Ainda vale a pena investir num carro a diesel?

Se comprar um carro a gasóleo vai conseguir um bom valor pela troca daqui a quatro ou cinco anos? Ministro junta-se aos ambientalistas e diz que os elétricos serão mais baratos e eficazes. Setor automóvel condena e considera esta perspetiva um mau prenúncio para Portugal.

É uma ideia já várias vezes reiterada pelos governos de inúmeros países: os carros a diesel não têm futuro.

Cidades como Copenhaga, Londres, Atenas, Madrid ou Paris já anunciaram medidas para, nos próximos anos, proibir a circulação de carros a gasóleo nas suas ruas e também há perspetiva de se vir mesmo a banir os motores a combustão nas próximas décadas.

Quando o escândalo de emissões da Volkswagen relançou o debate em Bruxelas, a comissária europeia com as pastas do mercado interno, indústria, empreendedorismo e PME, Elzbieta Bienkowska, chegou mesmo a dizer que os carros a diesel são uma “tecnologia do passado” e “estão acabados”, acreditando que “em alguns anos eles vão desaparecer por completo”.

Quando, no entanto, o ministro do Ambiente fez uma declaração semelhante, foi recebida como uma bomba pelo setor.

“Hoje é muito evidente que quem comprar um carro diesel muito provavelmente daqui a quatro ou cinco anos não vai ter grande valor na sua troca”, disse José Matos Fernandes em entrevista ao Jornal de Negócios e Antena 1 .

É uma frase “infeliz”, defende a Associação Automóvel de Portugal (ACAP). “É lamentável e não corresponde à realidade” , disse Hélder Pedro à TSF.

Apesar de o peso do diesel nas vendas automóveis ter caido de 61% para 53,2% no ano passado, este não é um setor moribundo. Em prol do ambiente estão a ser desenvolvidos novos motores diesel, que terão menos emissões do que os do passado, assegura o secretário-geral da ACAP.

Além disso, reforça, o ministro devia ter ponderado o peso que as suas declarações podem ter na economia, já que a indústria automóvel é o principal exportador português.

“Esta é uma matéria delicada. Fábricas como a Autoeuropa, a PSA, a Mitsubishi e a Salvador Caetano produzem em Portugal, dão empregos, produzem riqueza e exportam veículos diesel para outros países europeus, onde esse mercado existe”, sublinha Hélder Pedro.

O presidente do Automóvel Clube de Portugal (ACP) foi mais longe nas críticas ao ministro. “Nunca vi tanta asneira junta a sair de uma boca”, escreveu Carlos Barbosa no Facebook.

Já a associação ambientalista Zero diz que “a perspetiva do ministro do Ambiente está em completa consonância com a perspetiva que temos em relação à evolução da tecnologia automóvel no futuro próximo”.

Em declarações à Lusa, Francisco Ferreira, presidente da Zero, diz que vários estudos apontam para que dentro de três anos os carros elétricos “terão maior autonomia e serão mais baratos do que os veículos a gasolina e a gasóleo”.

Já não serão, por isso, necessários incentivos à aquisição, defende. Atualmente, os carros elétricos estão isentos do imposto sobre circulação e do imposto petrolífero.

O gasóleo é o principal culpado pelas emissões de gases com efeitos de estufa e redução da qualidade do ar nas grandes cidades. Contudo, os carros elétricos não são completamente amigos do ambiente.

Um estudo do Instituto Sueco de Pesquisa Ambiental, divulgado em 2017, defende que a produção das baterias de lítio atualmente usadas nos carros elétricos tem um impacto ambiental semelhante a conduzir um carro a gasolina durante vários anos.