As clínicas de tratamento de piolhos são a nova tendência de negócio em Portugal, com dezenas de espaços a abrirem nos últimos meses e em que as principais pacientes são adolescentes contagiadas durante as ‘selfies’, crianças, mães e avós.

Em Braga, no final de 2019, abriu um gabinete da clínica “Sem Mais Piolhitos”. Para 2020, a mesma firma espera abrir uma loja em Famalicão (depois de abertas outras duas em Vila do Conde e Maia).

A loja de Braga fica localizada na Rua de São José, registando cada vez mais uma maior procura por parte de clientes. Mas é no Porto onde mais se nota esta nova tendência, sobretudo devido aos cabelos longos das adolescentes contagiadas.

Na loja-sede do Porto, estão duas adolescentes de telemóvel em punho, sentadas numa espécie de poltronas dentárias, com as mechas de cabelos louros agarrados com molas, onde técnicas equipadas de bata, luvas e touca catam piolhos e lêndeas com lupas, de cinco dioptrias, e aspiradores especiais que sugam os parasitas.

O ‘boom’ de clínicas em Portugal explica-se com o “desespero do pais que não conseguem combater os piolhos a nível doméstico”, explicou à Lusa Sílvia Freitas, administradora-gestora da “Sem Mais Piolhitos” em Portugal, marca que desde setembro passado abriu centros de tratamento no Porto e em Braga, mas também em Vila do Conde e Maia. Para 2020 quer abrir em Famalicão, Viseu, Leiria e Lisboa.

Às salas de espera das clínicas chegam bebés de colo, alunos do ensino básico, adolescentes, universitárias, mas também mães e avós contagiadas pelos mais novos. Um tratamento custa 50 euros, em média, e tem a duração de uma hora, que pode variar conforme tamanho do cabelo e número de parasitas.

“Temos muito mais meninas do que meninos em tratamento, e surpreendeu-nos a quantidade de adolescentes que nos procuram”, revela Sílvia Freitas, justificando o fenómeno das adolescentes com ‘smartphones’ que passam muitas horas por dia juntas na escola e cuja diversão mais popular é tirar ‘selfies’ e a fazer vídeos para as redes sociais.

Sílvia Freitas assegura que “quem tem telemóvel tem mais piolhos do que quem não tem telemóvel”, porque os piolhos “precisam de passar de cabelo em cabelo para alcançarem outro hospedeiro” e as novas tecnologias vieram propiciar mais pontos de contágio.

Marlene Silva é uma mãe à beira de um ataque de nervos que já foi parar ao hospital com dores de costas por ter estado oito horas consecutivas a espiolhar os filhos. A solução encontrada foi ir ela e mais sete crianças – filhos, amigos dos filhos e sobrinhos – para o centro de tratamento. Nesse dia gastou cerca de 350 euros.

Rita Ferro Rodrigues, sócia da clínica “Head Cleaners”, marca que abriu no último semestre centros de tratamento em Lisboa, Porto, Mafra e Braga e em 2020, quer criar “pelo menos mais 10”, relacionou piolhos nas adolescentes com ‘selfies’. À lista de hipóteses mais consistentes acrescentou as atividades dos mais novos, como natação e ginásios e o facto da pediculose deixar de ser assunto ‘tabu’.

Segundo o jornal Telegraph, um estudo apresentado em 2017 na conferência da Associação Britânica de Dermatologistas do Reino Unido já relacionava piolhos na adolescência com as ‘selfies’.

Nas clínicas da “Head Cleaners”, os principais pacientes são crianças a partir dos três anos e avós com 70 e 80 anos. A “época alta” do piolho são os “pós festivais de verão”, final do ano letivo e ‘rentrées’ escolares.

Na clínica “Kids and Nids” da Boavista”, no Porto, o cliente mais novo tinha 18 meses, mas a maioria da clientela são adolescentes, recorda Joana Viana, sócia gerente daquele espaço.