Mário Nogueira, da Fenprof, considerou “inaceitável” o conteúdo da nota informativa enviada pela Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares às escolas
A Fenprof defendeu hoje que as orientações enviadas às escolas pelo Governo relativas às greves às avaliações são ilegais, vai apresentar queixa à inspeção de educação e Ministério Público e alerta que diretivas semelhantes originaram processos disciplinares a diretores.
Essa nota irá merecer uma queixa na Inspeção-Geral de Educação e Ciência, amanhã [terça-feira] mesmo já será concretizada, mas também junto do Ministério Público
Em declarações à Lusa, o secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), Mário Nogueira, considerou “inaceitável” o conteúdo da nota informativa enviada pela Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares (DGEstE) às escolas e disse que esta irá merecer queixas às entidades competentes.
“Posso dizer que essa nota está já em apreciação nos nossos advogados, essa nota irá merecer uma queixa na Inspeção-Geral de Educação e Ciência (IGEC), amanhã [terça-feira] mesmo já será concretizada, mas também junto do Ministério Público. E no plano político iremos enviar a nossa posição para todos os grupos parlamentares, porque o que está aqui a ser feito é ilegal”,disse Mário Nogueira.
O dirigente sindical adiantou que as queixas apresentadas no ano passado pela Fenprof à IGEC, por violação do direito à greve, no decurso da greve aos exames que a federação agendou, estão agora a ter resultados, com 17 processos disciplinares abertos a diretores escolares por terem cumprindo ordens do Júri Nacional de Exames (JNE) que iam além do que obrigava o acórdão dos serviços mínimos, pedindo “cuidado” aos diretores para as greves deste ano.
O líder da Fenprof disse que “é absolutamente inaceitável que um Governo que diz que respeita as regras do Estado de direito democrático esteja a violá-las”, que os sindicatos não vão “de forma alguma pactuar” e que a nota informativa “mostra que o Governo está a ver chegar o dia 18 [primeiro dia da greve às avaliações também convocada pela Fenprof] e sabe que as escolas vão todas parar”.
Em causa está uma nota informativa na qual o Ministério da Educação (ME) informou as escolas que todos os alunos iriam fazer provas finais e exames nacionais, independentemente de já terem, ou não, as notas internas finais lançadas, que estão a ser atrasadas pela greve às avaliações em curso, convocada pelo Sindicato de Todos os Professores (S.T.O.P.) e que, segundo esta estrutura, já bloquearam centenas de reuniões de conselhos de turma, impossibilitando o lançamento de notas.
Os conselhos de turma só se realizam com a presença de todos os professores, bastando uma ausência para adiar a reunião por 48 horas.
As orientações enviadas às escolas dizem que à segunda reunião, caso esta não se realize, a terceira deve ser convocada para as 24 horas seguintes, e na terceira reunião o diretor de turma, ou quem o substitua, “deve recolher antecipadamente todos os elementos referentes à avaliação de cada aluno fornecidos por todos os professores”.
“Incidindo os pré-avisos de greve apenas sobre as reuniões de conselho de turma, os mesmos não afastam nem o dever de recolher, nem o dever de facultar os elementos referidos no ponto anterior”, lê-se na nota informativa.
O ME parece estar numa espiral de desespero e nessa espiral a dar informações ilegais, só para quem está a delirar pode pensar que elas são para aplicar
Tudo isto, garante a Fenprof, é ilegal.
“O ME parece estar numa espiral de desespero e nessa espiral a dar informações ilegais, só para quem está a delirar pode pensar que elas são para aplicar. Essa nota só mostra que o ME está a entrar em desespero”, disse Mário Nogueira.
O dirigente da Fenprof disse ser ilegal pedir antecipadamente informação sobre notas de alunos, algo que, sublinhou, só está previsto na lei para situações comprovadas de ausência prolongada, devido a doença, por exemplo, e que apenas voluntariamente os professores o podem fazer, nunca obrigados.
“Os professores só são obrigados a disponibilizar essa informação nas reuniões que se realizam, seja à 1.ª ou à 15.ª.O que temos dito aos colegas é que neste contexto da greve não lancem coisa nenhuma, porque não incorrem em qualquer problema. A greve não é uma falta, é a suspensão do vínculo entre o trabalhador e a entidade patronal. Num dia de greve ninguém está sujeito a qualquer tipo de dever”, disse Mário Nogueira.
Nós não iremos permitir que impunemente se cometam ilegalidades
Disse também ser ilegal qualquer tentativa de aferir previamente se um professor fará ou não greve, alertando que isso é um crime punível pela lei, e que é ilegal obrigar à realização do conselho de turma à terceira reunião, dizendo que “isso é um delírio da DGEstE) e que não há nada na lei que o determine.
“Pelo menos pela parte da Fenprof, todas as violações de lei que nós encontrarmos nas escolas iremos avançar este ano com queixas como avançámos no ano passado. Nós não iremos permitir que impunemente se cometam ilegalidades e não iremos permitir que impunemente a DGESTE envie esta nota”, afirmou o dirigente.
Mário Nogueira disse que o problema que suscita a greve às avaliações “era simples de resolver se o Governo cumprir aquilo com que se comprometeu” e que se quiser “continuar pelo caminho da ilegalidade” tem “um problema muito bicudo para resolver”.