Nasceu Salvador. Mãe foi mantida em morte cerebral até dar à luz

O bebé nasceu com 31 semanas e seis dias de gestação.


Nasceu Salvador, o filho da jovem canoísta que estava em morte cerebral na sequência de um ataque de asma. Catarina Sequeira estava, na altura, grávida de três meses.

O bebé-milagre acabou por nascer esta quinta-feira, dia 28 de março, no Hospital de São João,  Já quanto ao estado de saúde do menino, “ainda não há certezas”. Salvador, saliente-se, nasceu prematuro, com 31 semanas e seis dias de gestação. É, por isso, considerado um prematuro extremo. 

“O Salvador nasceu às 04h32 de hoje e está internado no Serviço de Neonatologia do Centro Hospitalar Universitário São João (CHUSJ)”, confirmou, entretanto, à Lusa fonte hospitalar.

Recorde-se que a situação clínica que levou à morte cerebral de Catarina ocorreu por altura do Natal. Clinicamente, a jovem de 26 anos estava morta, mas foi mantida em suporte de vida até que fosse plausível, aos olhos da equipa médica, realizar o parto. 

O funeral da mãe de Salvador está previsto para esta sexta-feira e será realizado em Crestuma, Vila Nova de Gaia, localidade de onde a jovem era natural. 

Este é o segundo bebé a nascer em Portugal com uma mãe em morte cerebral. O primeiro, Lourenço, nasceu em 2016 no Hospital de S. José, em Lisboa, depois de a respetiva comissão de ética ter concordado manter a mãe ligada às máquinas até às 32 semanas de gravidez.

Naquele caso, o feto sobreviveu 15 semanas na barriga da mãe que estava em morte cerebral depois de ter sofrido uma hemorragia intracerebral, tendo sido o período mais longo alguma vez registado em Portugal.

Médicos e membros do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida ouvidos esta semana pelo jornal Público afirmaram não ter dúvidas de que prolongar artificialmente as funções vitais da mãe faz sentido, desde que a família concorde, uma vez que há um valor preponderante, que é o de uma vida, a da criança.

O presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal, Luís Graça, disse ao diário que optar por deixar crescer um feto no útero da mãe em morte cerebral faz todo o sentido.

“Se podemos salvar um ser vivo, não há dúvidas nem discussões éticas a fazer-se”, defendeu.

Gonçalo Cordeiro Ferreira, que preside à Comissão Nacional de Saúde Materna, da Criança e do Adolescente observou, em declarações ao jornal, que “cada caso é um caso com as suas peculiaridades”, pelo que “não há jurisprudência ética”.

O médico defendeu que esta é uma situação que levanta não apenas questões éticas mas também técnicas, descrevendo que os cuidados intensivos e de obstetrícia “têm que fazer o milagre” de reproduzir as condições e as substâncias necessárias à gestação do bebé com a mãe em suporte avançado de vida.

Miguel Oliveira da Silva, ex-presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV), afirmou ao Público que, “se se pode salvar a criança”, acha “muito bem”.

Acrescentou que há “pouquíssimos casos deste tipo no mundo” e que ninguém sabe quais serão as consequências deste processo, sobretudo a nível psicológico”, notando que, “ponderando todos os riscos, trata-se sempre de uma criança que vai poder viver”.