O Sp. Braga criticou de forma dura a organização do Mundialito de clubes de futebol de praia, que decorreu na Rússia.
«Um evento de elite como este não pode, de maneira nenhuma, contar com um comité organizador de nível amador, que teve constantes demonstrações de uma falta de respeito gritante pela condição física dos nossos atletas e, também, pela verdade desportiva da própria competição», reagiram os arsenalistas num comunicado oficial publicado hoje, em que denunciam um conjunto de situações. As queixas do Sp. Braga vão desde a alteração do modelo competitivo em cima do começo da prova, até à sobrecarga de jogos e à demora das autoridades russas em validarem a documentação de quatro jogadores, o que os obrigou a dormir no chão no aeroporto na escala que tiveram de fazer em Paris.
O Sp. Braga, que era detentor do título, perdeu esta quarta-feira a final do Mundialito de clubes de futebol de praia. Os minhotos foram derrotados pelo anfitrião Lokomotiv Moscovo, por 6-4.
Leia o comunicado na íntegra:
Concluído o Mundial de Clubes de Futebol de Praia, o SC Braga vem, por este meio, manifestar a sua profunda insatisfação e indignação com a organização da competição, devido a várias situações que afetaram significativamente os nossos jogadores, staff e equipa técnica. Grupo este que, recorde-se, é líder do Ranking Mundial há vários anos consecutivos, vice-campeão da Europa e que, até ontem, era bicampeão em título do Mundial de Clubes.
Um evento de elite como este não pode, de maneira nenhuma, contar com um comité organizador de nível amador, que teve constantes demonstrações de uma falta de respeito gritante pela condição física dos nossos atletas e, também, pela verdade desportiva da própria competição.
Numa altura em que se pretende valorizar o Futebol de Praia enquanto modalidade de elite, este tipo de situações gravosas têm o efeito contrário: o amadorismo organizacional não poderá nunca ter lugar no desporto de alta competição.
As melhores equipas do mundo de Futebol de Praia reuniram-se na Rússia para disputarem um título de reconhecida importância, mas desde o minuto em que a comitiva do SC Braga aterrou em Moscovo que os problemas, a falta de respeito e o amadorismo começaram a surgir em catadupa.
Vamos por partes:
– A nossa equipa chegou a Moscovo na madrugada de segunda-feira (25 de outubro), já depois da meia-noite local. Devido a questões relacionadas com medidas de confinamento derivadas da pandemia, a Beach Soccer Worldwide comunicou que a competição passaria a realizar-se já na terça-feira, com três jogos em 24 horas. Logo aqui, a nossa equipa estaria em desvantagem competitiva em relação aos adversários, já que todas as restantes sete equipas se encontravam na Rússia há, pelo menos, um dia;
– Entretanto, na manhã de terça-feira, o plano competitivo foi novamente alterado, com a agravante de que passariam a ser jogos a eliminar e sem qualquer tipo de sorteio, o que desvirtuaria, por completo, toda a competição;
– Os jogadores Lucão, Filipe, Rafael Padilha e Pedro Mano foram impedidos de viajar para Moscovo em tempo útil – quando tinham toda a documentação válida – devido a constrangimentos políticos da Rússia com a União Europeia. De forma a ultrapassarem esta situação (desprezada pelo comité organizador), foram obrigados a fazer escala em Paris, dormindo no chão do aeroporto enquanto esperavam, desesperadamente, por autorização para seguirem rumo a Moscovo;
– Esse consentimento só chegou ao final da manhã de terça-feira, o que fez com que os referidos jogadores – determinantes na nossa equipa -, chegassem literalmente em cima da hora do primeiro jogo, frente ao Tokyo Verdy, praticamente sem a possibilidade de fazerem sequer o aquecimento (!) e sem a possibilidade de se alimentarem de forma adequada para a prática desportiva;
– O SC Braga foi ‘obrigado’ a jogar às 20H15 (horas locais) de terça-feira e as refeições fornecidas pela organização terminaram às 13H00 (horas locais). A equipa ficaria, à partida, sete horas sem qualquer tipo de reforço alimentar;
– O comité organizador, que faz parceria com o governo russo, deu garantias de que tudo se iria realizar sem sobressaltos, algo que… não aconteceu. O staff do SC Braga que acompanhou a equipa teve de trabalhar na base da improvisação de forma diária, tentando dar condições mínimas aos seus atletas para defenderem o nosso título;
– Já diz o velho ditado: «O que começa torto, jamais se endireita.» Depois de um esforço titânico dos nossos atletas e de todo o staff para chegarmos à final, o SC Braga foi altamente prejudicado pela equipa de arbitragem, com decisões que só podem envergonhar todo o universo do Futebol de Praia.
– Os jogadores Léo Martins e Filipe Silva foram expulsos de forma inexplicável e em momentos cruciais da partida diante do Lokomotiv Moscovo, situações que, apesar de todo o nosso esforço, condicionaram de forma profunda a estratégia para este encontro de cariz decisivo.
O SC Braga aposta, há vários anos, no Futebol de Praia e quer continuar a elevar a modalidade ao mais alto nível, de forma a prestigiar o Clube e também o nosso País além fronteiras.
No entanto, este tipo de situações faz-nos repensar seriamente se valerá a pena todo o esforço, investimento e sacrifício para disputarmos uma competição de organização amadora, com árbitros tendenciosos e na qual o nome centenário do SC Braga foi, em vários momentos, alvo de profundo desrespeito.
Acreditamos convictamente de que é preciso apostar no profissionalismo de todos os quadrantes de influência nesta modalidade, de forma a que possamos ajudar o Futebol de Praia a crescer ano após ano. De uma coisa temos a certeza: o caminho nunca poderá ser o que foi seguido no Mundial de Clubes de Futebol de Praia 2021.
Apesar de todos os constrangimentos, de todas as situações inusitadas e inadmissíveis em alta competição, o SC Braga honrou a sua história nesta modalidade, deu tudo para manter o título que tinha conquistado nas últimas duas edições, provou ser a melhor equipa e só por situações que estiveram à vista de todos na final não conseguiu conquistar o tricampeonato.