Numa extensa análise sobre os mais recentes resultados de André Ventura nas sondagens sobre o sentido de voto dos portugueses nas próximas legislativas, o diário britânico Financial Times (FT) assinala como o Chega parece “emergir assim como terceiro partido político”. Um resultado que, lê-se no artigo, “poderá dizimar a ideia – acarinhada por muitos portugueses até muito recentemente – de que o país é imune ao populismo de extrema-direita”. 

“Não haverá governo de direita sem o Chega”, disse mesmo Ventura aos seus apoiantes na mais recente ação de campanha, salienta ainda o FT, para depois recordar que o partido foi fundado há menos de três anos e tem em Ventura o seu único rosto conhecido. Agora, aos 39 anos, este “filho de um proprietário de uma loja de bicicletas em Lisboa, que estudou Direito e trabalhou como inspetor tributário”, fala mesmo em “tornar-se vice-primeiro-ministro, num governo liderado pelos social-democratas”, prossegue o FT.

Isto tudo passe a série de “propostas controversas”, lê-se ainda, exemplificando os casos da “prisão perpétua por crimes violentos”, a “castração química de pedófilos”, uma “taxa única de imposto sobre o rendimento” e ainda “uma redução significativa na dimensão do Parlamento”.

Mas não só. Afinal, recorda-se, Ventura fez ainda da corrupção “um tema constante”, argumentando que “estes ladrões roubam o nosso país há décadas”, e, embora Portugal não tenha “problemas de imigração significativos”, reconhece-se também, isso não evitou que procure “estigmatizar a pequena comunidade cigana do país”. Algo que, como se remata no retrato, levou a que fosse multado pelo Comité Português sobre Discriminação Racial.

Para reforçar a alegação de que, afinal, “Portugal não está imune ao populismo”, o FT recorda ainda que Ventura recebeu Marine Le Pen, a líder da extrema-direita em França, durante a campanha para as presidenciais do ano passado – em que também se apresentou como candidato. E ainda Santiago Abascal, líder do partido de extrema-direita espanhola Vox. Ainda em 2020, assinala-se também, o Chega aceitou um convite para se juntar à Identidade e Democracia, um grupo de extrema-direita no Parlamento Europeu.

O resto são números que falam por si: com apenas 1,4 por cento dos votos em 2019, Ventura alcançou os 12 por cento nas presidenciais, e agora, segundo as sondagens, o seu partido por ultrapassar mesmo os 6 por cento, reforçando-se como (possível!) terceira força política portuguesa.