Apesar de terem passado pouco mais de 24 horas desde a partida de Cabo Canaveral, no espaço os minutos para Neil, Edwin e Michael pareciam horas. Tinha percorrido já 237.854 quilómetros e as frágeis naves (MCS e ML) voavam agora a 1.337 metros por segundo, rumo à Lua.

Da Terra surgiam agora outras solicitações, menos científicas e um pouco mais mediáticas, que os astronautas teriam de executar. Era tempo de mostrar aos terráqueos – a começar pelo centro de controlo – a visão da vida a bordo do módulo Columbia.
Charlie Duke era o elo de ligação entre a Terra e os astronautas a caminho da Lua. Foi membro da tripulação de apoio aos astronautas para o voo da Apollo 10 e designado como Capcom para a Apollo 11. Segundo o próprio, foi Neil Armstrong – o primeiro homem na Lua – quem pediu a presença de Duke no rádio.
As ordens eram agora para preparar a câmara, as luzes e mostrar um pouco de ação.
Duke: Apollo 11, Houston. Nós vemos-te parado na PTC; a atitude parece boa para nós. Mike, eu gostaria de ter uma verificação de comunicação. O último par de transmissões da nave espacial foi errado, especialmente do Buzz. Vocês os dois poderiam dar uma confirmação de comando? Terminado.
Aldrin: Entendido, Charlie. Fala o Buzz agora. Como é que estás a receber? 1, 2, 3, 4, 5; 5, 4, 3, 2, 1.
Duke: Roger. Estás a cerca de quatro-by com uma ligeira diminuição/aumento no volume, um volume ondulado para ele. Câmbio.
Aldrin: Ok. Eu movi o meu microfone de um lado para o outro. Que tal agora? Está melhor?
Duke : Ei,  é isso. Lindo aí. Obrigado.
Collins: Ok, Charlie. 1, 2, 3, 4, 5; 5, 4, 3, 3, 2, 1. Como é que me estás a receber?
Duke: Entendido. Estás cinco em cinco (sinal). Neil está ligado?
Armstrong: 1, 2, 3, 4, 5; 5, 4, 3, 2, 1.Duke: Roger, Neil. Estás cinco em cinco.
Testes efetuados, o show televisivo começaria em breve.

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Duke: Ok, 11. Temos imagem. Estamos a ver a Terra bem no centro do ecrã. Over.
Armstrong: Roger, Houston. Apollo 11 a chamar a uma distância de 241.000 quilómetros. E vamos ampliar a câmara lentamente e obter a maior ampliação possível. Sobre.
Duke: Roger.
PAO: A imagem está a chegar de uma distância de 239.000 quilómetros.
Duke: 11, Houston. A definição é muito boa no nosso monitor aqui. A cor não é muito [confusa], pelo menos neste conjunto. Podes descrever o que estás a ver? Over.

Neil Armstrong espreita pelo “pequeno postigo” à esquerda, presente no Módulo de Comando, e revela-se a visão – uma espécie de ovo mesclado de tons azuis e brancos, sob o fundo vazio e negro.

Armstrong: Roger. Estás a ver a Terra, como a vemos, na nossa janela da esquerda, apenas um pouco mais da metade da Terra. Estamos a ver o leste do Oceano Pacífico e, para a metade norte, na metade superior do ecrã, podemos ver a América do Norte, o Alasca, os Estados Unidos, o Canadá, o México e a América Central. A América do Sul está um pouco visível dentro da sombra. Podemos ver os oceanos com um molde azul definido, ver bandas brancas de grandes formações de nuvens em toda a Terra, e podemos ver as costas, o oeste dos Estados Unidos da América, o vale de San Joaquin, a cordilheira de Sierra, a península de Baja Califórnia e algumas formações de nuvens sobre o sudeste dos EUA. Há uma tempestade moderada a sudoeste do Alasca; parece cerca de 500 a 1000 milhas e outra tempestade muito menor mostrando a extremidade sul do ecrã (…). Podemos ver muito bem os castanhos dos relevos. Os verdes não aparecem muito bem. Algumas zonas verdes aparecem ao longo do nordeste – costa noroeste dos Estados Unidos e costa noroeste do Canadá. 

