A interferência da direção nacional do PS na lista de candidatos a deputados pelo círculo eleitoral de Braga não tem a concordância de boa parte das estruturas locais e foi criticada pelo ministro Pedro Nuno Santos.

Em causa está o facto de Ana Catarina Mendes, secretária-geral adjunta do PS, ter avocado a lista de candidatos por Braga, na qualidade de coordenadora do processo a nível nacional. A Federação Distrital tinha aprovado localmente, com quase 90%, um conjunto de nomes diferentes e esperava a nomeação de apenas dois ou três nomes da nacional. Mas foram seis, nos onze primeiros candidatos.

A crítica de Pedro Nuno Santos foi feita na terça-feira, dia em que foram aprovadas as listas do PS em Comissão Política Nacional. O ministro aproveitou a reunião do Secretariado, ocorrida antes da Comissão Política, para dizer que houve uma excessiva intervenção da direção nacional na lista de Braga. A crítica era direcionada para Ana Catarina Mendes, mas foi António Costa que respondeu ao ministro, afirmando que a lista ganhou qualidade com a avocação.

Mais tarde, já na reunião da Comissão Política Nacional, foi o presidente da Federação Distrital de Braga, Joaquim Barreto, que manifestou discordância com a interferência. “Fiz uma intervenção a dizer que a Federação de Braga não concordava com as alterações porque, nos onze primeiros, estavam lá seis pessoas indicadas pela nacional. Quando, a nacional, de acordo com os estatutos, tem direito a 30 por cento”, explica, Joaquim Barreto, ao JN.

Na resposta, quando fez o discurso final de avaliação de todas as listas do país, Ana Catarina Mendes referiu-se ao caso de Braga e “disse que não podíamos ter nas listas pessoas que apoiaram independentes contra o partido”, conta ainda Joaquim Barreto, que não esconde ter votado “contra, de forma democrática e saudável”.

Para além de nomear seis candidatos dos onze primeiros, a estrutura nacional riscou os nomes de Pedro Sousa e Daniel Bastos, respetivamente de Braga e Fafe. Pedro Sousa não respondeu aos pedidos do JN para falar sobre o assunto, mas Daniel Bastos diz ter ficado “surpreendido” com a exclusão.

O fafense é o visado de Ana Catarina Mendes, pois é o único nome agora riscado que, no passado, apoiou independentes contra o PS. No caso, foi o movimento Fafe Sempre. Agora, Daniel Bastos atribui as culpas da sua exclusão a uma estratégia montada em Braga “de tentativa de implodir a distrital com envio de SMS anónimas, abaixo-assinados e declarações públicas de ex-autarcas”.

O também presidente da Comissão Política Concelhia de Fafe não concorda com os argumentos de Ana Catarina Mendes: “Se isso fosse um argumento válido não poderia ter sido candidato à concelhia, não tinha liderado a lista candidata por Fafe à distrital de Braga, não podia ter integrado os órgãos da distrital, não tinha sido convidado para encabeçar a lista por Fafe de apoio ao António Costa nas eleições para a nacional. Se esse é o argumento já teria sido riscado há muito tempo”, considerou. Para o lugar de Daniel Bastos foi Pompeu Martins, no décimo posto da lista final.

De referir que a escolha de Sónia Fertuzinhos para número um de Braga é consensual, mas o mesmo não se pode dizer da lisboeta Maria Begonha, líder da JS nacional, que vai em terceiro lugar.

Há ainda o caso de Manuel Mota, presidente da concelhia de Barcelos, que foi preterido pela nacional e distrital, entrando em rota de colisão com a segunda. Ao JN, o barcelense diz concordar com a interferência da direção nacional na lista de Braga, embora se mantenha fora das escolhas: “O resultado não foi o que pretendíamos na totalidade, mas parece-me que a lista é hoje mais forte do que a primeira apresentada pela distrital”.

Para esta noite, está marcada uma reunião extraordinária da Comissão Distrital, em Braga, que visa fazer um balanço de todo o processo.

A lista final aprovada na Comissão Política Nacional é composta, de forma ordenada, por Sónia Fertuzinhos, José Mendes, Maria Begonha, Joaquim Barreto, Hugo Pires, Palmira Maciel, Luís Soares, Nuno Sá, Ana Maria Silva, Pompeu Martins, Maria Augusta, Nelson Felgueiras, José Morais, Dora Gaspar, Fernando Ribeiro, Casimiro Rodrigues, Fernanda Araújo, Vânia Cruz e João Paulo Mesquita.