A análise dos últimos quatro dias mostra que o WhatsApp, a rede de mensagens do Facebook, é agora o território preferido das fake news sobre o covid-19. É privada, não tem fact-checking, e a expansão é exponencial
os últimos dias, mas sobretudo desde quarta-feira passada, um conjunto de mensagens no WhatsApp tentaram mostrar uma realidade diferente da que conhecemos sobre o covid-19. São, quase todas, mensagens de voz gravadas, geralmente invocando algum conhecimento particular da situação médica (as vozes apresentam-se como profissionais de saúde ou citam pessoas que o são).
Os seus relatos são catastróficos: há vários mortos em Portugal, a informação está a ser escondida, os aparelhos respiratórios dos hospitais só são usados com doentes mais novos, entre outras informações falsas, e facilmente desmentidas como estas, ou que tentam antecipar um futuro (possível, mas ainda não verificado) à luz do que acontece, por exemplo, em Itália.
Na quinta-feira, o DN e o MediaLab do ISCTE decidiram pedir aos utilizadores do WhatsApp que encaminhassem para o nosso número institucional (+351927743738, todas as mensagens que considerassem desinformativas – ou sobre as quais tivessem dúvidas. Logo nas primeiras horas chegaram centenas. A quantidade de respostas que tivemos foi tão grande que logo nesse dia tivemos de pedir voluntários (entre alunos, investigadores e doutorandos) para fazer connosco a audição e a codificação de todas estas mensagens que circulavam entre redes de utilizadores. Ao todo, nos últimos quatro dias trabalharam nesta avaliação 16 pessoas.
Esta é, aliás, a única forma de verificar a veracidade de uma mensagem que circula no WhatsApp. Como explica o Poynter Institute, “uma vez que não se pode monitorizar e identificar diretamente as mensagens encriptadas da plataforma, as organizações de verificação de factos em todo o mundo estão a pedir aos leitores que enviem as mensagens suspeitas para as suas contas institucionais no WhatsApp para que as possam verificar. Trata-se de uma solução imperfeita para um problema crescente”.
Chegaram-nos mais de 280 réplicas de apenas sete mensagens comprovadamente falsas que assinalámos, nestes quatro dias de recolha. Ou seja: a velocidade de replicação, e o universo total de portugueses que as recebem, é considerável. Não é possível, contudo, saber exatamente a quantas pessoas chegou cada uma destas mensagens nem quem as criou ou difundiu originalmente. Por isso, é também impossível avaliar a razão por que estão a ser difundidas.