O Sudão viveu hoje um dos poucos dias de tréguas efetivas entre as partes em conflito, apesar da acusação das Forças de Apoio Rápido de que o Exército teria atacado uma delegação do Comité Internacional de Cruz Vermelha (CICV).
A calma prevaleceu tanto em Cartum como na cidade vizinha de Um Durman, no segundo dia do cessar-fogo de 72 horas, o 12.º desde o início dos combates, há mais de oito semanas, e que entrou em vigor domingo de manhã, sob os auspícios dos Estados Unidos da América e da Arábia Saudita, segundo relato da agência Efe.
Cartum e Um Durman são palco desde 15 de abril de confrontos contínuos e bombardeamentos aéreos e de artilharia que se espalharam para outras áreas do oeste do país, mas esta pausa permitiu que a movimentação dos seus habitantes voltasse quase à normalidade.
Vizinhos dos bairros leste e sul da capital, bem como da parte sul de Um Durman, saíram para comprar bens de primeira necessidade, enquanto outros verificaram o estado das suas lojas, casas ou negócios para garantir que não foram afetados por saques ou bombardeamentos das últimas semanas.
A calma foi interrompida por uma acusação das Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) de que o Exército teria atirado contra uma patrulha do grupo paramilitar que acompanhava uma delegação do CICV num hospital de Cartum, o que não foi confirmado pela Cruz Vermelha.
“Num ato covarde, a milícia golpista lançou um ataque traiçoeiro esta manhã contra as nossas forças enquanto estas se deslocavam, acompanhadas pela missão da Cruz Vermelha Internacional, para retirarem 35 feridos das forças golpistas que estavam no Hospital Militar” no norte de Cartum, disseram, em comunicado, as RSF.
A nota refere que o ataque, “pôs em perigo a vida dos membros” da missão internacional, aliás “um dos oficiais que supervisionavam a evacuação ficou ferido”.
A Cruz Vermelha ainda não relatou um suposto ataque contra a sua missão em Cartum, nem o Exército sudanês reagiu às reivindicações das RSF.
Por seu turno, o Ministério dos Negócios Estrangeiros sudanês acusou as RSF em comunicado de terem invadido a embaixada do Zimbabué e a casa do embaixador, onde “roubaram carros e valores, destruíram móveis e manipularam documentos”.
A mesma nota definia estes acontecimentos como uma “violação flagrante das normas e leis internacionais relativas à proteção dos quartéis-generais das missões diplomáticas” e pedia à comunidade internacional que considerasse o grupo paramilitar “uma organização terrorista”.
Por outro lado, os sudaneses aguardam os resultados da reunião a que a Arábia Saudita vai copresidir hoje com o Qatar, o Egito e a Alemanha, para abordar e anunciar compromissos de apoio à resposta humanitária no Sudão.
Delegações do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), da União Europeia e do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) participarão também no encontro em Genebra.
O conflito no Sudão já provocou o deslocamento interno e externo de mais de 2,2 milhões de pessoas, segundo agências das Nações Unidas, número que se soma aos 3,7 milhões de deslocados internos que o país já teve, principalmente em Darfur (oeste).
O número exato de vítimas dos combates é desconhecido, mas está estimado em cerca de 1.173 civis mortos e 11.704 feridos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), citando o Ministério da Saúde do Sudão.