Missão seguida por cientistas, engenheiros e cidadãos comuns
De olhos postos no céu, mas com os pés bem assentes na Terra, estavam milhões de pessoas, por todo o globo, que seguiam diariamente, através da imprensa, a aventura espacial protagonizada pelos astronautas americanos.

Uma missão espacial mas também política encetada pelo então Presidente John F. Kennedy, que, no dia 25 de maio de 1961, anunciou o mais ambicioso dos objetivos dos Estados Unidos: colocar um americano na Lua antes do final da década. 
“Peço ao Congresso um aumento das verbas que já tinha requisitado para atividades espaciais (…) Primeiro, eu acredito que esta nação deve comprometer-se com alcançar o objetivo, antes do final da década, do desembarque de um homem na Lua e fazê-lo regressar em segurança à Terra (…) Não será apenas um homem a ir até à Lua, será uma nação inteira. Para todos nós, devemos trabalhar em conjunto para o pôr lá”. 

Discurso de John F. Kennedy perante o Congresso norte americano anunciando o mais ambicioso dos objetivos: colocar um homem na lua (21 maio 1961).

Do ponto de vista estratégico, este feito poderia mudar o curso da história, depois de os russos terem sido os primeiros a colocar um satélite no espaço e o primeiro homem em órbita terrestre. No contexto da Guerra Fria, Kennedy queria mais. 

O assassinato do Presidente, em 1963, afastou-o de um dos maiores passos dados na história da ciência e da tecnologia espacial realizado pela humanidade. 

In Diário de Lisboa (julho1969)/Cortesia BNP

Magia da televisão leva Espaço em direto até milhões de pessoas
Ainda nos dias correntes, assistir de forma confortável, em direto, à chegada de um aparelho humano a um planeta, asteroide ou qualquer outro objeto extraterrestre é considerado algo fora do comum. Imaginemos então como terá sido a euforia, em 1969, de ver um ser humano a viajar para fora do planeta e “imprimir” no solo lunar a marca de uma bota.
De acordo com as informações que chegavam via EBU (União Europeia de Radiodifusão) seriam cerca de 600 milhões os telespectadores a assistir aos relatos diários da viagem extraordinária à Lua.
Segundo o Diário de Notícias de junho de 1969, como se de uma união planetária se tratasse, uma vasta massa populacional, desde os Estados Unidos ao Panamá, passando pela Europa, desde o extremo ocidental ao oriental, e mesmo África, teria acesso às imagens únicas e incríveis do feito realizado pelo homem, até ao momento da chegada às finas poeiras lunares.

In Diário de Notícias (julho 1969) /cortesia BNP
A loucura foi tanta que no Japão, por exemplo, a procura por televisões esgotou o stock que o mercado tinha para oferecer. Certo é que as cinco maiores redes televisivas existentes neste país asiático, em 1969, tinham agendado na sua programação 35 horas com debates e imagens em direto da viagem até à Lua.
Entrada e reconhecimento do Módulo Lunar
O Controlo Apollo na Terra apresentava a contagem nas 55 horas e dez minutos. Chegara o momento de os astronautas entrarem no Módulo Lunar, batizado de “Eagle” (Águia de cabeça branca – presente no brasão da missão e na simbologia dos Estados Unidos da América) que representa o espírito na nação norte-americana.
O relações públicas da NASA [PAO] informava agora que estavam a receber o sinal televisivo em boas condições e queriam ver a tripulação da Apollo 11 a entrar no ML, embora os astronautas, mais preocupados com as funções às quais tinham de realmente dar importância, desvalorizavam esta transmissão… e até não lhe achavam propriamente graça.

