A jornalista russa Marina Ovsiannikova, que se tornou num símbolo antiguerra após interromper a emissão do noticiário pró-Kremlin para denunciar a invasão na Ucrânia, deixou o canal de televisão Primeiro Canal por sua vontade, foi hoje anunciado.
“Hoje fui a Ostankino (sede do canal). Enviei todos os documentos para a minha demissão, decidida por mim”, disse Marina Ovsiannikova, numa entrevista ao canal de informação francês France 24.
A jornalista russa ficou conhecida quando interrompeu o noticiário mais assistido na Rússia, na noite de segunda-feira, no Primeiro Canal (Piervy Canal, em russo), exibindo um cartaz criticando a guerra na Ucrânia em plena emissão “da propaganda e mentiras do Kremlin”.
Marina Ovsiannikova explicou que queria “enviar uma mensagem forte para dizer que os russos são contra a guerra” e que não devem “confiar na propaganda” e no que se “diz na TV [televisão]” e que necessário “fazer a distinção entre a mentira e a verdade”.
“Estou com medo, é claro, mas não penso que não faço parte da ralé”, defendeu, após ser questionada sobre o discurso do Kremlin contra ativistas antiguerra na Rússia.
De acordo com o Kremlin, o conflito na Ucrânia revela quem são os “traidores”.
“Alguns demitem-se, alguns deixam o país. É uma purificação”, disse hoje o porta-voz da Presidência russa, Dmitry Peskov.
Para jornalista ativista, “as pessoas que saem às ruas para protestar não são traidoras, são cidadãos.
“A sociedade russa está dividida. Parte, talvez metade, é contra a guerra e metade apoia o presidente Putin”, disse.
Com dois filhos, Marina Ovsiannikova, de 43 anos, também recusou a oferta de asilo do Presidente francês, Emmanuel Macron, porque não “quer deixar” o seu país.
“Não quero deixar o nosso país. Sou patriota, o meu filho é ainda mais”, observou, numa entrevista à revista alemã Der Spiegel transmitida na noite de quarta-feira.
Após ter sido detida, a jornalista foi condenada a uma multa simples e libertada.
No entanto, Marina Ovsiannikova ainda enfrenta processos criminais puníveis com pesadas penas de prisão, sob os termos de uma lei recente que reprime qualquer “informação falsa” sobre o Exército russo.