O ministro da Administração Interna decretou o encerramento imediato e urgente da discoteca Eskada Porto. A medida cautelar temporária surge após recorrentes incidentes de grave perturbação da ordem pública e alertas da Câmara do Porto. Rui Moreira foi ouvido e concordou com a decisão.

Ruído, assaltos, vandalismo, violência e desacatos. A discoteca no número 611 da Rua da Alegria, no centro do Porto, vinha sendo alvo de várias queixas, praticamente desde a sua abertura, em março de 2013. Nos últimos dois anos, os “frequentes incidentes com grave perturbação da ordem pública” no Eskada e alertas da Autarquia motivaram uma proposta de encerramento por parte PSP. Proposta que, após ouvido o presidente da Câmara, foi validada por José Luís Carneiro.

Eskada assume situações anormais, mas diz que a maioria é fora da discoteca

O grupo Eskada, vem, em comunicado, reconhecer que “nos últimos tempos algumas situações anormais aconteceram, sendo que a esmagadora maioria das mesmas ocorreram fora do estabelecimento, sem qualquer ligação ao Eskada ou aos seus funcionários”.

No longo comunicado, o grupo refere ainda que respeita, mas não concorda com a decisão do Ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, lamentando, no entanto, que, por diversas vezes, tenha solicitado apoio às autoridades de segurança pública, mas “sem sucesso, para implementar medidas que ajudassem a eliminar o mitigar os problemas que o correram nos últimos meses”.

No documento, refere ainda que “o encerramento cautelar do estabelecimento é algo que nos entristece, que empobrece a oferta turística da cidade do Porto e que coloca em risco dezenas de postos de trabalho”. “Estamos a trabalhar intensamente junto das autoridades, e em colaboração com as mesmas, para poder restabelecer as condições, que entendam necessárias, para a reabertura urgente do Eskada Porto”, pode ler-se, na nota, onde se refere ainda que a “segurança de todos os nossos clientes e amigos é também para nós um imperativo, não podemos aceitar os desacatos de uns poucos que possam afetar a diversão ordeira de milhares de clientes e turistas e possam ser fundamento da destruição de um espaço já emblemático na noite do Porto”.

Vizinhos do Eskada relatam dez anos de “terror e violência”

“Se soubesse o que sei hoje – que na realidade já sei há alguns anos – nunca teria comprado casa aqui”. O desabafo é partilhado com o Porto Canal por um dos moradores da Rua da Alegria, alguém que tem na discoteca Eskada o vizinho indesejado que atormenta qualquer proprietário.

A afirmação, proferida de forma crua e dura, não permite esconder o cansaço e rancor de anos acumulados de noites mal dormidas. Às chamadas para a polícia a altas horas da madrugada, aliadas à relatada inação das forças de segurança, juntam-se relatos de violência, gritos, lixo e sentimento de insegurança que leva ao medo de abandonar a própria casa.

“Dizem que o Brasil é perigoso. Já fui para o Rio de Janeiro de férias e senti-me mais seguro lá do que aqui. Não sinto que possa sair de casa em segurança depois da meia-noite e deixar o carro na rua é impensável”, conta um dos ‘vizinhos’ do Eskada que, tal como outros com quem o Porto Canal falou, pede para manter o anonimato face ao medo de represálias.

“De manhã encontramos ali no jardim (Largo de José Moreira da Silva) lixo, urina, vómito… há de tudo o que possam imaginar”, relata-nos um morador da rua da Alegria, reformado, e que ali reside há tantos anos que não é capaz de precisar.

Face à notícia do encerramento da discoteca, que havia já sido comentada com outros vizinhos durante as primeiras horas da manhã, a esperança não deixa de transparecer, ainda que por breves instantes. “Parece que agora houve finalmente coragem para fazer alguma coisa mas não vou celebrar já. Vamos esperar. Quanto mais não seja pelo menos durante os próximos dias vamos poder dormir descansados”, confessa.

Outro morador fala-nos de uma “discoteca com as características de espaço de diversão noturna de uma zona industrial a funcionar no centro da cidade do Porto”, frisando que “isto já dura há demasiados anos!”

“Isto já foi um bar de strip e eu sinceramente preferia esse tipo de estabelecimento. Os clientes sempre eram mais recatados… e discretos”, conta-nos o mesmo morador, entre risos. “As nossas queixas são antigas mas nota-se que nos últimos anos o perfil das pessoas que aqui vemos na rua mudou. São mais novos, alguns parecem não ter mais de 14/15 anos. Estão constantemente a pegar-se por causa de raparigas”.

‘Movida’ do Porto: a última esperança

O anúncio por parte da Câmara Municipal do Porto da revisão do regulamento da ‘Movida’, em finais de 2022, deu algum ânimo aos vizinhos do Eskada, tendo em conta a possibilidade de a Rua da Alegria ser incluída nesta zona delimitada da cidade, obedecendo dessa forma a regras e medidas de controlo mais apertadas. O partido socialista abraçou esta iniciativa dos moradores mas o executivo liderado por Rui Moreira acabaria por inviabilizar esta proposta.

“Em 2016 ou 2017 os moradores da zona juntaram-se e fizeram um abaixo-assinado que de nada serviu. Mais recentemente houve uma proposta para a Rua da Alegria ser inserida na zona da Movida do Porto, precisamente por causa do Eskada, e a Câmara não quis. É um absurdo, eles têm ali uma zona de jardim totalmente aberto e o barulho que vem só daí faz com que seja impossível que alguém consiga dormir”, realça um dos moradores.

Moreira e Carneiro de acordo com o encerramento da discoteca

Fonte ligada ao processo confirmou ao Porto Canal que José Luís Carneiro ligou a Rui Moreira durante a tarde do passado domingo para falarem do futuro da discoteca portuense. Esta chamada terá sido precipitada pelo escalar de casos e queixas verificadas ao longo das últimas semanas, participações recolhidas pela PSP e autarquia.

Situada no número 611 da Rua da Alegria, a discoteca Eskada Porto tem sido alvo frequente de queixas devido ao barulho, perturbação da ordem pública e vandalismo. A proposta de encerramento assinada pelo ministério tutelado por José Luís Carneiro destaca também “agressões envolvendo funcionários ou seguranças privados da discoteca e episódios entre clientes – com vários deles a receber assistência hospitalar”.