Medida está a ser discutida pelo Governo, supervisores e bancos. Em cima da mesa está a suspensão temporária do pagamento de créditos pelas empresas e particulares afetados pelos efeitos económicos do Covid-19. Faria de Oliveira diz que banca está pronta para contribuir para a minimização do impacto da pandemia.

As empresas e as famílias afetadas pelos efeitos económicos da epidemia de coronavírus poderão vir a beneficiar de uma suspensão do pagamento de empréstimos bancários, de acordo com uma solução que está a ser estudada pelo Governo, os supervisores e a Associação Portuguesa de Bancos (APB), apurou o Jornal Económico. O objetivo desta medida, que ainda está em discussão mas poderá ser anunciada em breve, será minimizar o impacto da epidemia, que ameaça paralisar as economias de Portugal e da maior parte dos países europeus.

“Faz todo o sentido”, disse ao Jornal Económico o presidente da APB, Faria de Oliveira, quando questionado se veria com bons olhos esta solução.

Faria de Oliveira adiantou que a associação tem “estado em contactos intensos com o Governo, o Banco de Portugal (BdP) e as autoridades europeias”, a respeito deste tema. A APB é uma das associações representadas pela Federação Europeia de Bancos (EBF), entidade supranacional que na semana passada pediu às autoridades europeias a criação de um mecanismo desta natureza para apoiar as empresas que enfrentem dificuldades de liquidez devido à crise do coronavírus.

“O impacto em vários setores da economia pode ser muito significativo, dependendo da duração e profundidade da crise Covid-19. A banca é fundamental na minimização das consequências negativas e está totalmente empenhada em dar o contributo necessário”, concluiu Faria de Oliveira, sem adiantar pormenores.

Se a suspensão dos pagamentos dos empréstimos avançar, os cronogramas dos créditos em questão serão reestruturados, mas sem efeitos negativos na avaliação prudencial dos clientes. Uma medida semelhante poderá ser aplicada às famílias que, devido a esta crise, tenham dificuldade em pagar as prestações dos créditos à habitação, mas para já a principal preocupação é com as empresas, devido aos efeitos no emprego e na economia em geral, sabe o Jornal Económico.

“Não se trata de mau crédito”, disse outro banqueiro ouvido pelo Jornal Económico, que pediu para não ser identificado. Este responsável defende igualmente que haja “algum tipo de moratória” que permita adequar o pagamento dos créditos às circunstâncias excepcionais que o mundo atravessa, à semelhança do que já está a ser feito em Itália.

A epidemia apanhou o mundo de surpresa, gerando o receio de uma nova crise à escala global. Em Portugal, para já, o Governo português antecipa uma revisão em baixa, ainda por quantificar, do crescimento de 1,9% que estava previsto para o PIB em 2020, devido ao impacto negativo que a epidemia terá no turismo e nas trocas comerciais com países como a Alemanha, a Espanha e a França. Mas o impacto do Covid-19 já é visível: a epidemia obrigou ao encerramento de numerosos espaços comerciais, escritórios, fábricas e serviços públicos em todo o país, interrompendo a atividade normal dos cidadãos e das empresas, com alguns especialistas a alertar para efeitos na economia potencialmente “devastadores”.

Para os bancos, é preferível conceder moratórias a estes clientes – que, em circunstâncias normais, conseguem honrar os seus compromissos financeiros – do que deixar que entrem em incumprimento, o que teria um efeito ‘dominó’ e de contágio do próprio setor financeiro.

O mesmo banqueiro afirmou que será de esperar que o Banco Central Europeu (BCE) e a Autoridade Bancária Europeia (EBA) liderem este processo, mas adiantou que à falta de atuação por parte destas entidades, terão de ser os governos e os bancos centrais de cada país a tomar a iniciativa, com a colaboração do setor financeiro.

Ontem, o primeiro-ministro António Costa defendeu em entrevista à SIC que a banca “tem de assumir uma grande responsabilidade social” na resposta à situação de calamidade que o país atravessa. O chefe do Executivo destacou a importância de instrumentos como linhas de crédito com taxas de juro favoráveis, para as empresas enfrentarem a atual conjuntura.

Até ao fecho deste artigo, não foi possível obter esclarecimentos junto de fontes oficiais do Ministério das Finanças e do Banco de Portugal.