Num jogo impróprio para cardíacos, o FC Porto sofreu a bom sofrer para assegurar a presença na final da Taça de Portugal, perante um Famalicão que deu imensa luta e colocou em sentido os campeões portugueses, com uma exibição monumental de Iván Jaime.
Um erro de Cláudio Ramos com os pés, antes do golo de Cádiz, quase permitiu ao Famalicão inaugurar o sonho desperto. Marko Grujic, quase irrelevante quando tem a bola no pé, cortou e convocou um suspiro coletivo. Os primeiros 20 minutos ofereceram um FC Porto irreconhecível, que não sabia ter a bola e, sobretudo, desmontar a linha de cinco do rival, quando Mihai Dobre se juntava a Riccelli, Otávio Silva, Francisco Moura e ao bom do Alexandre Penetra, o lateral que fez o golo na primeira mão. Por esta altura, e isso sim é notícia, o Famalicão parecia querer mais do que a equipa da casa.
A eliminatória não esteve empatada muito tempo, pois logo a seguir o VAR chamou o árbitro para o aconselhar sobre um penálti sofrido por Uribe na área do Famalicão. Galeno assumiu e empatou o jogo. O golo não despertou os dragões, que desta vez não desfrutaram da incrível qualidade do discreto Pepê, mas a bola deixou de sentir alergia às botas dos senhores da casa. As saídas rápidas para o ataque do Famalicão ganharam outra vigilância, com Pepe como chefe desse gabinete, mas sentia-se do lado dos campeões nacionais uma eventual agonia física.
lim, ganiu o poste aos 60’. Mais uma vez, Iván Jaime, cheio de razão e fé no infinito, bateu na bola como quem beija alguém que gosta. A bola também prometia cumprir a sua parte do acordo. Cláudio Ramos, apostado em viver um momento bonito no Jamor, empurrou a bola com os dedos para o poste, um protagonismo que repetiria uns minutos depois com uma mancha a Penetra. Xeque ao dragão. Conceição, que esta noite igualou o mítico José Maria Pedroto (322 jogos no banco), ia mexendo na equipa, começando por Mehdi Taremi e André Franco. O gelo voltou ao relvado, o Porto queria esvaziar a esperança e esventrar o futebol dos senhores que não vinham assim de tão longe.
Mas não há frescura que bloqueie Iván Jaime, que, facilmente lançado por Ivo Rodrigues, encarou Fábio Cardoso e usou o corpo do defesa para enganar Cláudio Ramos, 2-1. O espanhol, nascido em Málaga há 22 anos, é um rapaz especial.
Uribe e Franco, com oportunidades flagrantes a seguir ao golo que causou espanto, não evitaram o prolongamento no Estádio do Dragão. A incerteza era imensa. Mudou tanto e tudo, o vento e o fulgor das pernas, menos a influência e a beleza no jogo de Otávio e Iván Jaime, resistentes à sangria das substituições, que inevitavelmente desfigurou o jogo, o mesmo que foi perdendo interesse.
O Porto empurrou o Famalicão para trás durante a segunda parte dos 30 minutos, ainda que sem grandes ideias ou ginga, um rumor de sufoco a que os rivais iam respondendo com faltas e uma ou outra entrada mais dura. Foi um exercício de resistência para os rapazes de Vila Nova de Famalicão, ameaçados aos 119’ por um voo de Taremi que chegou mais alto do que o do guarda-redes Luiz Júnior.
Conceição esfregava o rosto, preocupado. Mas o futebol tratou de ser futebol pouco depois, impiedoso para uns e magnânimo para outros. Nos últimos suspiros do prolongamento, a bola pingou à entrada da área e Otávio bateu à inglesa, cortando a bola por baixo. Foi um golaço. O Dragão foi à loucura, viam-se rostos incrédulos, promessas de lágrimas também. O internacional português, que aparentava estar esgotado e sem uma gota de suor para desperdiçar, esticou o indicador junto aos lábios. E Sérgio Conceição entregou-se ao alívio delirante, mas também aos seus habituais excessos, acabando expulso. Pouco depois, Taremi e Evanilson mataram saudades do que já foram e o primeiro fabricou um golo para o segundo extrair o veneno que outrora jorrava das suas botas. Cambalhota no marcador. Ambos os golos resultaram de lançamentos laterais.
