Évora felicita Pichardo e este responde: “Já ganhou tudo, porque não me deixa fazer a minha carreira?

“Não falo mal do Nelson, não quero levar o assunto para problemas pessoais. Há anos que fala de mim e não respondo. Já ganhou tudo, porque não me deixa a mim fazer a minha carreira?”, atirou.

o português Nelson Évora, campeão no triplo salto em Pequim2008, felicitou esta quinta-feira Pedro Pablo Pichardo pela conquista da medalha de ouro na mesma especialidade nos Jogos Olímpicos Tóquio2020, a quarta de Portugal na competição.

“Muitos parabéns, Pedro”, lê-se na publicação temporária de Nelson Évora, na sua página oficial na rede social Instagram, acrescentando “bingo para Portugal”, aludindo à conquista da quarta medalha lusa, uma de ouro, uma de prata e duas de bronze, em Tóquio2020.

A relação entre os dois nunca foi boa. Tudo começou porque Évora foi contra a naturalização do cubano, considerando-a mesmo “um ataque pessoal”. Pichardo optou sempre pelo silêncio, mas esta quinta-feira, depois de vencer o ouro, falou do assunto em conferência de imprensa, não disfarçando que de facto que a relação entre ambos não é nada boa.

Sobre a eterna polémica com Nelson Évora, campeão olímpico na disciplina em Pequim2008 e que se despediu em Tóquio2020 na qualificação, declarou que a confusão lhe trouxe ofensas e “faltas de respeito”, além de insultos e mentiras, também pela “confusão do Sporting e do Benfica” que vem da altura em que chegou a Portugal.

“Não tenho falado mal do Nelson. Há pouco enviaram-me o ‘link’ sobre o Nelson falar do abraço. (…) Não falo mal do Nelson, não quero levar o assunto para problemas pessoais. Há anos que fala de mim e não respondo. Já ganhou tudo, porque não me deixa a mim fazer a minha carreira?”, disparou.

Escolheu Portugal, disse, até quando tinha outras propostas, e lembrou o pai, colocado à parte em Cuba, razão pela qual saíram do país e não podem voltar, que deve estar feliz, mas também ele “para dentro”.

Pichardo lembrou a avó, que já morreu, em quem pensa sempre que salta, e explicou que os momentos de prece que foi tendo entre saltos, da sua religião ioruba, são “rituais” antes e durante da competição, para pedir “força e que saia saudável”.

Em Cuba, em que há quem o veja e ao pai como ‘traidores’, deixou “a família e a língua”, porque agora faz “parte dos cinco portugueses campeões olímpicos”, ao lado de Carlos Lopes (1984), Rosa Mota (1988), Fernanda Ribeiro (1996) e Nelson Évora (2008).

“Estou há quatro anos a trabalhar para dar medalhas a Portugal. Ouvir que um português não é feliz porque um estrangeiro chega ao país e se sente feliz por representá-lo… é complicado. Moro em Portugal, a minha filha nasceu lá, vou continuar e não vou voltar. Mesmo assim, há portugueses que não se sentem felizes que um atleta como eu more lá. É um bocado ingrato”, admitiu.

De resto, está pronto para “cantar o hino hoje”, na cerimónia de pódio, algo que sabe fazer já “há algum tempo”. “O único problema é o sotaque”, brincou.

Festejou, no estádio, com “todos os portugueses que lá estavam, eram fáceis de identificar pelo polo vermelho”, e tem “sentido o calor, na Aldeia [Olímpica] e por mensagens”, mesmo que alguns “continuem a falar por ser luso-cubano, daquelas confusões”.