PAO: Os nossos controladores de rede avisaram que estamos a receber o sinal de televisão ao vivo na Goldstone. Presumimos que este é um teste do sistema, semelhante ao que recebemos da tripulação ontem. A tripulação está a planear enviar imagens do Módulo Lunar quando eles entrarem. Aguarde – está aqui uma chamada para a tripulação.
Duke: Apollo 11, Houston. Estamos a receber o sinal de TV em Goldstone. Não estamos bem configurados aqui em Houston para a transmissão. Receberemos os sinal dentro de alguns minutos. Terminado.
Aldrin: Roger. Isso é apenas uma graça. Não era isto que tínhamos em mente.
Duke: Roger.
(…)
A imagem de televisão recebida no centro de controlo era a preto e branco. Mas este efeito devia-se a uma quebra de sinal e a cor chegaria pouco depois.
PAO: (… ) Vista interna do Módulo de Comando olhando para cima na área da escotilha ML, MCS/ML. Não sabemos bem qual o tripulante que estamos a ver no túnel a trabalhar com o conjunto da sonda e do extrator.
A grande escotilha metálica era agora descerrada e retraída para dentro do Módulo de Comando. O primeiro a entrar no Módulo Lunar foi o comandante da missão Neil Armstrong.

Foto composição da escotilha que dava acesso ao ML. Créditos: NASA/DR

Meia hora após as primeiras imagens Buzz, abria as janelas dentro do Módulo Lunar. E qual não foi o seu espanto quando uma forte luz solar invadiu o interior, iluminando tudo em redor.
Aldrin : Vou abrir as janelas e ver como vai ser a iluminação. 
Duke: 11, Houston. É uma imagem muito boa. Nós temos o AOT. Estás de volta agora, Buzz, e podemos ver-te a abrir uma das persianas da janela. Câmbio.Duke: A luz é soberba!
Aldrin : Como está o Sol? Como é que o Sol que está a vir desta direção? Será que vai afetar o que estás a ver?
DuKe : A iluminação é excelente no ML. Nós podemos ver o AOT, o ISA e a janela esquerda – há um pouco de brilho, mas o lado LMP – com a sombra para baixo, é realmente excelente. Over.
Aldrin: Bem, vamos – eu estou de lado, para tirar a sombra do meu lado primeiro.
Duke: Entendido. Entendido. O nível de luz para a TV é realmente excelente. Câmbio.
Armstrong : Sim, a iluminação na ML é muito boa agora, assim como completamente iluminada pelo dia; e tudo é visível. Um pouco melhor do que durante as imagens no túnel [Escotilha de entrada].
Duke: Entendido. Temos uma boa vista agora, Neil, do DEDA; e também do ACA do Buzz.
Esta entrada para o Módulo Lunar veio cerca de 40 minutos antes do Plano de Voo e presumimos que a transmissão TV, não programada, talvez esteja a ser emitida um pouco mais cedo.
Os três astronautas estavam agora, pela primeira vez, a tomar conhecimento do veículo espacial que os levaria até à superfície lunar.

Créditos Fotográficos: NASA/DR

Galeria com imagens do interior do Módulo Lunar
“Luas cheias”de imaginação
A antiga mitologia romana considerava Luna (latim) a encarnação divina da Lua. Um astro personificado num ser divino apresentado como companheira do Sol, concebido como um Deus. Luna também surge em alguns escritos antigos como deusa romana tripla (diva triformis), juntamente com Proserpina e Hécate.
Luna nem sempre foi uma deusa distinta. Foi por vezes um epíteto. Diana e Juno são identificadas como deusas da Lua. Mas não foram só os romanos a olhar para o satélite natural como uma deusa.
Também os gregos a personificavam como Selene, filha do titã Hiperião com a titânida Téa, e irmã de Hélio, personificação do Sol, e de Éos, personificação do alvorecer. Uma deusa que no campo amoroso foi prolífera, tendo-lhe sido atribuídos vários amantes.
É precisamente do nome Selene que surge o termo académico Selenolatria, ligado à adoração e a deidades lunares, independente de origem ou nacionalidade. Cultos à Lua que perduraram no tempo e chegaram até nós.