Pela quarta vez nas últimas cinco edições, o FC Porto está mais uma vez na final da Taça de Portugal, onde vai defrontar o Sp. Braga.
Para selar o apuramento veio ainda o golo de Evanilson, que culminou com o apito final de Manuel Mota, isto depois de Sérgio Conceição ser expulso pelo árbitro da Associação de Futebol de Braga.
Declarações de Sérgio Conceição na sala de imprensa após o triunfo por 3-2 frente ao Famalicão, após prolongamento, na segunda mão das meias-finais da Taça de Portugal.
Sérgio Conceição não deixou João Pedro Sousa sem resposta após o FC Porto-Famalicão, segunda mão das meias-finais da Taça de Portugal. Tal como o técnico dos minhotos, o treinador portista explicou o que aconteceu nos instantes depois do golo de Otávio que resultou na sua expulsão.
«O senhor [João Pedro Sousa] veio aqui e chamou o Pepe de mentiroso e disse que eu era mal-educado e mal-formado. Se calhar ele é que é. O tal treinador disse que o jogo mais importante era a final do Jamor. Expetativas altas, desilusão alta», começou por dizer, em conferência de imprensa.
«Quando me levantei, fui festejar e fiz exatamente o mesmo que o atleta do Famalicão fez quando celebrou o segundo golo praticamente na direção do Super Dragões. Não falei com ninguém, só fui de punhos cerrados e fui expulso. Quando fui expulso, disse ao senhor que esteve aqui que o jogador dele foi mal-educado com o Pepe e com os nossos adeptos [ndr: Colombatto foi quem alegadamente insultou Pepe enquanto Iván Jaime foi o autor do 1-2]. Não chamei nomes a ninguém como ele [João Pedro Sousa] disse que chamei aos árbitros e aos jogadores. Foi exatamente isto que se passou. Estou farto de diabos com cara de anjos e farto de hipocrisia. Sei o que disse ao senhor treinador que esteve aqui», acrescentou ainda.
Em declarações na sala de imprensa do Dragão, João Pedro Sousa considerou que o Famalicão «foi muito melhor» que o FC Porto, na segunda mão das meias-finais da Taça de Portugal e lamentou a eliminação no prolongamento.
«É importante ter bons jogadores e eu tenho essa felicidade. Os jogadores acreditam no processo de treino e de jogo Temos ambição e o nosso discurso sempre foi esse. Mesmo quando estávamos em 16.º lugar, o nosso discurso era ambicioso. O objetivo era ir o mais longe possível na Taça, nunca desistimos da ideia de chegar à final», começou por dizer.
«Ter jogadores com esta capacidade técnica, tática e mental, é fundamental para fazer jogos deste nível. Foi um jogo de nível muito alto. Sabíamos que seria difícil, mas que era possível ser melhor que o FC Porto. Fomos melhores, muito melhoes. Estes jogadores, este clube e a cidade mereciam jogar a final da Taça», reforçou.
«Sejam jogadores, sejam treinadores, dirigentes, quem disser que o Colombatto ofendeu alguém, é mentira. É mentira. Não importa quem foi. Se alguém disse, é mentiroso ou percebeu mal. Há que ter cuidado com a forma como se acusam as pessoas.
[Falou com Colombatto?]
«Sim. O Santiago é um senhor. É um grande profissional. Deixa tudo no campo e não é na competição, é no treino, antes do treino e depois. No fundo, é um senhor. Só lhe perguntei uma vez e se ele tivesse, por alguma razão, feito o que o acusam, com o carácter que tem, ele assumia rapidamente e disse-me que é mentira. Se alguém o diz, treinadores, jogadores ou dirigentes, se dizem isso são mentirosos.»