O H5N1 é um vírus da gripe que surge naturalmente em aves aquáticas, como patos e cisnes que, embora fiquem infetadas, não adoecem. Porém, quando estão em contacto com aves de criação, o agente patogénico espalha-se sem controlo nas capoeiras e a mortalidade atinge quase 100% dos animais contagiados.

A descoberta de que o vírus da gripe das aves H5N1 pode ser transmitido eficazmente entre mamíferos, feita numa quinta de martas na Galiza, em Espanha, “altera as regras do jogo”, advertiu o especialista em doenças animais do Instituto de Investigación y Tecnología Agroalimentarias (IRTA) Joaquim Sagalés.

Desde que as primeiras infeções por H5N1 em humanos foram registadas, em 1997, em Hong Kong, num surto que envolveu 18 casos e seis mortes, o vírus tem sido monitorizado por receio de causar uma pandemia. Contudo, a baixa capacidade de se transmitir de pessoa para pessoa e o facto de ter causado apenas surtos esporádicos em explorações agrícolas no Sudeste Asiático indicava baixo risco.

A situação mudou nos últimos dois anos com a propagação da doença em aves selvagens e em atividades rurais na Europa e América e o aparecimento de um primeiro surto entre os mamíferos, o que facilitou uma mutação que parece estar a aumentar a sua capacidade de propagação. “Infelizmente, aproxima-nos muito mais de uma potencial pandemia futura”, alertou Sagalés.

“Quanto mais diversidade genética e circulação, maior é o risco. Portanto, o risco é agora maior devido à sua dispersão geográfica e tropismo animal”, advertiu também o diretor do Instituto para a Saúde Global e Patógenos Emergentes do Hospital Mount Sinai em Nova Iorque Adolfo Garcia-Sastre. Mas “isso não significa que vá causar uma pandemia nos seres humanos”, comentou.

Quando alguém está com uma ave infetada ou com material biológico que esteve em contacto com o animal pode contrair este vírus, tendo-se contabilizado 864 casos em humanos a nível mundial, entre 2003 e 2022, dos quais 456 morreram, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS).

Este pequeno número de casos indica que o H5N1 tem tido, até agora, pouca capacidade de disseminação, registando-se uma mortalidade de cerca 52% o que indica que, quando infeta pessoas, é altamente contagioso, embora seja possível que os casos ligeiros tenham ficado por diagnosticar e que a mortalidade real possa ser inferior.