Docente primário admite a maioria dos 3.734 crimes de que está acusado, justificando-se com um “impulso incontrolável”
Um professor primário da Póvoa de Lanhoso confessou hoje, em tribunal, a maioria dos 3.734 crimes de abuso sexual de crianças de que está acusado, cometidos contra 11 alunas. Durante a sessão de julgamento, realizada à porta fechada no Tribunal Criminal de Guimarães, o arguido justificou os seus atos com um “impulso incontrolável” e expressou “profundo arrependimento”.
O advogado de defesa, Artur Marques, revelou aos jornalistas que o seu cliente, de 50 anos e em prisão preventiva desde maio de 2024, reconheceu a grande maioria dos factos apresentados pela acusação. No entanto, negou alguns dos crimes de abuso sexual e os de maus-tratos também imputados pelo Ministério Público (MP). O arguido está atualmente a receber acompanhamento psicológico e psiquiátrico.
Crimes cometidos dentro da sala de aula
De acordo com a acusação do MP, o professor praticou os crimes entre setembro de 2017 e 7 de maio de 2024, data em que foi detido pela Polícia Judiciária (PJ). O docente chamava as alunas para junto da sua mesa durante as aulas, alegadamente para explicar a matéria, colocando-as no seu colo e tocando-lhes de forma imprópria.
O padrão de abuso repetiu-se diariamente ao longo de sete anos letivos, exceto durante o período de encerramento das escolas devido à pandemia de COVID-19. Segundo a acusação, o arguido chegava a sentar duas alunas ao mesmo tempo em cada perna, enquanto lecionava diante dos restantes alunos.
Além dos milhares de crimes de abuso sexual, o professor responde ainda por três crimes de maus-tratos cometidos contra três alunos. O MP relata que, nestes casos, o docente agredia as crianças com palmadas na cabeça, puxão de cabelos e orelhas e insultos como “burro”, “palerma” e “estúpido”.
Indemnização de 30 mil euros para as vítimas
No âmbito dos Pedidos de Indemnização Civil (PIC) apresentados por mais de metade das vítimas, o arguido manifestou intenção de indemnizar oito das 11 crianças afetadas. Contudo, alegou dispor apenas de 30 mil euros para esse efeito, um montante considerado insuficiente perante a dimensão do caso.
O docente, que lecionava há 24 anos, também está acusado de três crimes de pornografia de menores. Segundo o MP, os crimes cometidos comprometeram gravemente o desenvolvimento emocional e psicológico das vítimas, afetando a sua capacidade de estabelecer relações saudáveis e seguras no futuro.
A sessão de julgamento prossegue no período da tarde, com a continuação da audição do arguido.