Ivete Sangalo comprovou que continua a ser um trunfo do cartaz, os Black Eyed Peas recordaram êxitos e trouxeram um novo single (e videoclip), Magdalena Bay e Bruno Pernadas valeram a visita à Rock Your Street. Este domingo, 19 de junho, a segunda noite do Rock in Rio Lisboa 2022 juntou 63 mil espectadores no Parque da Bela Vista, de acordo com a organização.

“Queria ficar aqui com vocês mais cinco horas, seis horas, até amanhã de manhã”, confessou Ivete Sangalo perto do final do concerto, a fechar mais um regresso inevitável à Cidade do Rock. O sentimento terá sido recíproco, tendo em conta a agitação que a brasileira provou continuar a despertar junto do fidelíssimo público português.

Ao longo das suas nove edições, o Rock in Rio Lisboa convocou sempre a ex-vocalista da Banda Eva (em 2016, até a convocou mais de uma vez, quando a cantora substituiu Ariana Grande), ao ponto de o festival e a artista baiana se terem tornado indissociáveis.

Em 2022, a colaboração não acusa sinais de cansaço. Ivete Sangalo trouxe a energia, a entrega e os êxitos que dela se esperavam (“Abalou”, “Sorte Grande”, “Eva” ou “Arerê”), disparando-os ao lado de uma banda, de um coro e de bailarinos que reforçaram a sensação de adrenalina constante.

Ivete Sangalo
créditos: Cláudia Lobo

A festa foi complementada por um dueto virtual com Gloria Groove ou por formas geométricas coloridas em palco e animações no ecrã no fundo deste, mas o maior efeito especial de um espetáculo da cantora é mesmo a própria: uma constatação da qual dificilmente alguém discordará, identificando-se mais ou menos com uma música que não se esgota no axé (e para muitos, a artista é a rainha do género) nem de declinações da MPB. O funk foi motor de alguns momentos mais efusivos, às vezes complementado com piscares de olho à eletrónica mais dançável, em mais um atestado de profissionalismo que ajudou a tornar um regresso à Cidade do Rock praticamente certo. Venha então a décima edição…https://158dde976d4bc4a48476fa8856be19ba.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

HÁ UMAS LUZES QUE NUNCA SE APAGAM

A outra cantora a atuar em nome próprio no Palco Mundo, Ellie Goulding, não teve um efeito tão impactante, embora tenha conseguido deixar boa parte do público de braços no ar e com a luz do telemóvel a iluminar o recinto – no lugar que em tempos pertenceu a isqueiros – em “Love Me Like You Do” (canção que ganhou outros voos ao fazer parte da banda sonora do filme “As Cinquenta Sombras de Grey”).

Ellie Goulding
créditos: Cláudia Lobo

Guardado para o final do concerto, foi juntamente com “Lights” um dos momentos que despertou a atenção numa altura que terá sido, para muitos, a mais apropriada para jantar – depois dos espetáculos de David Carreira e Ivete Sangalo e antes da entrada em cena dos cabeças de cartaz Black Eyed Peas.

“Talvez conheçam esta, cantem comigo”, incitou a britânica antes de “Burn”, outro exemplo da sua pop de contornos eletrónicos que ajudou a fazer da reta final o segmento mais bem acolhido por parte de um público com muitos adolescentes (do sexo feminino, sobretudo) nas primeiras filas.

A fechar a noite no Palco Mundo, os Black Eyed Peas elevaram a profusão de telemóveis iluminados a outro patamar no seu regresso à Cidade do Rock (que já não visitavam desde 2004). Com single novo na bagagem, “Don’t You Worry”, colaboração com Shakira e David Guetta (ambos muito elogiados por will.i.am), revisitaram temas antigos, piscaram o olho a clássicos de Corona (“The Rhythm of the Night”, integrada em “Ritmo (Bad Boys For Life)”), Madonna (“La Isla Bonita”, recordada em “Mamacita”) ou White Stripes (“Seven Nation Army”) e não evitaram novas misturas em modo latino, aproveitando a ascensão do reggaeton.

Black Eyed Peas
créditos: Cláudia Lobo

Desta vez sem Fergie, que deixou o grupo em 2017 para se dedicar à maternidade, os norte-americanos apresentaram ao público português J. Rey Soul, a nova vocalista, acolhida sem reservas num recinto concorrido ao som de “Boom Boom Pow”. will.i.am, particularmente comunicativo, agradeceu o apoio à banda em ambas as formações, louvou a fase “de pura liberdade e felicidade” de Britney Spears (com quem colaborou em “Scream & Shout” e “Work Bitch”) e nunca largou o telemóvel, com o qual filmou o espetáculo para uma transmissão em direto na sua conta de Instagram.

“Pump It” (tema que incorpora a esfuziante “Misirlou”, de Dick Dale, eternizada na banda sonora de “Pulp Fiction”), acompanhado de pirotecnia, foi um dos primeiros momentos mais ovacionados, ao qual se seguiriam, mais à frente, “Where Is the Love?” ou “I Got a Feeling” (estranhamente com direito a repetição) como outros picos de adesão.

Se o efeito destes singles já seria expectável, a surpresa chegou quando will.i.am propôs voltar a “Don’t You Worry”, desta vez para rever o videoclip. “Vamos sentar-nos como se fôssemos uma família”, apelou. E assim fez, ao lado de apl.de.ap, Taboo e J. Rey Soul, entoando a canção enquanto olhava para o ecrã ao fundo do palco. Um momento de calma relativa, conjugada com uma manobra de marketing sem grandes subtilezas, que não comprometeu um dos maiores casos de adesão generalizada desta edição do festival até agora.

Black Eyed Peas
créditos: Cláudia Lobo