Menus refinados são confecionados pelos restaurantes de Guimarães. Número de casos no concelho subiu de 277 para 388, segundo os números de ontem da DGS.

Estão longe das famílias há semanas, alguns até infetados, mas aguardam pela hora de voltar ao campo de batalha para combater a pandemia que parou o Mundo. Por isso, todos os mimos que os profissionais de saúde recebem são poucos e, em Guimarães, a Associação Vimaranense de Hotelaria (AVH) reuniu os seus associados para levarem, todos os dias, o almoço e o jantar a casa de médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares, de forma gratuita.

“Levamos carne, peixe e sopa. Têm cinco menus à escolha, mas eles dizem-me sempre para ser eu a escolher, por isso levo um prato para o almoço e outro para o jantar”, explica Gabriel Martins, dono de um restaurante de Guimarães.

Enquanto o funcionário Ricardo emprata o cação de cebolada com o arco-íris na camisola, o patrão Gabriel pede para não ser divulgado o nome do estabelecimento. Afinal, a iniciativa é da associação e nenhum dos restaurantes envolvidos quer publicidade com a ação solidária. No dia seguinte, será outro restaurante a fazer a entrega e a vez de Gabriel só chega novamente na próxima semana. Pronta a confeção, é hora da entrega. Gabriel põe a máscara e as luvas enquanto olha para as sacas de comida que vão para o hotel onde está uma enfermeira em isolamento porque testou positivo. De realçar que também o hotel cedeu quatro quartos de forma gratuita a profissionais de saúde.

“Bom-dia, está aí?”, pergunta Gabriel. “Sim, muito obrigado, vocês são fantásticos, assim custa menos”, responde a voz do outro lado da porta. É a enfermeira que por estes dias vive sozinha num quarto de hotel à espera de ver a família antes de voltar para a frente de batalha. A comida quente acabada de confecionar é um dos poucos momentos alegres do dia daquela combatente.

Gabriel deixa os sacos e segue para a próxima casa enquanto esquece, por momentos, a conjuntura que vive a restauração. Dos quatro restaurantes do empresário, três estão fechados e um funciona para entregas. São, por isso, nove funcionários a trabalhar e 43 em lay-off. Pior: a realidade não é exclusiva de Gabriel. Nem sequer de Guimarães ou Portugal, o que enobrece ainda mais o ato solidário que a turba hoteleira vimaranense abraçou por estes dias de crise.

388 INFETADOS

Naquele concelho, os números de infetados reportados pela Direção-Geral daSaúde aumentou 40% num dia, passando de 277 para os 388 de ontem. O primeiro caso foi a 15 de março, um profissional do Centro de Saúde de Moreira de Cónegos. Um dia depois, no Norte concelhio, disseminava-se um foco em Souto Santa Maria, ao que tudo indica numa empresa têxtil que contabilizou pelo menos quatro casos positivos por causa de um cidadão espanhol que esteve nas instalações da fábrica de 100 pessoas.

Entretanto, nessa semana, morria o primeiro vimaranense de Covid-19. Um homem de 84 anos. Desde então registou-se mais uma morte, um utente do Lar de São Francisco, a 24 de março.