Ao abrigo do programa Erasmus+ o estudante está a estagiar no projeto SOMA (Surfistas Orgulhosas da Mulher de África) e ambiciona ajudar a levar o Surf Therapy a outros Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP).
Tal como Nelson Mandela, João Araújo, aluno de Mestrado em Desporto de Natureza da Escola Superior de Desporto e Lazer (ESDL) do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC) acredita que “o desporto tem o poder de mudar o mundo” e partiu de mala e prancha de surf na mão para São Tomé e Príncipe. A experiência, que vai contribuir para a sua tese de mestrado na área de “O desporto para desenvolvimento e a paz”, só foi possível no âmbito do Programa Erasmus+. Assim, e na vila de Santana, João Araújo está até fevereiro de 2022, integrado no projeto piloto SOMA (Surfistas Orgulhosas da Mulher de África), onde o programa de Surf Therapy está a ser usado como motor de desenvolvimento e empoderamento feminino. João Araújo não esconde a ambição de continuar no projeto após a conclusão do Mestrado e de poder a levá-lo a outros Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP).
Depois de um “processo longo de pesquisa e de trabalho”, João Araújo, natural de Vila Nova de Famalicão, e aluno da ESDL do Politécnico de Viana do Castelo, conseguiu seguir viagem até São Tomé e Príncipe ao abrigo do programa ERASMUS+, na modalidade de estágio, aproveitando assim as novas potencialidades do programa, que a partir deste ano permite enviar estudantes para todo o mundo. Partiu em setembro e vai ficar na vila de Santana até fevereiro do próximo ano. “Tive conhecimento de um projeto de Surf Therapy a decorrer em África do Sul, mas depois não foi possível concretizar. Procurei ainda em Cabo Verde e nas Canárias, e no meio de tanta pesquisa acabei por me cruzar com o projeto da portuguesa Francisca Sequeira, que estava a começar o SOMA. Foi então que no pedido e troca de informação acabou por surgir a oportunidade de poder fazer parte dele”, revelou João Araújo. Em dezembro de 2020 acaba mesmo por integrar a equipa do projeto piloto.
Mas a oportunidade de poder ir para o terreno acabou por acontecer através do projeto Erasmus+. “Como o projeto Erasmus+ sofreu alterações e trouxe a possibilidade de efetuarmos mobilidade para além da europa eu nem hesitei nem pensei duas vezes”, afirmou o estudante ainda em êxtase com a oportunidade que lhe estava a surgir e por isso embarcou para São Tomé e Príncipe onde vai permanecer seis meses.
“A participação neste projeto conta com o incentivo do meu orientador de Mestrado, o professor Bruno Silva, e tenho como desafio criar um manual de sessões de Surf Therapy e investigar os efeitos desta nova terapia.
Espero, através do desporto que amo, o surf, dar algo que seja útil para a vida destas 30 raparigas, dos seis aos 18 anos. João partilha a experiência com mais três voluntários portugueses. “Temos um horário muito preenchido, já que as crianças e jovens só têm aulas de manhã ou à tarde. As raparigas às segundas-feiras têm estudo acompanhado, às terças e quintas-feiras têm aulas de surf, às quartas-feiras têm psico-educação e às sextas-feiras o tempo é dedicado ao empoderamento feminino, onde são abordadas várias temáticas, nomeadamente a igualdade e a equidade de género”, sublinha o estudante, referindo que cada voluntário faz mentoria a 10 raparigas, fazendo ainda visitas às casas dos pais.
Para João Araújo, esta está a ser “uma experiência única”, até porque nunca tinha estado num país africano e São Tomé e Príncipe “é um país muito amigável”. Duas semanas depois de estar instalado na vila de Santana, o aluno da ESDL-IPVC já se sentia em casa. “Toda a gente já me trata pelo nome, os mais novos passam pela casa e chamam por nós”, relata o jovem, contando que durante o dia só se veem crianças sozinhas a brincar na rua, os adultos só regressam a casa à noite.
“Está a ser um desafio gigante, mas muito gratificante”
Não é fácil conseguir a confiança a 100% das raparigas, por ser homem e ser estrangeiro, mas João acredita estar já a fazer a diferença na vida de cada uma delas. “Cada aula é um desafio gigante, mas muito gratificante. As raparigas não estão habituadas a este género de atividades e com a explosão de alegria que sentem, às vezes, é difícil manterem a concentração”, refere.
Santana é uma “vila de surfistas” e todos os rapazes fazem surf. “É uma questão cultural e está muito enraizada na vila. Desde pequenos, todos os rapazes começam a praticar surf até com pranchas feitas de madeira”, destaca João Araújo, evidenciando o trabalho de dois portugueses que ali criaram um clube de surf.
Ao longo destes seis meses, o aluno da ESDL-IPVC espera “muito trabalho e experiência”. Até agora “tem sido tudo muito intenso”, acreditando que vão conseguir “benefícios” para as 30 raparigas. “As expetativas são muito positivas e acreditamos que vamos dar novas competências a todas para lidar com determinadas situações”, defende.
João Araújo espera terminar a tese e em relação ao futuro “ainda está tudo em aberto”. Participar num projeto em África do Sul não está colocado de parte, mas para o aluno do Politécnico de Viana do Castelo “a cereja no topo do bolo” seria continuar no projeto SOMA, já que o objetivo é avançar com o Surf Therapy em Cabo Verde, Moçambique e até Angola.