Ao contrário de outros países, a Direção Geral da Saúde (DGS) não vai alterar para já as recomendações quanto ao uso de máscaras contra a covid-19 pela comunidade, apesar do aumento de casos da variante do Reino Unido, mais contagiosa, em Portugal. Os especialistas alertam para a necessidade de não se descurarem os cuidados já preconizados e até de se reforçar o grau de proteção das máscaras usadas.
Nos últimos dias, Alemanha, Áustria e França determinaram o uso de máscaras mais eficazes em contextos com grande concentração de pessoas, como transportes públicos, lojas, supermercados e até locais trabalho, banindo as máscaras comunitárias (de tecido), neste tipo de locais. Alemanha e França passaram a exigir as máscaras cirúrgicas (com um desempenho mínimo de filtração de 90%) ou as FFP2, também conhecidas por “bico de pato” (bloqueiam pelo menos 94% de aerossóis). A Áustria impõe o uso das FFP2 desde esta segunda-feira.
Apesar das medidas avulsas tomadas por diferentes países, nem a Organização Mundial da Saúde (OMS) nem o Centro Europeu para Controlo e Prevenção de Doenças (ECDC, na sigla em inglês), com que a DGS se costuma alinhar, alteraram para já as suas orientações quanto às máscaras a usar pela comunidade perante a expansão de variantes mais contagiosas como as do Reino Unido e da África do Sul.
De acordo com a OMS, das evidências recolhidas nestes dois países “não existem alterações no modo de transmissão” do vírus, por isso não tem intenção de alterar essas recomendações para já. “Se alguma coisa mudar, nós alteraremos e atualizaremos [essas orientações] em conformidade”, disse a responsável técnica da resposta à covid-19 da OMS, Maria Van Kerkhove, na última sexta-feira, em conferência de imprensa.
O Ministério da Saúde questionou a DGS, no último domingo, sobre em que medida as medidas de saúde pública vão precisar de ser adaptadas perante a expansão da variante britânica no nosso país, disse a ministra da Saúde, Marta Temido, na conferência de imprensa desta segunda-feira.
O Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) estima que, dentro de duas semanas, 60% dos novos casos positivos de infeções pelo novo coronavírus no nosso país correspondam à variante do Reino Unido. No final da semana passada rondavam os 20%.
Ao JN, a DGS diz que “está a analisar as atuais recomendações relativas às medidas não farmacológicas de prevenção e controlo de infeção (como, por exemplo, a utilização de máscaras) à luz da última evidência”, mas sublinha que “apesar de haver alguns países que estão a ajustar as suas orientações, organismos internacionais como a OMS e o ECDC ainda não fizeram alterações às últimas recomendações”.
Também Marta Temido, mostrou, ontem, disponibilidade para se ajustarem as medidas relativas às máscaras caso o ECDC e a OMS promovam novas recomendações ou surjam novos dados. “Este vírus não tem parado de nos surpreender e de nos surpreender negativamente, de nos colocar novas angústias, novos problemas”, dizia a ministra.
Reforçar a precaução
Para o epidemiologista e presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, Ricardo Mexia, é natural que perante uma variante mais transmissível do SARS-CoV-2, se tenham que reforçar as medidas de proteção, admitindo que se devam equacionar máscaras mais protetoras do que as sociais. Contudo, considera o tema discutível. Diz que “convinha ter informação mais robusta” para se sustentar uma mudança nas orientações de forma a tornar-se obrigatório o uso dos respiradores FFP2 pela comunidade. “Sabe-se que a variante do Reino Unido tem maior capacidade de infetar [de se ligar às células humanas], mas não se sabe se a sua projeção é diferente”, exemplifica.