Adolfo Monteiro é recluso do estabelecimento prisional de Braga há quatro anos, mas desde o ano passado ganhou “alguma liberdade”, ao ser destacado para o projeto do presépio de Priscos, em Braga.

Ali, diz que aprendeu “a fazer de tudo” e, por isso, é com entusiasmo que vê o novo desafio que lhe pode passar pelas mãos: construir casas para ex-reclusos que não têm retaguarda familiar, assim que terminam as penas.

João Torres, o pároco responsável por levar todos os anos alguns reclusos a construir o presépio, é quem quer agora pegar nesses homens e pô-los também a erguer cinco casas para ex-colegas que saem da cadeia sem rumo definido.

Moradias de transição

“Serão moradias individuais. E cada um vai ser o gestor da sua casa. A ideia é que os ex-reclusos aprendam a cozinhar e a cuidar de um lar. Queremos criar um ambiente normal para uma pessoa que regressa à sociedade”, explica o pároco, acrescentando que serão casas de transição e o objetivo é que “não sejam ocupadas por mais de seis meses por cada pessoa”.

Adolfo Monteiro, 36 anos, diz que não precisará de usufruir das habitações. Tem sete filhos e a mulher à espera. Mas reconhece: “Há muitos colegas que não têm ninguém. Pessoas que precisam de um lar quando saem. Não têm casa, não têm nada”, conta, tecendo elogios ao projeto, que é também uma forma de reclusos, como ele, terem a oportunidade de trabalhar fora da cadeia.

“O grande objetivo de quem está preso é conseguir chegar a Priscos. Passamos bem o tempo, sentimo-nos mais livres e aprendemos a ter regras”, descreve Adolfo. Ao seu lado, Joaquim Pinto, com 38 anos, pela primeira vez a viver a experiência de trabalhar no presépio, acrescenta: “Aqui nem se dá pelas horas a passarem”.

“Priscos significa liberdade”, concretiza João Torres, que tenciona edificar as casas de transição nos terrenos contíguos ao presépio. O projeto, um dos vencedores do Orçamento Participativo de Portugal, tem um prazo de execução de dois anos, com uma dotação de 300 mil euros. Foi submetido ao programa do Governo, em conjunto com as voluntárias da Pastoral Penitenciária de Braga, Sílvia Oliveira e Marcela Dias.

“Algumas pessoas ficam sobressaltadas, porque dizem que os reclusos não merecem nada. Mas, se nós conseguirmos que alguém tenha uma trajetória diferente, estamos a dar um contributo enorme à sociedade. Este projeto pensa nos reclusos e nas vítimas, porque se diminuirmos o número de pessoas a praticar crimes, diminuímos o número de vítimas”, conclui João Torres.

Promover uso da bicicleta e educação rodoviária

Na Região Norte, o Orçamento Participativo de Portugal também premiou o projeto Academia do Ciclas, que pretende promover a mobilidade ciclável e a educação rodoviária nas escolas, recorrendo a atletas de ciclismo e a técnicos da Autoridade Intermunicipal de Transportes do Cávado. A proposta será aplicada em Amares, Barcelos, Braga, Esposende, Terras De Bouro e Vila Verde e estima-se que tenha um custo de 300 mil euros. Os proponentes foram João Sousa, Luís Fernando Araújo e Andrea Carrillo Petiz.