Os bancos portugueses estão a preparar uma nova redução das estruturas, desde logo com saída de trabalhadores, usando o corte de custos como medida para fazer face à atual crise, à fraca rentabilidade e à digitalização das operações.
Já no final de julho, a agência de ‘rating’ Fitch considerava que, face à nova ameaça para o setor bancário português que representa a crise da covid-19 (pondo em causa progressos alcançados na redução do malparado, melhorias do capital e rentabilidade), uma das medidas que os bancos tomariam seriam novas reestruturações. E as declarações que os banqueiros têm feito nos últimos meses indicam isso mesmo.
Logo em abril, o BCP disse que ia adiar a redução de trabalhadores que tinha previsto para este ano (numa postura que qualificou de “responsabilidade social”), mas que a faria no início de 2021.
Em julho, o presidente executivo, Miguel Maya, reiterou que o banco tem tido uma postura “alinhada” com a sociedade, mas que levará a cabo o programa de saídas “no início do ano [que vem]”. É que – argumentou -, com os “proveitos condicionados”, o BCP tem de “adaptar a estrutura de custos, e o peso dos custos de pessoal na atividade bancária é sempre significativo”.
A Caixa Geral de Depósitos (CGD) vai continuar a cumprir este ano a redução de pessoal acordada no plano de reestruturação com a Comissão Europeia, o que passa pela saída de 250 funcionários no segundo semestre (além dos 179 que saíram até junho), mas a administração já admitiu que mais saídas poderão ser previstas no plano 2021-2024.
“Os estudos [sobre as consequências da crise] o que dizem é que serão fechadas cerca de 30% das agências e haverá redução de pessoas. Nós, na CGD, apenas equacionaremos esse aspeto para o plano 2021-2024”, disse o presidente executivo, Paulo Macedo, em julho.
O gestor disse ainda que a vontade dos clientes em não pagar comissões significa que não querem pagar os custos da estrutura dos bancos, incluindo trabalhadores, assim como quando os decisores tomam medidas que limitam proveitos (como leis sobre comissões bancárias) o que fazem é pôr em causa a sustentabilidade.
Já em fevereiro, quando estavam a ser discutidas no parlamento leis que limitam as comissões, a Associação Portuguesa de Bancos (APB) afirmou que a consequência pode ser os bancos reduzirem “ainda mais a estrutura de custos, designadamente com pessoal e rede de balcões”, uma vez que condiciona a rentabilidade.
Quanto ao Novo Banco, o Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários disse, em meados deste mês, que a instituição “tem vindo a apresentar propostas de reforma antecipada e de rescisão de contratos de trabalho por acordo a um conjunto de trabalhadores”.
A Lusa questionou o Novo Banco sobre o tema, mas não obteve resposta.
O Montepio anunciou a semana passada aos sindicatos e comissão de trabalhadores um plano alargado de saída de trabalhadores, através de reformas antecipadas e de rescisões de contratos de trabalho, mas sem quantificar quantos funcionários irão sair.
No início da semana, o jornal ‘online’ Eco noticiou que o Montepio prepara a saída de 800 trabalhadores e que vai pedir ao Governo o estatuto de empresa em reestruturação, o que permite a quem aceite a rescisão por mútuo acordo ter direito ao subsídio de desemprego.
Contactada pela Lusa, fonte oficial do Montepio disse apenas que é conhecido que o banco “está a ajustar processos e a estudar a sua dimensão” e que manterá a prática de partilhar “sempre a informação de relevo da instituição com todos os que dela fazem parte” antes da divulgação pública.
No sábado, o Expresso noticiou que o BCP está disponível para uma fusão com o Banco Montepio, caso seja necessário haver uma intervenção, e que essa disponibilidade já foi comunicada ao Governo, numa reunião entre administração do BCP e o ministro das Finanças.
A redução de estruturas é comum a toda a banca europeia. O setor está há anos a reduzir balcões e funcionários (em Portugal, sobretudo através de reformas antecipadas e rescisões por mútuo acordo), medidas justificadas com a digitalização das operações e com a necessidade de reduzir custos, uma tendência que a crise desencadeada pela pandemia covid-19 deverá acentuar.
Em Espanha, a recentemente anunciada fusão entre o Caixabank e o Bankia (que criará o primeiro banco de Espanha) também trará fechos de balcões e saídas de pessoal. O presidente executivo do CaixaBank, Gonzalo Gortázar, disse há duas semanas estar convencido que de será possível um acordo com os sindicatos para um ajustamento “não traumático” da estrutura.
Já o alemão Deutsche Bank vai fechar nos próximos anos cerca de 100 das suas agências bancárias na Alemanha, passando a 400 sucursais.
O analista da corretora Infinox Pedro Amorim afirmou à Lusa que, em termos gerais, a banca europeia tem estado muito pressionada nas receitas, desde logo na margem financeira (devido às baixas taxas de juro) e que o aumento das comissões bancárias não tem sido suficiente para compensar, pelo que a análise da demonstração de resultados dos bancos mostra que os lucros têm sido alicerçados na redução de custos (sobretudo cortes com pessoal).