Inquérito da Deloitte revela como cidadãos idealizam as cidades do futuro. A mobilidade sustentável também é uma das prioridades a par da inclusão social. O momento de agir é já, diz Miguel Eiras Antunes.
Os conceitos de cidade e de mobilidade estão a evoluir rapidamente e a pandemia veio revelar que estamos muito mais globalmente conectados do que pensávamos. Para enfrentar o desafio pandémico, mas também o da sobrelotação das cidades, cada vez mais transformadas em mega-metrópoles, as cidades vão ter mesmo de mudar. “Estamos alinhados nesse propósito e o tempo para agir é agora”, sob pena de não conseguirmos atingir as metas de desacarbonização, disse Miguel Eiras Antunes, líder global da Deloitte para smart cities, smart nation e local government, numa recente talk promovida pela consultora sobre cidades inteligentes.
Com o aumento da população urbana, as cidades têm vindo a assumir um papel cada vez mais importante na construção da sociedade, na melhoria da qualidade de vida dos cidadãos e na transformação dos modelos de mobilidade. Mas, como lembra Eiras Antunes, as cidades já albergam hoje cerca de 50% do total da população mundial, prevendo-se que essa percentagem suba para 70% já nos próximos anos, o que promete colocar uma pressão acrescida sobre o ambiente, o espaço, a mobilidade e a qualidade de vida num todo. Por isso, e de acordo com um inquérito realizado pela Deloitte, sobre as cidades de futuro idealizadas pelos cidadãos de hoje, estas têm de levar uma volta no sentido de se tornarem mais sustentáveis, tecnológicas e inovadoras.
O inquérito revelou que as cinco principais prioridades definidas pelos cidadãos são, em primeiro lugar, o planeamento de espaços públicos verdes, depois a mobilidade sustentável como um serviço, a generalização dos edifícios inteligentes e sustentáveis, a lógica do bairro 15 minutos, onde tudo se pode fazer num raio de 15 minutos a pé ou de bicicleta. E por fim, os inquiridos manifestaram ainda a preocupação com a criação de cidades socialmente mais inclusivas e também com respeito pela cibersegurança, nomeadamente relativamente à privacidade dos dados pessoais.
“Há três anos, tenho a certeza que os resultados a este inquérito seriam bastante diferentes”, considerou Miguel Eiras Antunes, para enfatizar que a pandemia veio colocar uma pressão adicional na necessidade de redesenhar as cidades, trazendo para a linha da frente novas prioridades. Trata-se, ressalvou, de “fazer a evolução da vida urbana para uma vida mais humana”.
Participando na live talk em videoconferência Sharon Thorne, global board chair da Deloitte, admitiu que já estamos atrasados nas metas e que se não acelerarmos só as vamos atingir em 2080. A questão da maior eficiência energética dos edifícios é crítica, na medida em que são responsáveis por 40% do consumo energético e as cidades por 90% das emissões, explicou. Daí que faça um apelo coletivo a governos, empresas e cidadãos para todos fazerem a sua parte. A esse propósito lembrou que “a pandemia deu-nos uma oportunidade única” para acelerar a recuperação verde e transformar a maneira de planear e desenhar as cidades, mas também para mostrar exemplos de maior interação humana e voluntariado junto dos mais necessitados. E é desse exemplo, que podemos ousar o otimismo de termos cidades mais inclusivas.
Para tornar as utopias possíveis, a Deloitte lembra que podemos já contar com um razoável manancial de ferramentas, com a internet das coisas (IoT), open data, inteligência artificial e analytics, com as quais as smart cities terão uma uma capacidade acrescida para monitorizar e atuar, promovendo uma melhor interação com os seus cidadãos, através da disponibilização de informação útil em tempo real (horários de transportes, alterações no trânsito, contratos públicos, entre outros) e da simplificação de processos do quotidiano das cidades.
“A mudança dos hábitos e comportamentos dos cidadãos evidenciada nas smart cities, reflete-se também na mobilidade do futuro que será mais multimodal e sustentável, com a crescente descarbonização dos serviços de mobilidade, o reforço do transporte público e a emergência da mobilidade partilhada, esta última agora temporariamente condicionada pela pandemia de Covid-19”.