O eurodeputado e secretário-geral do Partido Democrático Europeu considera que a atribuição do estatuto de candidato à Ucrânia “transforma a natureza do alargamento” da União Europeia (UE), até agora orientado para a transição democrática, como aconteceu com Portugal.

“Em primeiro lugar, a decisão de conceder o estatuto de candidato à Ucrânia transforma a natureza do alargamento. Até agora, oferecia um modelo de transição económica e democrática a países que estavam a sair de ditaduras fascistas, como Portugal e Espanha, ou de sistemas comunistas”, afirma Sandro Gozi à Euractiv, parceira da Lusa, numa entrevista hoje divulgada.

Para o eurodeputado italiano do partido Renovar Europa, secretário-geral do Partido Democrático Europeu e também presidente da União dos Federalistas Europeus, “quando, no meio de um conflito, se reconhece a Ucrânia como candidata à adesão à UE, dá-se ao alargamento um significado muito mais geopolítico e mais uma razão para reformar a União Europeia”.

“Quando utilizamos o alargamento em termos geopolíticos para ajudar a reforçar a resistência atual e a reorganizar a estabilidade do continente amanhã, temos de transformar a UE numa verdadeira entidade política e, por isso, a reforma da União torna-se ainda mais urgente e necessária”, sublinha o ainda presidente do Grupo Spinelli, que reúne os eurodeputados mais federalistas.

De acordo com Sandro Gozi, o bloco comunitário deveria “utilizar o tempo que resta nesta legislatura para tentar iniciar agora a reforma da UE”.

“Se eventualmente não o conseguirmos, devemos esforçarmo-nos por fazer das eleições europeias de 2024 o momento democrático em que debateremos a forma como queremos reformar a UE, [mas] gostaria que o Conselho decidisse, antes das eleições, iniciar a reforma imediatamente após as eleições e este deve ser o nosso objetivo e também um dos pontos das nossas iniciativas e campanhas enquanto União dos Federalistas Europeus”, vincou.

O federalista apontou ainda outras “reformas profundas” a seu ver necessárias nos próximos anos, ao nível do reforço da votação por maioria qualificada no Conselho, de aposta em novos recursos próprios para financiar as prioridades políticas e de defesa e ainda de “como a UE funciona, porque uma Comissão com 35 ou 36 comissários, em que há um comissário ucraniano, francês, montenegrino, kosovar, etc., não pode funcionar bem”.

Em meados de 2022, os Estados-membros da UE adotaram uma decisão histórica de conceder o estatuto de candidatos à Ucrânia e Moldova, que se juntaram a um grupo alargado de países, alguns dos quais há muito na ‘fila de espera’ para entrar no bloco europeu, sem quaisquer progressos nos últimos anos.

Os processos de adesão são extremamente morosos e alguns dos países com estatuto de candidatos ao alargamento aguardam assim há muitos anos pela abertura formal das negociações.

No início deste mês, ao participar na segunda cimeira da Comunidade Política Europeia, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse ser “necessária uma decisão clara e positiva na adesão à UE” no outono, falando num “ano de decisões” ao nível europeu, mas também no que toca à Aliança Atlântica.