TVI apresentou “provas falsas” sobre o incêndio na Mata Nacional de Leiria

O incêndio no Pinhal de Leiria teve ou não mão criminosa? A investigação judicial diz que sim. Não contrariando as autoridades, o Observador contactou especialistas que refutam as provas apresentadas pela TVI na reportagem “A Máfia do Pinhal”.

Não é com o objetivo de contrariar as autoridades, mas sim as provas apresentadas pela TVI na reportagem da jornalista Ana Leal, “A Máfia do Pinhal“, que afirma terem sido encontradas provas de uma conspiração de madeireiros para incendiar a Mata Nacional de Leiria, com o objetivo de obter benefício económico através da depressão do preço da madeira, induzida pelo excesso de oferta e urgência de a vender antes de se começar a degradar, segundo o Observador.

No entanto, de acordo com três especialistas em incêndios, José Miguel Cardoso Pereira, Paulo Fernandes e António Carvalho, várias provas apresentadas na reportagem são “falsas”.

A análise do Observador começa por se focar em dois incêndios apresentados na reportagem: o primeiro na Légua, a 12 de outubro, e o segundo na Burinhosa, a 15 de outubro. Ambos estão identificados pelas autoridades como tendo sido causados intencionalmente.

Mas o Observador afirma que ambos os fogos foram muito pequenos, o primeiro queimou uma área correspondente a um campo de ténis e o segundo uma área correspondente a 1/3 de um campo de futebol.

Assim, o que terá queimado uma área incomparavelmente maior foram os reacendimentos e esses não terão sido planeados pelos madeireiros.

O jornal explica também que não faz sentido o local onde começaram os dois incêndios, se o objetivo era então queimar o Pinhal de Leiria. O primeiro, o da Légua, iniciou-se três quilómetros a sul da Mata Nacional de Leiria. O segundo, o da Burinhosa, iniciou-se já mais próximos, a 500 metros, mas o Observador explica que, por ter uma povoação a 250 metros, este seria de fácil e rápida deteção, o que impediria de queimar uma grande área.

Este é “um risco que criminosos organizados com motivação de causar um grande incêndio deveriam querer evitar”, avança o Observador.

O Observador foca-se também no que é apresentado pela TVI como “engenhos incendiários”. A reportagem mostras vasos para recolha de resina que são encontrados num pinhal e passam automaticamente a ser considerados “engenhos incendiários” e não simples objetos destinados à recolha de resina.

E depois o jornal pergunta: “Como é que a jornalista distingue um vaso de resina supostamente usado como engenho incendiário, de um outro que estava simplesmente colocado num tronco para recolher a resina e que caiu e se partiu quando o pinheiro ardeu e, eventualmente, tombou?”

Além disso, é destacada a “sorte” que a jornalista teve em encontrar dois vasos de resina caídos no sítio onde os tronos se partiram, na posição ideal para induzir a associação de ideias entre a presença do caso e a queima do pinheiro.

“O vaso não podia ter sido ali colocado pelos alegados incendiários porque nessa altura o tronco estaria inteiro. Ou será que os incendiários se deram ao trabalho de partir os pinheiros e colocar os vasos de resina sobre o local da fratura no tronco?”, questiona a análise do Observador.

O jornal salienta ainda a falta de “danos por recozimento e uma coloração correspondente” no vaso que esteve exposto a um imenso calor.

Testemunhas contactadas pela estação de Queluz observam que os efeitos do fogo foram mais severos nuns sítios do que noutros – “o que é inevitável, devido às variações da quantidade, tipo e grau de secura da vegetação, e à grande variabilidade das condições meteorológicas, sobretudo da velocidade e direcção do vento”.