Era a voz dos pescadores e o homem a quem devem o respeito de Lisboa. José Festas morreu, esta terça-feira, aos 58 anos. O presidente da Associação Pró-Maior Segurança dos Homens do Mar tinha tido um AVC hemorrágico no final de novembro. Estava internado desde então. Esta manhã, não resistiu.

A 26 de dezembro de 2006, seis pescadores das Caxinas, Vila do Conde, perderam a vida no naufrágio do “Luz do Sameiro” a 50 metros da costa, na Praia da Légua, em Alcobaça. Durante cinco horas, agarrados ao barco, esperaram cinco horas por um socorro que tardou em chegar. Morreram quase “em direto”. José Festas deu voz à revolta do povo. O pescador humilde das Caxinas, “terra a terra”, pouco habituado a burocracias, protocolo e etiqueta, foi sozinho a Lisboa e exigiu ser, pessoalmente, recebido por ministros e Presidente da República. Gritou bem alto, sem vergonha de não saber falar “caro”. Apanhada de surpresa, a classe política tremeu.

Ele, que tinha começado no mar aos nove anos, num velho barquinho de madeira, filho e pai de pescadores, deixou o mar para fundar, meses depois, a Associação, que no próximo dia 17 faz 14 anos. A pesca passou a ser ouvida e o “mestre”, como todos lhe chamavam, era, para todos, o “bombeiro” de serviço: tratava de burocracias, dava apoio jurídico, ouvia, berrava com Lisboa, fosse a exigir dragagens ou mais investimento na segurança, era o primeiro a chegar quando a tragédia batia à porta, fosse a Norte ou a Sul.

O socorro mudou. Ganhou lanchas, helicópteros, mais e melhores equipamentos nos barcos de pesca. A “Pró-Maior” colocou a segurança na ordem do dia. José Festas conquistou o respeito da classe política.

Em 2017, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, condecorou a Associação como Membro Honorário da Ordem do Mérito.

Em outubro, viu lançado um novo plano de dragagens para o porto poveiro. Em fase final de construção, José Festas deixou ainda um desejo antigo dos homens do mar: os novos armazéns à entrada da marina da Póvoa. São 114 espaços para guardar aprestos de pesca, bar, cozinha comunitária, balneários, uma loja e a nova sede da “Pró-Maior”.

A 29 de novembro, um dia depois de completar 58 anos, José Festas sofreu um AVC. Esta terça-feira faleceu, mas deixa a certeza de que a pesca não mais será a mesma.