Casamento na hora certa 
Casar é sempre um momento especial. Mas para muitos noivos esta celebração não tem ser só especial, mas única. Precisamente com esse sentido Robert Wellington e Bertha Butroni decidiram dar o nó no dia em que o primeiro homem colocasse o pé na Lua. A cerimónia, que decorreu na Califórnia, foi agendada para a noite de domingo (20 de julho) para segunda (21). Convidados e noivos, de olhos postos num pequeno ecrã de TV, aguardaram até ao minuto derradeiro, em que Neil Armstrong colocava, com a sua bota, a marca humana na Lua, para dizer o Yes sacramental. De acordo com a agência France Presse, o Sim foi dito com os olhos postos no céu e celebrado à posteriori com outra Lua, ainda mais deliciosa: a de mel. 

Bebés lunares
Atualmente ninguém fica espantado se o/a colega de trabalho se chama Sandra Vanessa, Leandro ou Fábio. Influências de novelas e séries de televisão que, por gosto dos progenitores, ficam “tatuadas” na identificação dos filhos. Um gosto que se verificou em 1969, existindo alguns nomes associados ao feito científico realizado pela NASA. Por exemplo, uma mulher libanesa de 40 anos decidiu dar o nome de “Apollo 11” ao um dos filhos. Rifka Salim, mãe de sete raparigas e três rapazes, até teve honras televisivas, tendo afirmado: “Quem sabe se ele não virá a ser um daqueles que um dia hão-de descer na Lua”. 

Este não foi caso único. Na Escócia, 13 minutos após a descolagem do Saturno V em direção à Lua, nascia em Fife Neil Edwin Michael Robertson. Um nome que conjuga os nomes próprios dos três astronautas norte-americanos, homenageando desta forma a coragem e bravura destes homens. Para os país de Neil Edwin Michael Robertson, interrogados pela imprensa escocesa, não há melhor nome para batizar o filho. 

Uma bandeira americana “Made by Portuguese”
Mais do que um simbolo de um país a bandeira americana plantada em solo lunar é a imagem e a garantia da conquista humana fora de portas terrestres. Mas esta bandeira, de fibra de vidro e nylon, que ainda hoje está asteada tranquilamente no Mar (seco) da Tranquilidade, na Lua, passou pelas mãos de uma emigrante portuguesa de nome Maria Isilda Ribeiro, da região de Vagos. Um segredo guardado a sete chaves quer pela NASA, quer pela companhia de Nova Jérsia de nome Annin & Company.

In Diário de Lisboa (julho1969)/Cortesia BNP

Dia Feriado
Decretar um dia feriado não é para um momento qualquer. Foi precisamente nesse sentido que a Grécia, um país europeu ligado aos grandes pensadores e filósofos, decidiu decretar o dia 21 de julho de 1969 como feriado. Uma forma diferente de demonstrar um forte apreço por um feito da humanidade. Cinquenta anos volvidos, a Grécia continua a celebrar 14 feriados ao longo do ano, grande parte deles dedicado à religião. Mas para voltar a viver este feriado “espacial” teria de viajar no tempo e retornar a 1969.

Tchim Tchim lunares
Em grande parte da história do Homem, as bebidas espirituosas estão ligadas à celebração de um feito. Ora em forma de brinde, ora no batismo de embarcações, com a quebra de uma garrafa no casco, ou mesmo em forma de chuveiro, aquando uma vitória numa competição. Mas também houve quem quisesse associar este tipo de bebida à viagem do homem à Lua. E, por exemplo, o caso de um bar em Paris que criou um “Disparo para Lua”, um cocktail alcoólico em homenagem aos astronautas da Apollo 11, composto por Whisky, aguardente velha e limão, desconhecendo-se as quantidades aplicadas na mistura. Segundo o inventor, quem bebesse seguiria “direitinho para a Lua”.
Mas não foram apenas os parisienses a pensar nesta criação. Também os londrinos, um pouco mais acima geograficamente, tiveram ideia igual e quiseram associá-la ao acontecimento de forma mais oficial. De nome “Cocktail de Luar”, esta bebida espirituosa era servida a todos os que se deslocassem ao Observatório de Jordell Bank, durante o fim de semana espacial (19 e 20 de julho de 1969). O inventor do preparado, dono de um bar em Londres, próximo do observatório, referiu à imprensa que a receita deste precioso líquido continha vodka soviética, Coca-Cola americana e cidra britânica, em proporções mantidas em pleno secretismo, claro está. 

