A 34ª edição dos Festivais Gil Vicente, em Guimarães, prossegue a 9, 10 e 11 de junho com os espetáculos “O Desprezo” dos auéééu, que se propõem a pensar o sentimento de desprezo inspirados pelos filmes Le mépris e Weekend, de Jean-Luc Godard, “Another Rose” de Sofia Santos Silva (obra vencedora da 4ª edição da Bolsa Amélia Rey Colaço) que projeta um diálogo entre a realidade oriental e ocidental a partir de um contexto particular em colaboração com um grupo ativista fundado por mulheres no norte da Índia, e “Ainda Marianas”, criação de Catarina Rôlo Salgueiro e Leonor Buescu a partir do livro As Novas Cartas Portuguesas.
Terminada a primeira semana de espetáculos com as estreias de “Tratado, A Constituição Universal” (Diogo Freitas) e “Massa Mãe” (Sara Inês Gigante) no Centro Cultural Vila Flor (CCVF) e a apresentação de “Limbo” (Victor de Oliveira) no Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG), três novas propostas surgem em cena já a partir desta quinta-feira com um contínuo olhar questionador sobre o mundo.
Os Festivais Gil Vicente seguem assim no dia 9 de junho com “O Desprezo” dos auéééu, que se propõem a pensar o sentimento de desprezo, esta ausência de consideração pelas relações que cultivamos nas nossas vidas, o exercício de poder dominante, a manutenção dos seres desprezados. Pressupondo o sentimento de desprezo uma relação do olhar do outro sobre o ser desprezado – um olhar que o torna invisível, que renega ao primeiro gesto de humanidade pois não o reconhece como seu semelhante, que o reduz a uma insignificância e lhe retira existência – ou melhor, conferindo-lhe uma existência indiferente, os auéééu lançam questões como: O que nos diz este desprezo? O que nos diz acerca de quem despreza e de quem é desprezado? Que pensamento estruturante é revelado a partir dessa observação?
Talvez uma das possíveis respostas às perguntas acima formuladas possa ser dada pelas duas peças que fecham esta edição, onde o poder da mulher responde de forma inteligente, firme e destemida ao contexto patriarcal e opressor. “Another Rose” (10 junho) de Sofia Santos Silva (obra vencedora da 4ª edição da Bolsa Amélia Rey Colaço) projeta um diálogo entre a realidade oriental e ocidental a partir de um contexto particular, propondo uma colaboração com Gulabi Gang, um grupo ativista fundado por mulheres, sediado em Uttar Pradesh, no norte da Índia, para dar resposta à violência sistémica e discriminação generalizada de uma sociedade assente em práticas e costumes patriarcais que banalizam a violência sobre as mulheres.
Sobre esse combate nunca fechado contra a violência e censura, surge o espetáculo “Ainda Marianas” (11 junho), criação de Catarina Rôlo Salgueiro e Leonor Buescu a partir do livro As Novas Cartas Portuguesas publicado em 1972 por Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, tendo este como ponto de partida as Cartas Portuguesas, romance epistolar publicado anonimamente, em 1669, e atribuído à freira Mariana Alcoforado. Uma obra essencial do feminismo, que em 2022 faz 50 anos, e que realça a perspetiva partilhada por Rui Torrinha, diretor artístico dos Festivais Gil Vicente, ao afirmar que “Os novos lugares que procuramos construir em sociedade também passam por um entendimento mais claro e contextualizado sobre o nosso passado.”
Os espetáculos mencionados têm sempre início às 21h30 e dispõem de uma assinatura de 15 euros que possibilita assistir às 3 criações teatrais. Estas assinaturas, bem como os bilhetes individuais para cada espetáculo (com um custo de 7,5 euros ou 5 euros com desconto), podem ser adquiridas online em aoficina.pt (onde é possível consultar toda a informação acerca deste evento) ou presencialmente nas bilheteiras do Centro Cultural Vila Flor, Centro Internacional das Artes José de Guimarães, Casa da Memória e Loja Oficina, bem como nas Lojas Fnac, El Corte Inglés, Worten.