Tensão no Médio Oriente pressiona mercados energéticos e pode impactar combustíveis e gás. Especialistas alertam para risco global se Estreito de Ormuz for afetado.

A eletricidade no mercado grossista ibérico registou uma subida abrupta de 90% em apenas dois dias, impulsionada pela crescente escalada de tensão entre Israel e o Irão. A crise geopolítica está a ter reflexos diretos nos mercados energéticos internacionais, com impactos que começam a sentir-se no MIBEL – Mercado Ibérico de Eletricidade.

De acordo com os dados do OMIE (operador do mercado ibérico de energia elétrica), o preço médio diário da eletricidade em Portugal já ultrapassa os 106 euros por megawatt-hora (MWh) – valores semelhantes aos registados em Espanha. Estes números representam uma escalada significativa face aos valores praticados no início da semana.

Porque estão os preços a subir?

A instabilidade provocada pelo conflito Israel-Irão tem reflexos diretos no preço do petróleo e do gás natural, matérias-primas essenciais para a produção de eletricidade em vários países europeus. Qualquer ameaça à circulação no Estreito de Ormuz – por onde passa cerca de 20% do petróleo consumido globalmente – pode ter consequências devastadoras no equilíbrio dos mercados globais.

O ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, David Lammy, alertou no Parlamento para os “riscos reais para a economia global” se o conflito evoluir para um bloqueio da zona, dado o papel central do Irão na produção e exportação de petróleo.

Segundo Manuel Pinto, analista de mercados citado pela Lusa, “o maior receio é que o Irão possa bloquear o Estreito de Ormuz, provocando uma quebra de oferta e consequente aumento generalizado dos preços do crude”.

Os combustíveis e o gás também vão subir?

A tendência histórica mostra que oscilações bruscas no preço do petróleo tendem a refletir-se nos preços dos combustíveis e do gás, embora o impacto não seja imediato. Para já, o mercado observa com atenção os desenvolvimentos do conflito, mas os especialistas avisam que se a tensão se prolongar, a subida será inevitável nas bombas de combustível e nas faturas do gás natural.

Na última sexta-feira, o Brent, principal referência do petróleo europeu, registou uma subida de 7,02%, o maior crescimento desde o início da guerra na Ucrânia, em fevereiro de 2022. Na segunda-feira, a cotação recuou ligeiramente para 73,23 dólares, com o mercado a reagir à ausência de perturbações imediatas no fornecimento.

A consultora Energy Aspects, através do seu responsável de geopolítica, Richard Bronze, considerou esta situação “muito significativa e preocupante”, embora ainda não tenha o mesmo peso económico da guerra da Ucrânia.

Para já, consumidores e empresas devem preparar-se para um verão volátil no setor energético, condicionado tanto por fatores internacionais como por decisões políticas e ambientais internas.