Um simulador está a ser desenvolvido, no âmbito de um projeto de investigação, no Departamento de Engenharia Civil da Universidade do Minho, pólo de Guimarães, com o objetivo de analisar o comportamento de peões em ambiente virtual. Coordenado pela investigadora Elisabete Freitas e constituído por uma equipa multidisciplinar, o projeto está a entrar na reta final da sua concretização.

O ponto de partida são os dados oficiais da sinistralidade nas zonas urbanas de Braga e Guimarães, tendo sido seleccionadas seis zonas, três em cada concelho, sem semaforização. “Filmamos a forma como os peões atravessavam a rua e como os veículos se comportavam”, começa por explicar a docente universitária.

O simulador foi desenvolvido por uma equipa técnica da UMinho, associada ao projeto, onde é possível colocar pessoas e veículos a conviver num determinado cenário sem os colocar em perigo. Com esta ferramenta, “é possível fazer correcções em vias atuais e simulações antes da construção definitiva de outras ruas” refere ainda Elisabete Freitas.

Para a docente universitária, “o simulador é, ainda, bastante útil para trabalhos mais específicos e mais ‘refinados’ porque permite perceber o impacto que as alterações vão ter quer na circulação automóvel quer na circulação de peões”, nomeadamente, em termos de largura de vias, sentidos de trânsito, visibilidade das passadeiras ou simulação de diferentes comportamentos de peões e de condutores.

O simulador deverá estar concluído durante este mês de novembro e a sua utilização terá custos associados. “Foi preciso a aquisição de material e de máquinas”, justifica a docente.

“Estaremos sempre disponíveis para prestar serviço às entidades que estiverem interessados no nosso simulador de realidade virtual”.

Ruas mais críticas

Dois alunos de doutoramento, Francisco Soares e Leidy Barón Acela fizeram todo um trabalho exploratório, selecionando as primeiras 20 ruas (dez em cada concelho) onde foram analisados e filmados vários parâmetros como número de atropelamentos, declive das ruas, largura das vias ou volume de trefego. “Daqui seleccionamos as três mais relevantes tanto de Guimarães como de Braga”.

As ruas Nossa Senhora da Conceição e João VI, em Guimarães e as ruas do Caires e Praça Conde Agrolongo, em Braga são as zonas mais críticas em termos de atropelamentos.

Rua do Caires, Braga. DR

“Sabemos que o uso de um solo misto, a largura dos passeios, a existência de separadores centrais, ou trânsito em sentido único são factores que podem determinar mais ou menos atropelamentos”.

Comportamento dos peões

Segundo o estudo, há também alguns aspectos que ressaltam quanto ao comportamento dos peões. Uma das primeiras referências de Elisabete Freitas prende-se com o facto de “se verem poucas crianças nas ruas, as pessoas não olham quando atravessam e aumentam a velocidade no atravessamento”.

Ainda segundo a investigadora, “os peões até aos 60 anos têm um comportamento diferente dos maiores de 60 anos onde a condição física tem um papel importante”. Se as crianças e os mais velhos são os mais vulneráveis, “há situações onde não se conseguem ver os carros”.

Outro factor curioso e a mudança de comportamento quando os peões estão em grupo: “há um líder que determina a forma como aquele grupo se vai comportar”. E “um homem sozinho caminha mais lento de quando está acompanhado”, refere Elisabete Freitas.

Passadeiras inteligentes, melhores infraestruturas, correcções de trânsito são alguns indicadores que poderão acalmar o fluxo automóvel e a sua velocidade e ir ao encontro dos interesses dos peões, concluiu a equipa de investigadores.