Estudo nacional revela tendência de descida no consumo de substâncias psicoativas entre os jovens, mas alerta para novas formas de risco e alterações nos padrões de iniciação.
As raparigas consomem mais álcool, tabaco, sedativos e analgésicos do que os rapazes, que, por sua vez, apresentam maior prevalência no consumo de drogas ilícitas. Esta é uma das conclusões do Estudo sobre os Comportamentos de Consumo de Álcool, Tabaco, Drogas e outros Comportamentos Aditivos e Dependências 2024 (ECATD–CAD), divulgado esta terça-feira.
O estudo, promovido pelo Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Dependências (ICAD), envolveu 11.083 alunos dos 13 aos 18 anos, de 1.992 escolas públicas de todo o país, e baseia-se no questionário europeu ESPAD.
Os dados revelam uma “clara tendência de descida” no consumo de substâncias como o álcool, o tabaco e as drogas, embora com algumas exceções. Entre estas está o aumento do consumo de analgésicos fortes para fins recreativos, bem como o crescimento do jogo online e de apostas em dinheiro.
Apesar de o álcool continuar a ser a substância psicoativa mais consumida entre os jovens, o seu uso é hoje menos generalizado. Ainda assim, 58% dos inquiridos afirmam ter bebido pelo menos uma vez na vida, 48% no último ano e 17% referem ter praticado ‘binge drinking’ no último mês. Os ‘alcopops’, a cerveja e as bebidas destiladas lideram as preferências.
O consumo de tabaco também regista uma quebra significativa, sobretudo entre os rapazes, sendo que 25% já experimentaram fumar e apenas 10% o fizeram no último mês. O uso diário mantém-se residual, embora 22% dos que fumam cigarros tradicionais o façam todos os dias.
Quanto às drogas ilícitas, 7% dos alunos já consumiram alguma vez, sendo a canábis a mais popular. No entanto, apenas 1% a utiliza diariamente ou quase diariamente. Entre os utilizadores recentes, essa taxa sobe para 10%.
Os medicamentos psicoativos, como sedativos e ‘nootrópicos’, são mais consumidos pelas raparigas, muitas vezes sem prescrição médica. O estudo alerta ainda para o consumo de analgésicos muito fortes com o objetivo de “ficar alterado”, uma prática reportada por 3% dos inquiridos.
Uma das mudanças mais significativas face ao estudo anterior, de 2019, é o aumento do consumo de risco entre as raparigas, ultrapassando em alguns casos os rapazes. Também se verifica uma redução clara na iniciação precoce (antes dos 13 anos) ao álcool e ao tabaco de combustão, embora o início do consumo de cigarros eletrónicos e canábis esteja a ocorrer mais cedo do que há cinco anos.
Por fim, o estudo assinala que os jovens consideram hoje mais difícil o acesso à maioria das substâncias psicoativas, com destaque para os cigarros tradicionais e os ‘alcopops’.