No Japão
Os japoneses revelaram-se grandes entusiastas desta proeza norte-americana. Primeiro com a corrida às lojas na ânsia de comprar uma televisão a cores para poder ver se a “branca Lua” era como realmente se apresentava.

In Diário de Notícias (julho 1969) /cortesia BNP

Surgiram à época dezenas de estabelecimentos cujos nomes estavam associados ao programa Apollo (em Portugal, o Centro Comercial Apolo 70, de Lisboa, é um exemplo). Um dos artigos mais procurados foi um mapa lunar com imagens reais captadas pelos astronautas da Apollo 10, numa missão que visava testar o equipamento antes da alunagem dos astronautas da missão seguinte: Apollo 11.
Cada vez mais perto do objetivo
O relógio somava 58 horas e 41 minutos desde a partida em Cabo Canaveral. Lá longe, a 336 mil quilómetros de distância, estavam três homens a caminho da Lua.  

Pelas pequenas janelas do Módulo de Comando, a Terra apresentava-se serena com o Oceano Pacífico a dominar a vista sob a costa oeste da América do Norte, quando os astronautas foram interrompidos por mais uma comunicação do CapCom Charlie Duke. 

Olá, Apollo 11. Houston. Nós temos algumas atualizações e algumas coisas que gostaríamos de conversar convosco, isto claro se vocês não estiverem no meio da refeição. Se for conveniente falamos noutra hora, estamos prontos com algumas atualizações. Terminado. 
(Pausa longa)
Armstrong: O quê – A que se vão aplicar as atualizações?

Ouve-se por momentos uma música em segundo plano. Os astronautas, num claro momento de descompressão, foram apanhados desprevenidos.
Duke: Roger. Temos algumas mudanças nas regras da missão LM No-Go para o seu cartão No-Go, Neil. Uma pequena mudança no cartão de combustível e temperatura/pressão APS/DPS, e temos uma mudança no procedimento para a verificação de fugas do radiador secundário, que deve ser formada em – realizada às 71 horas de amanhã, e também algumas indicações de que temos um par de obliquos no local de pouso guardados no lugar errado. Câmbio. 
(Pausa)
Os oblíquos eram imagens do local previsto para alunar e que teriam sido captadas, não de cima, como seria costume, mas de lado, num ângulo oblíquo, o que poderia dar uma melhor noção do local de alunagem.
Armstrong: Ok. Alguma delas está no Plano de Voo? O radiador secundário, por exemplo?
Duke: Afirmativo. A verificação de eventuais fugas do radiador secundário é descrita no Plano de Voo às 71h20m. Esse procedimento está presente no teu livro de operações de lançamento na página 2-9, L2-9. Gostaríamos de mudar esse procedimento. Terminado.
Armstrong: Ok. Aguarde. 

(Pausa longa)
Collins: Charlie, na verificação de fuga secundária, leia literalmente como entender, que eu vou copiar diretamente para o plano de voo e não brincar com a lista de verificação.
Duke: Entendido. Tudo bem. Se estiveres pronto para copiar, aguarda.
Collins: Pronto para copiar a verificação de fuga.
(…)
Duke: Roger. A SPAN está preocupada com a possibilidade de, com o nosso procedimento atual, como apresentado na lista de verificação, não flua realmente glicol através do radiador e isso – eles querem verificar se não temos um radiador secundário conectado. Over.
SPAN (Spacecraft Analysis) é uma equipa de engenheiros fora do MOCR (Mission Operation Control Room), sempre presente e em estado de prontidão para trabalhar eventuais problemas na nave, e que constantemente simulava problemas, na antecipação de os resolver antes de acontecerem.

