O presidente do PSD defendeu hoje que o apoio à sua liderança “é inquestionável”, após uma reunião do grupo parlamentar marcada por questões internas e em que não foi aplaudido em nenhuma das intervenções, o que considerou “pouco relevante”.
Luís Montenegro não fez declarações à comunicação social no fim de uma reunião de duas horas do grupo parlamentar, em que foi questionado por alguns deputados sobre temas que geraram tensão na bancada, como o voto favorável às iniciativas de Chega e IL para um inquérito parlamentar às ‘secretas’ ou a abstenção na moção de censura dos liberais ao Governo.
Questionado pelos jornalistas sobre o clima entre a direção do partido e a bancada, o presidente do PSD respondeu, enquanto caminhava, que se tratou de “uma ótima reunião”, “uma conversa normal com os deputados, e que se registou “um espírito de equipa e de entreajuda”.
E à pergunta se não estranhou a ausência de palmas às suas intervenções, Montenegro desvalorizou: “Não me lembro se tive sempre ou se não tive [palmas], sinceramente acho que isso não é relevante, o apoio à liderança é inquestionável”.
Na intervenção inicial, Montenegro tinha defendido que os portugueses valorizam a capacidade do partido de se manter “unido e coeso” e apelou a que esse capital não seja desperdiçado.
Na fase das perguntas, de acordo com relatos feitos à Lusa, os deputados Maria Emília Apolinário e António Topa Gomes lamentaram que não tivesse abordado alguns problemas que consideram existir na bancada, enquanto o deputado Rui Cristina assumiu que se precipitou, há algumas semanas, a enviar um requerimento — que depois o líder parlamentar mandou retirar — e pediu desculpas à bancada pelo erro.
Na intervenção final, Montenegro admitiu que não tencionava falar nesses temas, mas disse não querer fugir nada.
“Não quero cortar a liberdade de ninguém, mas temos uma responsabilidade perante o país (…) Seria imperdoável se se deitasse tudo a perder por razões menores”, disse, considerando que os portugueses querem é ouvir o PSD sobre matérias como saúde e educação.
Aos deputados — dizendo saber que tudo o que dizia dentro da reunião seria ouvido “lá fora” –, avisou que “uma imagem de desunião, se for muitas vezes passada, acaba por fazer o seu caminho”.
Sobre a decisão de abstenção na moção de censura da IL ao Governo, em janeiro, Montenegro lembrou que anunciou esta decisão numa reunião da bancada e disse que, meses depois, ainda está mais seguro da decisão de não aprovar essa moção.
“Teria sido um ato de profundíssima desinteligência e irresponsabilidade política”, considerou, desafiando os deputados a pensarem qual queria hoje a margem de intervenção do PSD se tivesse apoiado eleições antecipadas que “a sociedade não quer”.
Sobre o inquérito às ‘secretas’, admitiu que o PSD teve “uma posição final que não era a de início”, tendo decidido não apresentar uma iniciativa própria, mas não obstaculizar as de Chega e IL (com ‘chumbo’ garantido pelo PS), posição que seria mal compreendida pelos portugueses.
Montenegro voltou a manifestar confiança no líder parlamentar, admitindo que nem sempre Joaquim Miranda Sarmento pensa como ele, mas tem “o dever” de transmitir as posições da direção, recordando que quando presidiu à bancada também se “chateou às vezes” com o então primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, e considerou que ele
Aos que podem criticar Miranda Sarmento por “não ser impulsivo ou não levantar a voz”, Montenegro contrapôs que “é eficaz” a pensar a mensagem definida pelo partido nos debates.
Perante uma bancada herdada da anterior direção de Rui Rio, Montenegro considerou que é preciso perceber que nunca vão estar todos de acordo, e há coisas que “demoram a sarar”, mas deu o seu exemplo pessoal para dizer que hoje está o lado de pessoas contra as quais esteve no passado e reiterou que “este é o seu grupo parlamentar”.
Sobre a evolução do partido no último ano, pediu “uma análise fria” e que os deputados não se deixem influenciar pelos que “desejam um insucesso do PSD” e comparou a sua situação à de Durão Barroso e Passos Coelho antes de vencerem eleições.
“Temos uma margem de crescimento superior à do PS, não é dizer que está tudo bem, mas incito-vos a não perderem as vossas energias em questões laterais”, disse, num discurso feito num tom calmo.