Pistolas Glock da PSP foram roubadas aos poucos durante um ano

Um dos suspeitos de ter sido um dos intermediários para a venda das armas da PSP a organizações criminosas, terá também estado envolvido no assalto a Tancos. Foi detido pela PJ esta segunda-feira e fico em prisão preventiva.

As 57 pistolas Glock terão sido desviadas uma a uma da sede da PSP, com a ajuda de dois agentes ao serviço no armazém onde estavam guardadas as armas. Esta é, pelo menos, a convicção dos responsáveis por este inquérito, dirigido pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), tendo em conta os indícios já recolhidos.

Este furto, recorde-se, foi detetado em final de janeiro de 2017, quando um traficante de droga foi apanhado com uma destas pistolas – com a inscrição “Forças de Segurança” – numa operação da PSP, no Porto. As Glock foram desviadas nos seus estojos, com carregadores e munições.

De acordo com os indícios já recolhidos no inquérito, dirigido pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), a cargo da Divisão de Investigação Criminal do Comando Metropolitano de Lisboa da PSP, as pistolas foram sendo desviadas durante todo o ano de 2016, aos poucos, para que não fosse detetada a sua falta.

Sete suspeitos deste furto, entre os quais dois polícias, foram detidos numa operação policial esta quarta-feira. Os dois agentes foram de imediato suspensos assim que o furto foi confirmado e alvo de processo disciplinar, tendo continuado sob vigilância da própria PSP.

As pistolas terão sido escoadas para organizações criminosas, principalmente ligadas ao tráfico de droga. Oito das 57 Glock foram recuperadas – quatro em operações da PSP em Portugal, ligadas à prevenção de armas ilegais e ao tráfico de estupefacientes; outras quatro em Espanha (três das quais na Andaluzia e uma Ceuta) também na posse de gangues criminosos.

O inquérito interno da PSP, instaurado por ordem da então ministra da Administração Interna Constança Urbano de Sousa, identificou “falhas de supervisão e controlo” no Departamento de Apoio Geral (DAG), que tinha a responsabilidade pelo armazém das armas.

Na altura em que o furto terá decorrido, o departamento era dirigido por um oficial, superintendente Paulo Sampaio, mas quando o crime foi detetado, estava na Guiné-Bissau, acabado de nomear por Constança Urbano de Sousa.

A ministra determinou a sua exoneração do cargo, mas o oficial recorreu para a justiça. O tribunal acabou por confirmar a decisão da ex-ministra no passado mês de outubro e o superintendente foi mandado regressar. O processo disciplinar interno ainda está a decorrer.

Munições de Tancos foram para as Glock?

A ligação entre este furto e o de Tancos, tem alimentado algumas teorias. Em comum, os furtos em Tancos e na sede da PSP – ambos dirigidos pelos mesmos procuradores no DCIAP, têm o suspeito de nome A. Laranginha, que pode ter sido intermediário em ambos os casos. Este suspeito foi um dois oito detido pela PJ, na operação desta segunda-feira, que visa esclarecer o roubo nos paióis militares.

Mas este suspeito será a única coincidência. A convicção, assente nos indícios já recolhidos, de que as Glock terão saído aos poucos da sede da PSP, é um dos argumentos dos investigadores para refutarem a tese de ligação entre este furto – que terá decorrido ao longo de 2016 – e o assalto a Tancos, em junho de 2017, no qual foram furtadas 1500 munições de 9mm (utilizadas em pistolas como estas) além dos explosivos e granadas.

Estas munições nunca foram recuperadas, ao contrário da maior parte do restante material, e esse facto tem servido para alimentar teorias de que serviram para encher os carregadores das Glock furtadas na PSP.

“A investigação ainda está a decorrer, mas, para já, não faz muito sentido que as munições furtadas em Tancos tenham sido para utilizar nas pistolas da PSP. Isto porque, de acordo com os indícios recolhidos até agora, as pistolas foram roubadas aos poucos durante 2016 e colocadas logo no mercado criminal, em grupos com atividade em Portugal e em Espanha. Dessa forma, será inverosímil que as munições tenham sido roubadas para elas, quando já estavam dispersas no mercado há tanto tempo”, sublinha uma fonte que está a acompanhar o processo.