Desigualdade de género no voto jovem é das mais acentuadas da UE e estará ligada à precariedade e ao declínio económico dos jovens homens
Portugal é um dos países da União Europeia com maior desigualdade de género no voto jovem à extrema-direita, revela um estudo do European Policy Centre, citado pelo Público. Segundo os dados, por cada rapariga com menos de 25 anos que vota num partido de extrema-direita, há 4,9 rapazes que o fazem.
Este valor coloca Portugal entre os países com maior desequilíbrio de género neste tipo de voto, superado apenas pela Croácia (6 para 1) e seguido por Espanha (4,6 para 1).
O relatório — intitulado “From provider to precarious: How young men’s economy decline fuels the anti-feminist backlash”, da autoria do analista Javier Carbonell — aponta como principal explicação a deterioração das condições económicas e sociais dos jovens homens. O autor defende que a ascensão do antifeminismo e do apoio à extrema-direita por parte destes jovens não é apenas uma reação ideológica ao feminismo, mas um reflexo das frustrações associadas à perda de oportunidades económicas, educação e estabilidade.
“O aumento do antifeminismo entre os jovens rapazes resulta da crescente precariedade, sobretudo entre os trabalhadores sem curso superior”, lê-se no relatório.
Nas eleições europeias de 2024, segundo os Estudos Eleitorais Europeus, 17,2% dos rapazes portugueses com menos de 25 anos votaram na extrema-direita, quase o dobro da percentagem de raparigas (9,5%).
O estudo contextualiza estes dados com tendências mais amplas. Em toda a União Europeia, as mulheres jovens estão a ultrapassar os homens em educação: 48,8% das mulheres entre os 25 e 34 anos têm formação superior, contra 37,6% dos homens. Além disso, em países como o Reino Unido, França, Espanha e Canadá, há mais homens jovens fora do mercado de trabalho do que mulheres — uma inversão histórica.
Carbonell alerta que muitos destes jovens homens, sem estabilidade financeira ou identidade profissional definida, são levados a identificar-se com a visão tradicional de masculinidade promovida por movimentos de extrema-direita, que capitalizam a frustração e fornecem culpados fáceis, como o feminismo, em vez de soluções estruturais.