O treinador do Sporting de Braga foi questionado, em conferência de imprensa, sobre o ambiente atual do futebol português e, fazendo a sua mea culpa, sublinhou a importância de “haver uma relação cordial entre treinadores”, porque “as provocações não são normais” e “alguns treinadores estão mais focados em olhar para os adversários do que para o jogo”

A EDUCAÇÃO NO FUTEBOL

“O que me apraz dizer é que sempre fui educado no sentido de haver um respeito muito grande entre os profissionais de futebol. Lembro-me do exemplo de Vítor Oliveira… Tem de haver uma relação cordial entre os treinadores. No final de cada jogo, deixámos de ser adversários. Temos muito a melhorar. Alguns [treinadores] estão mais focados em olhar para os adversários do que para o jogo.

Estive em Inglaterra e, salvo raras exceções, convivi sempre no final dos jogos com os treinadores rivais, partilhando um copo de vinho e uma conversa. Temos de perceber que quando acaba o jogo já não há nada a fazer. Não estou a criticar ninguém em especial. O que sei é que não se pode continuar assim. A Liga tem de ser implacável.

MEA CULPA

Da minha parte, vou falar brevemente com José Pereira, da Associação Nacional de Treinadores, que tem de tomar uma posição. Infelizmente durante esta época, já várias vezes assisti e senti uma grande animosidade durante o jogo perante colegas treinadores. Não é admissível. Comigo também. Já assisti e já senti isso também. Não é admissível. Isto não é normal. No futebol em que cresci, do Manuel José, do Vítor Oliveira, do Quinito, isto era completamente impossível.

Não me lembro de uma única vez, salvo raras exceções, que um treinador estivesse em conflito com outro colega durante um jogo. Um bate-boca eventualmente na imprensa, mind games, tudo bem. Mas durante o jogo estas provocações não são normais, é preciso explicar a esta malta que isto não é normal. No meu futebol não é normal. Se vamos por aqui, daqui a pouco andamos todos à porrada uns com os outros. Eu faço parte dos 18 treinadores da Liga, estou incluído no lote, não estou a pôr os pés de fora, tem sido a realidade e não é admissível”.

SOLUÇÕES?

“Não há proposta que valha sobre respeito e ética. Esse é o ponto fundamental. Os adversários não são nossos inimigos. Os colegas não são os nossos maiores inimigos. O trabalho passa por aí: haver respeito. Não há multa que resolva o respeito e a ética. Esta época foi tudo menos isso. E nem estou a falar dos jogos mais mediáticos. Não entendo.”

AS CRÍTICAS AO JOGO COM O SPORTING

“Entendo, mas é preciso perceber especificamente de futebol. Estamos a falar de uma linha de cinco mais quatro [do Sporting]. Não é possível meter velocidade, as pessoas querem ver oportunidades em catadupa. Tínhamos de circular a bola e foi isso que nós fizemos. Não houve diferença do jogo com o FC Porto, a diferença foi que marcámos. E quando se marca as coisas mudam completamente. Ouvi que as substituições foram conservadoras, mas não foram. O Fransérgio jogou a ponta de lança desde a expulsão, tínhamos uma frente de ataque de seis jogadores. É preciso perceber um bocado disto”.

E A PARTIDA QUE AÍ VEM, CONTRA O MARÍTIMO

“As derrotas mexem sempre, mas são poucas as que tivemos, porque estamos habituados a ganhar. As derrotas mexem sempre, mas felizmente em todas derrotas tivemos sempre uma reação boa. É o que esperamos agora. Saímos defraudados do último jogo, mas não machucados. Sentimo-nos frustrados, mas foi uma derrota em que o adversário não foi superior. Fomos avassaladores, criámos oportunidades e fomos infelizes. Estamos tristes, sim, mas vamos reagir. Não foi por falta de atitude ou de ambição que não ganhámos, até porque esbarrámos contra uma boa organização defensiva forte.