que a façam feliz e apontá-los numa agenda.
Estes pequenos prazeres podem ser tomar café com uma amiga, passear num jardim, ver um filme ou ler um livro, por exemplo. O exercício físico é igualmente importante, desde que seja o adequado. Durante a menopausa, a mulher deve abster-se de fazer exercícios de alto impacto e optar por ioga, pilates ou outras modalidades de baixo impacto. Acima de tudo, a mulher tem de gostar de si própria. Ninguém aos 50 anos tem 20, mas é possível ter uma atitude com charme. A insegurança nesta idade ocorre também noutras fases da vida, visto que ninguém está sempre confortável com o corpo que tem.
O que é importante é garantir que esta insegurança não se torne fundamental nem na vida do casal, nem na autoestima da mulher». Quando existem problemas de ordem sexual, é igualmente importante consultar o médico, e também o homem deve estar atento aos sinais. José Santos Dias, médico urologista e diretor clínico do Instituto da Próstata e Incontinência Urinária, lembra que problemas como a disfunção eréctil e a ejaculação precoce são «profundamente perturbadores do bem-estar individual e do casal.
Há centenas de estudos que comprovam que a insatisfação de mulheres com parceiros que sofrem de disfunção erétil ou ejaculação precoce é muito elevada. E esta insatisfação não se limita a uma questão sexual, evolui para um descontentamento geral. No entanto, é preciso olhar não apenas para o casal, mas também para o indivíduo. Estes distúrbios têm implicações no relacionamento social, profissional e familiar, havendo uma significativa alteração da autoestima. Perante o problema, o homem tende a fechar-se cada vez mais, reduz os seus contactos sociais e sente-se inferiorizado. A insatisfação instala-se ao longo do dia inteiro e o humor é muito afetado. Por todas estas questões é fundamental ir ao médico».
Sem idade
Para Virgínia Rodrigues, «os 50 trazem uma clareza na distinção entre intensidade e intimidade.
A intensidade é mais imediata e passageira, a intimidade vai sendo construída, permitida e é mais especial e madura. Se ambos estiverem bem cuidados e se a intimidade estiver bem estabelecida, o desejo pode ser mais consciente e profundo». Para manter acesa a “chama” e ser feliz com a sua sexualidade, «a chave é cada uma das pessoas cuidar de si própria de forma contínua, ir conhecendo o que a faz sentir mais satisfeita e valorizar isso ao máximo, para poder partilhar a vida com a sua companheira ou companheiro como um fator que torna a vida mais rica e preenchida, sem cair na “armadilha” de estagnar e pensar que aos 50 anos já não há mais nada para conhecer sobre si e sobre o outro. A curiosidade permanente é fundamental!».