Componente que pesa mais de 20 toneladas está em rota descendente, fora de controlo e há o receio de que possa despenhar-se numa zona habitada, entre Nova Iorque e a Nova Zelândia.

Um pedaço do foguetão usado pela China para o lançamento da sua Estação Espacial está em rota descendente, em direção à Terra, e pode despenhar-se numa zona povoada. O componente, de mais de 30 metros de altura e 20 toneladas de peso, deve cair provavelmente em águas oceânicas, mas a trajetória errática que está a apresentar faz surgir o receio de que possa cair mais a norte, em Nova Iorque, ou mais a sul, na Nova Zelândia, atingindo zonas habitadas.

O foguetão foi usado para o lançamento do primeiro módulo Tianhe, da iniciativa chinesa para construir a sua própria Estação no espaço e deve fazer a reentrada na Terra entre 9 e 10 de maio. A comunidade científica está a monitorizar o CZ-5B, o nome do foguetão, e constata-se que os responsáveis espaciais da China não estão a conseguir realizar as manobras de ‘desórbita’ controlada, que são habituais neste tipo de regressos, noticia o Vice.

A situação não é inédita, uma vez que já na estreia do CZ-5B, em maio de 2020, a reentrada foi feita de forma descontrolada e os vestígios foram recolhidos em vilas perto da Costa do Marfim, felizmente sem ter provocado feridos ou fatalidades. Na altura, Jim Bridenstine, o administrador da NASA, confessou à SpaceNews que “pareceu um lançamento de sucesso, até começarmos a receber informações do regresso de uma peça do foguetão, numa reentrada bastante perigosa. Sobrevoou centros populacionais e reentrou na atmosfera. Podia ter sido bastante perigoso. Tivemos sorte no sentido em que aparentemente não causou feridos”. Também há algumas semanas, o foguetão do Falcon 9 da SpaceX fez uma entrada descontrolada numa zona do estado de Washington. O componente chinês, no entanto, é sete vezes maior que o módulo da SpaceX, o que causa naturalmente mais preocupação.

George Dvorsky, do Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian, dá voz às críticas feitas aos chineses: “Pesam mais de 20 toneladas. Já é prática habitual há mais de 30 anos no resto do mundo não deixar objetos tão grandes – nem com metade deste tamanho – em órbita sem ‘desórbitas’ controladas”.

O recorde deste tipo de práticas pertence aos EUA, mas data de 1979, quando a estação Skylab, de 79 toneladas, despenhou-se com vestígios entre o oceano Índico e a Austrália.