O Governo britânico ordenou que a China feche “esquadras de polícia clandestinas” que operam no Reino Unido, que deveriam fornecer serviços administrativos, mas são acusadas de também serem usadas para deter opositores do regime de Pequim, foi hoje divulgado.
A diplomacia de Londres “notificou a Embaixada da China que qualquer função relacionada a tais ‘esquadras de polícia’ no Reino Unido era inaceitável e que elas não deveriam operar sob nenhuma circunstância”, disse o secretário de Estado da Segurança, Tom Tugendhat, numa declaração por escrito ao parlamento divulgada hoje.
Em resposta, as autoridades chinesas prometeram fechar as alegadas esquadras, de acordo com o comunicado de imprensa do secretário de Estado.
A presença destas instalações foi mencionada no Reino Unido, mas também em França, nos Estados Unidos e igualmente em Portugal, mas a China sempre negou a sua existência.
O Ministério do Interior do Reino Unido e a polícia de Londres lançaram investigações depois de o grupo de direitos humanos Safeguard Defenders ter documentado a existência destes locais no ano passado.
Haveria três ou até quatro no Reino Unido, de acordo com Tugendhat, que disse que a polícia visitou todos os locais suspeitos e “nenhuma atividade ilegal” foi identificada.
“Acreditamos que a polícia e a vigilância pública tiveram efeito”, explicou o secretário de Estado.
“No entanto, essas ‘esquadras de polícia’ foram estabelecidas sem a nossa permissão e, por mais baixo que seja o nível de atividade administrativa realizada, terão apoquentado e intimidado aqueles que deixaram a China para encontrar segurança e liberdade no Reino Unido”, acrescentou.
Em abril, o jornal The Times publicou um artigo sobre Lin Ruiyou, um empresário chinês com ligações ao Partido Conservador britânico, que administrava uma empresa de entrega de alimentos no bairro de Croydon, no sul de Londres, que operava também como uma esquadra de polícia chinesa não declarada.
A Embaixada da China em Londres afirmou então já ter negado repetidamente a existência de tais esquadras da polícia no estrangeiro e criticou a divulgação de “falsas acusações”.
Após a “era de ouro” desejada pelo então primeiro-ministro britânico David Cameron em 2015, as relações entre Londres e Pequim deterioraram-se acentuadamente nos últimos anos, devido, em particular, à repressão do movimento antidemocrático em Hong Kong (ex-território britânico), aos abusos cometidos contra a minoria muçulmana uigur e às suspeitas de espionagem em relação à fabricante de equipamentos de telecomunicações Huawei.
Em 30 de maio, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, João Gomes Cravinho, disse no parlamento que Lisboa recebeu garantias de que a China não apoiaria alegadas esquadras chinesas secretas em Portugal.
Respondendo em audição parlamentar na comissão dos Negócios Estrangeiros a uma pergunta do deputado Rodrigo Saraiva (IL), o chefe da diplomacia portuguesa recordou a recente visita do vice-Presidente chinês, Han Zheng, ao país e que, nos seus diálogos com as autoridades portuguesas, foram discutidas questões relacionadas com Macau ou Ucrânia, mas também as alegadas esquadras.
“O sinal que nós demos foi que, da parte chinesa, era fundamental cingir as suas atividades em Portugal àquilo que está convencionado na Convenção de Viena sobre relações diplomáticas, relações consulares”, afirmou.
E, nesse sentido, prosseguiu, “as comunidades chinesas em Portugal têm de se conformar a esses tratados”, acrescentando que foi dada essa garantia.