Há dez meses que não se via igual. A procura dos serviços de urgência hospitalares disparou na passada segunda-feira. Houve mais de 34 mil episódios de urgência, um número recorde desde que a covid-19 chegou ao país e afastou as pessoas dos hospitais.

Foi uma das segundas-feiras mais complicadas nos serviços de urgência hospitalares de norte a sul desde que a pandemia se instalou no país.

No total, o número estimado de episódios de urgência atendidos ontem atingiu os 34.204, segundo o Portal do SNS. O gráfico, que faz a monitorização diária da procura dos serviços, revela que desde 2 de março de 2020 (data do primeiro diagnóstico de covid) que o número não era tão elevado (35.552). O valor total reflete o somatório dos episódios dos serviços de urgência e uma estimativa daqueles atendimentos nos hospitais que não reportaram informação.

Os números condizem com o cenário vivido ontem em vários hospitais, sobretudo na região de Lisboa e Vale do Tejo que esteve sob grande pressão.

No Hospital de Santa Maria, que integra o Centro Hospitalar Lisboa Norte, viveu-se ontem um dos dias mais complicados no Serviço de Urgência desde o início da pandemia. No total, foram registados 462 episódios, número que chegou a ser superado (por pouco) em dois dias de outubro, revelou ao JN fonte hospitalar.

Ao que o JN apurou, houve mais do que um hospital a pedir ao Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) do INEM para não enviar mais doentes e referenciar para outras unidades.

No Hospital Fernando da Fonseca (Amadora-Sintra) os problemas começaram entre o Natal e o Ano Novo. A procura da urgência aumentou 25%, provocando demoras no atendimento.

No Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, a direção admitiu que as camas nos cuidados intensivos esgotaram e que estavam doentes a aguardar vaga na urgência.

Dezembro teve dias piores no S. João

Na maior unidade do Norte, o Jospital de S. João, no Porto, a pressão sentiu-se, mas já houve dias piores. Segundo apurou o JN junto de fonte hospitalar, ontem houve um total de 432 admissões na urgência, número que já foi superado pelo menos três vezes em dezembro, sendo o que dia 28 foi o pior do mês com um total de 449 episódios de urgência.

A elevada afluência às urgências é habitual nesta época do ano, por causa do frio e da gripe. Este ano praticamente ainda não há gripe, segundo o último boletim do Instituto Ricardo Jorge, mas o aumento do número de novos casos de covid-19 está a pressionar os serviços. A necessidade de manter os circuitos separados e o distanciamento entre camas traz dificuldades acrescidas aos hospitais.

Ontem de manhã, o responsável do Serviço de Urgência e de Medicina Intensiva do Hospital de S. João alertou para o aumento de casos de covid-19 a chegarem às urgências. Nelson Pereira disse que o hospital voltou a ter mais de cem casos suspeitos diários, tal como no final de novembro e início de dezembro, e que 25% a 30% são positivos, o que é um primeiro sinal de alerta para o recrudescimento da pandemia.