Equipa da SPAN presente em Houston. Créditos: NASA/DR

Collins: Ok. Eles têm alguma indicação anormal nesse sistema, até agora?
Duke: Negativo. Este é o procedimento que eles inventaram. É apenas uma confirmação, Mike. Tudo está tudo ótimo para nós. Over.
Collins: Ok. Tudo bem. 

Os astronautas recebiam agora estas informações com maior tranquilidade. Afinal eram eles (SPAN) a ser mais papistas do que o Papa. 

Armstrong: E Charlie, nós voltaremos a falar contigo sobre essas e outras mudanças dentro de alguns minutos. Ok?
Duke: Entendido, Neil. Sem pressa. Câmbio.

Perfil gráfico oficial da viagem da missão Apolo 11, datado de 1 de maio de 1967. Fonte: NASA/DR 
Um OVNI nunca explicado
As horas passavam e a tripulação a bordo do Módulo de Comando Colúmbia tentava arranjar forma de descansar mais um pouco. Haviam decorrido 60 horas desde que o poderoso foguetão Saturno V saíra da plataforma de lançamento na Terra e a Lua, cada vez mais perto, estava agora a 66 mil quilómetros. 

PAO: Aqui Controlo Apollo a 60 horas e 37 minutos. Nós dissemos adeus – boa noite à tripulação há cerca de dez minutos. Esperamos que eles se estejam a acomodar para o período de descanso em breve. Atualmente, a Apollo 11 está a 341.800 quilómetros da Terra. A velocidade da nave espacial está atualmente a 3.023 pés por segundo [921 m/s]. 

O porta-voz oficial e relações públicas da NASA dava conta da informação fornecida pelo comandante Armstrong.
Havia um dos mastros de iluminação, montado no Módulo Lunar, que estava parcialmente danificado, mas aparentemente, após um teste realizado por Neil, a luz estava a funcionar. Na comunicação podemos ainda constatar que este problema não teria qualquer interferência na missão.
PAO: Eu entendo que houve algum interesse num comentário feito por Neil Armstrong durante a transmissão de televisão sobre o holofote EVA [Atividades Extra Veiculares]. A observação de Armstrong foi que o mastro no qual a luz está montada apareceu queimado. Ele relatou que a luz funciona, mas aparentemente tinha – o mastro que a suportava tinha sido aparentemente danificado durante a fase de lançamento. Esta luz seria usada no caso de uma EVA de contingência. Ela não teria nenhuma função numa missão normal. E no caso de uma atividade extraveicular ser necessária para a transferência da tripulação do ML para o módulo de comando e serviço, a luz seria uma ajuda na iluminação externa dos trilhos de mão, mas repetiria que ela não teria nenhuma função em uma missão normal, e o carvão que Armstrong relatou não é considerado significativo neste momento. Não esperamos ter mais conversas com a tripulação. Continuaremos a gravar qualquer comentário que recebermos e a reproduzi-lo. O modo de Controlo Térmico Passivo, que foi restabelecido, parece estar a funcionar bem neste momento e todos os sistemas das naves espaciais estão a funcionar normalmente. A 100 – antes, a 60 horas, 39 minutos; aqui é Apollo Controlo, Houston. 

Mas algo, no espaço escuro, despertava a atenção aos astronautas.

Armstrong: Houston, Apollo 11.
Duke: Diga, 11. Terminado.
Armstrong: Vocês têm alguma idéia de onde está o S-IVB em relação a nós?
O comandante perguntava a Houston onde estaria o terceiro estágio do Saturno V, compartimento que transportou o ML e o MCS até orbita e que se tinha separado dos restantes módulos cerca de 50 horas antes.
A tripulação observara um objeto a piscar de forma inexplicável, lá fora. Uma luz que, segundo Armstrong, parecia estar piscar e eventualmente a refletir momentaneamente a luz do Sol. 

