Em causa estarão suspeitas de eventual favorecimento na gestão da lista de espera do Hospital de Santo António.

O Ministério Público (MP) e a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) estão a investigar as circunstâncias em que decorreu uma cirurgia a Hugo Soares, líder parlamentar do PSD, realizada em agosto de 2024 no Hospital de Santo António, no Porto. Em causa estarão suspeitas de um eventual favorecimento no acesso à intervenção cirúrgica.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) confirmou esta sexta-feira à agência Lusa a abertura de um inquérito, que decorre no Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) Regional do Porto, estando o processo “sujeito a segredo de justiça”.

Segundo o semanário Expresso, a investigação foi desencadeada por uma denúncia anónima detalhada, que questiona a forma como Hugo Soares foi admitido como prioritário na lista de espera para uma cirurgia robótica ao cólon, realizada a 29 de agosto de 2024. A IGAS, por sua vez, também abriu um inquérito sobre o caso, que se junta a um processo já em curso desde novembro de 2024 relacionado com a gestão das listas de espera e a eventual acumulação de funções públicas e privadas pelo diretor do departamento de cirurgia do hospital, Eurico Castro Alves.

Consulta privada na origem da referenciação?

De acordo com o Expresso, a denúncia enviada ao MP e ao jornal sugere que o processo clínico de Hugo Soares terá tido origem numa consulta no setor privado. No e-mail, são apresentados dados internos do hospital, incluindo o número do processo clínico e a identificação do cirurgião que, a 21 de julho (um domingo), terá admitido o político como prioritário na lista de espera.

A denúncia levanta suspeitas sobre a “celeridade e discrição” do processo, tendo o líder parlamentar sido operado pouco mais de um mês após ter sido incluído na lista.

Confrontado pelo jornal, Hugo Soares recusou comentar o caso, tal como o cirurgião responsável.

Hospital defende a atuação

O diretor clínico do Hospital de Santo António, Jorge Barros, sustenta que a denúncia contém “pressupostos errados ou grosseiramente adulterados”. Segundo explicou ao Expresso, Hugo Soares deu entrada nas urgências do hospital a 13 de julho de 2024, onde foi atribuído uma pulseira amarela (urgente), sendo encaminhado para cirurgia geral.

O diagnóstico de doença inflamatória aguda justificaria, segundo Jorge Barros, uma cirurgia não emergente mas prioritária, com um tempo máximo de resposta garantido de dois meses. O líder parlamentar acabou por ser operado em conformidade com este prazo.

Barros acrescentou ainda que a análise da peça cirúrgica confirmou a gravidade do quadro clínico, reforçando a justificação para a prioridade atribuída. O diretor clínico garante que os registos do hospital são fiáveis e já foram disponibilizados à IGAS.

Próximos passos

Apesar das justificações apresentadas, o Ministério Público considerou haver matéria para investigar um eventual crime de abuso de poder, no quadro da gestão da lista de espera do hospital. O caso permanece em segredo de justiça e deverá continuar a ser escrutinado nos próximos meses.

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