Sindicato denuncia empresa obrigada pelo tribunal a reintegrar funcionária. Desde maio, Cristina Tavares cumpre nove horas de trabalho sem sair do sítio, a arrumar sacos de cinco mil rolhas.
O Tribunal da Relação do Porto obrigou uma empresa de cortiça de Paços de Brandão, Feira, a indemnizar e a reintegrar uma trabalhadora que tinha sido despedida. O Sindicato da Cortiça diz que a mulher foi, agora, colocada diariamente de “castigo” a carregar e a descarregar sempre os mesmos sacos de rolhas numa palete.
“Não saio do mesmo sítio todo o dia. Carrego e descarrego a mesma palete com sacos de cinco mil rolhas mais de 30 vezes por dia, durante nove horas”, explicou ao JN Cristina Tavares, lembrando que “ainda tem que os alinhar e colocar todos certinhos”.
Sacos que terão um peso entre os 15 e os 20 quilos, num ambiente de temperaturas muito elevadas, que a leva a ter frequentes hemorragias nasais. A trabalhadora da corticeira Fernando Couto-Cortiças, SA, diz que é um “castigo”, por ter sido readmitida na empresa por decisão do tribunal, “para ver se vai embora”.
“Sou sozinha e tenho um filho doente de 21 anos que preciso de alimentar”, adianta a mulher, justificando desta forma a “força” que diz ter encontrado para conseguir trabalhar em tais circunstâncias.
Empresa nega acusações
O Sindicato dos Corticeiros afirma que Cristina Tavares regressou em maio passado, passando desde então “a ser alvo de comportamentos discriminatórios”.
“Foi-lhe atribuída em exclusivo uma casa de banho com tempo de uso controlado e sem o mínimo de privacidade, de tal modo que a trabalhadora se viu obrigada a trazer de casa um pano preto para ocultar a visibilidade para o interior”, explica o sindicato.
A estrutura sindical refere que os “atropelos continuam a ocorrer, em desrespeito pela decisão do Tribunal da Relação do Porto e mesmo após a Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT) efetuar duas ações inspetivas à entidade patronal e elaborado um auto de notícia por assédio moral”.
Os factos são negados pela empresa. Vítor Martins, diretor financeiro, diz ter sido surpreendido com as acusações. “É tudo falso e já encaminhamos o assunto para o nosso departamento jurídico”, explicou. “Há muita mentira pelo meio”, acrescentou o responsável, dizendo que a ACT informou a empresa que o processo por assédio moral “estava arquivado”.