Duke: Aguarde.
(Longa pausa)
PAO: Este é o Apollo Controlo às 60 horas, 47 minutos. Acabámos de receber uma chamada da nave espacial pedindo que informasse a posição do S-IVB em relação à nave espacial. Estamos atualmente a procurar essa informação, [assim que a tivermos] estaremos a postos.
Duke: Apollo 11, Houston. O S-IVB está a cerca de 6.000 milhas náuticas, agora. Câmbio. 

(Pausa)
Armstrong: Ok. Obrigado. (Tempo oficial da comunicação: 060:49:14) 

Buzz Aldrin espreita pela janela esquerda do ML. Foto: NASA/DR 

A resposta que saía do Controlo de Missão permitia considerar altamente improvável que o objeto misterioso fosse o S-IVB, dada a grande distância da Apollo 11. Muito embora a identidade do objeto nunca tenha sido esclarecida, atribui-se esta aparição a um dos painéis SLA que cobria o Módulo Lunar durante o lançamento.

Relatório técnico Missão Apollo (1969) – O objeto voador misterioso
No relatório da viagem assinado pelos três astronautas, no que diz respeito ao que puderam observar pelas escotilhas, todos relataram ver um objeto de grandes dimensões e de formato cilíndrico (por vezes em L). O ângulo de visão não fora o melhor, mas ainda assim descreviam o objeto como sendo parecido com dois anéis.
Declarações de Edwin Aldrin (relatório técnico): “Claro que estávamos a ver todo o tipo de pequenos objetos e detritos a passar e depois vimos este objeto mais brilhante a passar. Não conseguíamos pensar em mais nada que não fosse o S-IVB. Olhámos para ele através da monocular e parecia ter um pouco de forma em L.”
Neil Armstrong (relatório técnico): “Como uma mala aberta”.
Aldrin (relatório técnico): “Estávamos na PTC (Controlo Térmico Passivo) na altura, por isso cada um de nós teve a oportunidade de dar uma vista de olhos ao objeto em questão e, certamente, parecia estar na nossa vizinhança e ter uma dimensão muito grande”.
Armstrong (relatório técnico): “Devemos dizer que estava no limite da resolução ocular. Era muito difícil dizer de que forma era. E não havia maneira de dizer o tamanho sem saber o alcance, ou o alcance sem saber o tamanho”.
Aldrin (relatório técnico): “Então, entrei na LEB e comecei a procurar na ótica. Estávamos muito enganados, porque com o sextante fora de foco o que vimos parecia ser um cilindro.
Armstrong (relatório técnico) : “Ou realmente dois anéis”.
Aldrin (relatório técnico): “Sim”.
Armstrong (relatório técnico): “Dois anéis. Dois anéis ligados”.
Michael Collins (relatório técnico): “Não, pareceu-me um cilindro oco. Não parecia dois anéis conectados. Podíamos ver esta coisa a cair e, quando chegava ao fim, podíamos olhar para baixo. Era um cilindro oco. Mas quando se mudava o foco no sextante, a imagem era substituída por esse formato de livro aberto. Foi realmente estranho.”
Aldrin (relatório técnico): “Acho que não há muito mais a dizer sobre isto, a não ser que não fosse um cilindro.
Collins (relatório técnico): “Foi durante o período em que pensávamos que era um cilindro que inquirimos sobre o S-IVB e quase nos convencemos de que era isso que tinha de ser. Mas não temos mais conclusões. O facto de não termos visto isto muito para além deste período de tempo – não temos mesmo uma conclusão sobre o que poderia ter sido, quão grande era, ou quão longe estava. Era algo que não fazia parte do despejo da urina. Disso temos a certeza”.

Montagem ficcionada de Nuno Patrício, com base nos relatos reais dos três astronautas da missão Apollo 11
Ainda com a imagem do estranho objeto voador não identificado gravada na memória, Neil, Buzz e Michel iriam agora descansar. Faltava pouco para que os três intrépidos homens chegassem à zona de captura orbital da Lua. 

