Irmã Aline Ghammachi nega acusações de má gestão e maus-tratos. Abade-geral da Ordem de Cister rejeita ter motivado afastamento.

Uma freira brasileira foi afastada do cargo de madre-abadessa do Mosteiro San Giacomo di Veglia, em Itália, após denúncias anónimas que alegavam maus-tratos, abuso de poder e manipulação de recursos. A religiosa, irmã Aline Pereira Ghammachi, rejeita todas as acusações e afirma ser vítima de preconceito pela sua aparência física, nacionalidade e idade.

“Fui afastada porque sou brasileira e demasiado bonita para ser abadessa”, declarou a freira, nascida no estado do Amapá, ao canal Globo. Aline foi a primeira mulher latino-americana a assumir a liderança de um convento italiano, em 2018, e tornou-se na abadessa mais jovem da história recente da Ordem de Cister.

Afastamento ocorreu após denúncia anónima

A decisão do afastamento foi tomada a 21 de abril, poucos dias após a morte do Papa Francisco, na sequência de uma investigação desencadeada por uma carta anónima, remetida à hierarquia da Igreja. A denúncia apontava para alegados maus-tratos a outras freiras, abuso de autoridade e irregularidades financeiras.

Contudo, segundo a imprensa italiana e brasileira, uma auditoria realizada em 2023 pela própria diocese não identificou quaisquer indícios de desvio de verbas ou má gestão por parte da então madre-abadessa.

“Há uma perseguição interna”, diz a freira

Aline Ghammachi afirma estar a ser alvo de perseguição interna, nomeadamente por parte do abade-geral da Ordem de Cister, a quem acusa de ter feito comentários depreciativos sobre a sua aparência. “Disse-me que eu era demasiado nova, bonita e brasileira para estar à frente de um mosteiro europeu”, relatou.

O abade-geral negou as acusações e também a alegação de que a freira tenha sido formalmente expulsa da congregação, sublinhando que o seu afastamento se deve ao decurso natural do processo interno de apuramento dos factos.

Da gestão empresarial ao convento

Antes de se consagrar à vida religiosa, irmã Aline foi gestora de empresas e tradutora de documentos e eventos eclesiásticos, além de intérprete em missões oficiais da Igreja. A sua família, oriunda de Macapá, é conhecida no meio jornalístico local.

Desde que foi afastada, a freira encontra-se fora do mosteiro, aguardando o desfecho do processo. Em declarações recentes, lamentou o tratamento que considera ter recebido por parte de membros da hierarquia e manifestou a sua intenção de lutar para repor a verdade e limpar o seu nome.

O caso está a gerar debate dentro e fora da Igreja Católica, colocando sob escrutínio o papel das mulheres em posições de liderança e a forma como fatores culturais, físicos e sociais podem ainda influenciar decisões institucionais.