No Centro de Controlo, em Houston, o PAO dava conta da última atualização da missão: “Daqui Controlo Apollo às 61 horas e 39 minutos. Não tivemos mais conversas com a tripulação desde o nosso último relatório. O cirurgião de voo diz que não há indicação de que eles tenham começado a dormir, mas esperamos que estejam a dormir em breve”. 

“Em menos de dez segundos, estaremos a cruzar a esfera de influência da Lua. Uma mudança computacional será feita aqui no Controle de Missão neste ponto, já que a força gravitacional da Lua terá efeito dominante na trajetória da nave espacial, e os nossos ecrãs mudarão da referência da Terra para a referência da Lua”.
“Neste ponto, que ocorreu há alguns segundos atrás, a nave estava a uma distância de 186.437 milhas náuticas [345.281 quilómetros] da Terra, e 33.822 milhas náuticas [62.638 quilómetros] da Lua”.
“A velocidade em relação à Terra era de 2.990 pés por segundo [911 m/s], e em relação à Lua, cerca de três mil, sete…. 3.272 pés por segundo [PAO deveria dizer 3.772 fps (1.150 m/s), mas enganou-se]”.
“O modo de Controlo Térmico Passivo que foi configurado pela segunda vez pela tripulação parece estar a manter-se bem, neste ponto, e todos os sistemas das naves espaciais estão a funcionar normalmente. A missão está a correr muito bem. Às 61 horas, 41 minutos; aqui é Apollo Control, Houston”.
Artigos relacionados: 
Lua, 50 anos. De Saturno V para o satélite natural (Artigo 1 – 16 julho)Lua, 50 anos. Até já, Terra (Artigo 2 – 17 julho)
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Duke: Entendido. Estás cinco em cinco (sinal). Neil está ligado?
Armstrong: 1, 2, 3, 4, 5; 5, 4, 3, 2, 1.Duke: Roger, Neil. Estás cinco em cinco.
Testes efetuados, o show televisivo começaria em breve.Da Terra surgiam agora outras solicitações, menos científicas e um pouco mais mediáticas, que os astronautas teriam de executar. Era tempo de mostrar aos terráqueos – a começar pelo centro de controlo – a visão da vida a bordo do módulo Columbia. Charlie Duke era o elo de ligação entre a Terra e os astronautas a caminho da Lua. Foi membro da tripulação de apoio aos astronautas para o voo da Apollo 10 e designado como Capcom para a Apollo 11. Segundo o próprio, foi Neil Armstrong – o primeiro homem na Lua – quem pediu a presença de Duke no rádio. As ordens eram agora para preparar a câmara, as luzes e mostrar um pouco de ação. Duke: Apollo 11, Houston. Nós vemos-te parado na PTC; a atitude parece boa para nós. Mike, eu gostaria de ter uma verificação de comunicação. O último par de transmissões da nave espacial foi errado, especialmente do Buzz. Vocês os dois poderiam dar uma confirmação de comando? Terminado. Aldrin: Entendido, Charlie. Fala o Buzz agora. Como é que estás a receber? 1, 2, 3, 4, 5; 5, 4, 3, 2, 1. Duke: Roger. Estás a cerca de quatro-by com uma ligeira diminuição/aumento no volume, um volume ondulado para ele. Câmbio. Aldrin: Ok. Eu movi o meu microfone de um lado para o outro. Que tal agora? Está melhor? Duke : Ei,  é isso. Lindo aí. Obrigado. Collins: Ok, Charlie. 1, 2, 3, 4, 5; 5, 4, 3, 3, 2, 1. Como é que me estás a receber? Duke: Entendido. Estás cinco em cinco (sinal). Neil está ligado? Armstrong: 1, 2, 3, 4, 5; 5, 4, 3, 2, 1. Duke: Roger, Neil. Estás cinco em cinco. Testes efetuados, o show televisivo começaria em breve.